segunda-feira, 30 de maio de 2011

Folha: TCU vê indícios de fraude e pagamento a “funcionários fantasmas” em obra do PAC

Suspeita é que governo tenha pago R$ 27,5 mi a funcionários "fantasmas" na transposição do rio São Francisco. Acionada pelo tribunal, a Integração Nacional afirma não ter controle sobre o envio de dados do consórcio contratado

BRENO COSTA
DE BRASÍLIA

O TCU (Tribunal de Contas da União) encontrou indícios de fraude de R$ 29,9 milhões na execução do contrato de gerenciamento de uma das principais obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a transposição do rio São Francisco.

Do valor calculado pelos técnicos do tribunal, em relatório aprovado em abril, R$ 27,5 milhões (92%) foram pagos pelo Ministério da Integração Nacional para provavelmente remunerar profissionais "fantasmas".

"Há a possibilidade de que, teoricamente, os profissionais constantes dos boletins de medição não tenham sido contratados de fato", afirma o relatório -o primeiro a apontar problemas na execução física da obra.

A conclusão do TCU veio ao cruzar dados com nome e remuneração de profissionais contratados, enviados pelo consórcio Logos-Concremat à Integração Nacional, com listas enviadas ao Ministério da Previdência Social com os valores pagos a cada funcionário.

Segundo o TCU, R$ 21,4 milhões foram pagos ao longo do contrato a trabalhadores listados nos documentos entregues à Integração Nacional, mas que nunca foram localizados nos registros da Previdência.

"Conclui-se que o Ministério da Integração Nacional pagou por postos de trabalho sem o mínimo de informações necessárias que comprovassem a regularidade da situação ou servissem de controle por parte do ministério", afirma o TCU.

Outros R$ 6,3 milhões referem-se a vencimentos de trabalhadores que não foram identificados nominalmente pelo consórcio e que, por isso, não são localizados nos documentos da Previdência.

Os demais R$ 2,2 milhões são relativos a profissionais não encontrados nos registros da Previdência em algumas medições.

O TCU avalia que essas constatações são "grave indício de que ela [a contratada] estaria irregular quanto às suas obrigações tributárias".

Ao tribunal o ministério -à época comandado por Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), hoje em uma das diretorias da Caixa Econômica- afirmou que não competia ao órgão fazer o cruzamento entre as listas, mas só verificar o andamento do contrato.

"Não é suficiente receber as informações da GFIP [listas enviadas à Previdência] apenas por formalidade sem que haja alguma fiscalização sobre a sua veracidade e consistência", diz o TCU. "Como pode haver segurança de que o número referente aos profissionais alocados em determinados serviços, informado pela contratada, corresponde à realidade?"

O tribunal determinou que o ministério tome providências até dia 20 para que o valor seja ressarcido à União.

Ministério afirma que vai apurar, e consórcio nega irregularidade

DE BRASÍLIA

O Ministério da Integração Nacional afirmou que o órgão decidiu abrir um "processo administrativo interno para cumprimento das exigências" do TCU, com garantia do "direito à defesa e ao contraditório".

Na nota enviada à Folha, a Integração Nacional afirma que uma comissão interna foi criada para a "avaliação dessas medidas" e que, "nos próximos dias", contratará especialistas para "estudar detalhadamente a questão".

O ministério afirma, porém, que a decisão do TCU pode sofrer "reflexos" devido a uma decisão contestada pelo mesmo consórcio Logos-Concremat sobre outro edital, de um novo contrato do consórcio com a Integração Nacional, assinado em 2009.

Sobre a conclusão do TCU de que o ministério não tomou procedimentos para evitar as supostas irregularidades, a Integração Nacional repetiu argumentos já apresentados ao tribunal.

"Os pagamentos somente são feitos desde que os elementos comprobatórios apresentados pelo consórcio estejam de acordo com as exigências contratuais."

O consórcio Logos-Concremat negou qualquer irregularidade na execução do contrato e afirmou que "o serviço em questão foi plena e satisfatoriamente executado dentro dos parâmetros estabelecidos no contrato".

O consórcio não respondeu à Folha o motivo da diferença de nomes de profissionais nas listas entregues aos ministérios. "O consórcio nega as irregularidades apontadas e está certo de que tudo será esclarecido na defesa a ser apresentada agora no âmbito do processo."

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