AGUIRRE TALENTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar de ter tirado cerca de 600 mil pessoas da pobreza extrema na última década, o Maranhão ainda é o Estado que tem maior parcela da população vivendo com até R$ 70 mensais. É 1,7 milhão, de acordo com o último Censo, o que representa 25% dos 6,5 milhões de maranhenses.
A pobreza é evidenciada pela infraestrutura deficiente. O esgotamento sanitário, por exemplo, cobre só 12% dos domicílios e a coleta de lixo alcança só 25% deles.
O desenvolvimento econômico do Maranhão se sustentou em atividades concentradoras de riqueza, por isso os baixos níveis de renda, avaliaram especialistas ouvidos pela Folha. As suas bases são o agronegócio (baseado na soja), a pecuária bovina e a indústria de ferro.
A atual governadora é Roseana Sarney (PMDB), filha do presidente do Senado, José Sarney (PMDB). Ela está em sua quarta gestão no Estado, que também foi governado pelo próprio Sarney de 1966 a 1971. Os governadores seguintes foram eleitos com seu apoio, à exceção de Nunes Freire (1975-1979). A maioria deles, porém, rompeu com Sarney ao longo de suas gestões, mas foram sucedidos por aliados da família do senador.
Acusado de comandar a política no Estado, Sarney afirma não ter mais influência. A atual governadora diz que está investindo em infraestrutura para desenvolver o Maranhão.
Os pesquisadores avaliam que a melhoria de renda obtida na última década deve-se, em boa parte, às políticas do governo federal, como as transferências de renda e os ganhos do salário mínimo.
A retomada do crescimento maranhense após uma estagnação na década de 90 também ajudou. O PIB estadual cresceu a altas taxas, mas a distribuição dessa riqueza é o principal gargalo.
"Nosso mercado de trabalho é muito precário, não insere a população e os rendimentos são baixos", diz Maria Ozanira, coordenadora de grupo de pesquisa sobre pobreza na Ufma (Universidade Federal do Maranhão).
INFORMALIDADE
Dados de 2009 do IBGE mostram que 45% dos trabalhadores maranhenses são informais ou não têm a carteira de trabalho assinada.
Em estudo de 2008 no qual analisa a economia do Estado, o economista Benjamin de Mesquita, da Ufma, afirma que falta "comprometimento com o desenvolvimento local dos governos que se sucedem".
Um dos exemplos citados pelos estudiosos para ilustrar a questão é a Lei de Terras, aprovada em 1969, durante o governo Sarney, que alavancou o agronegócio, mas limitou a agricultura familiar. "A lei vendeu terras do Estado para grandes projetos agropecuários e causou uma concentração fundiária", diz o historiador Wagner Cabral, da Ufma.
A pobreza também é uma herança histórica: existem 527 comunidades remanescentes de quilombos no Maranhão, totalizando 1,3 milhão de pessoas, e 35 mil indígenas. Os quilombolas ainda lutam pela posse de seus territórios, mas é um processo demorado no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
O agronegócio já ocupa quase o dobro do espaço da agricultura familiar: 8,4 milhões de hectares contra 4,5 milhões de hectares, respectivamente, de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE (2006). No entanto, a agricultura familiar é a fonte de renda de 850 mil pessoas, enquanto o agronegócio emprega apenas 133 mil.
Tampouco a indústria é intensiva em mão de obra: são 332 mil empregados, de acordo com a Federação das Indústrias do Maranhão.
O resultado desse cenário todo é que, dos 20 municípios com menor renda média do Brasil, 14 são maranhenses. No Estado, o rendimento médio mensal domiciliar, por pessoa, é de R$ 404,99, o menor do Brasil.
OUTRO LADO: Segundo Sarney, terras do Estado não são boas
O presidente do Senado e ex-governador do Maranhão, José Sarney, afirma que não tem mais influência política no Estado e ressalta ter desenvolvido a infraestrutura durante sua gestão.
"Não comando o Maranhão há 46 anos. Desde 1978 não disputo uma eleição no Estado. Dez governadores me sucederam nesses 41 anos. Não mandei em nenhum deles", afirmou Sarney em nota enviada à Folha.
O ex-governador cita como razões para a pobreza a existência de alta parcela da população vivendo na zona rural (36% segundo o último Censo, a maior do Brasil) e os parcos recursos naturais do Estado. "Suas terras não são boas, além de não termos nenhuma riqueza mineral, baseando toda sua economia tradicional numa atividade mercantil e agrícola de subsistência", afirma.
A atual governadora, Roseana Sarney, diz estar investindo em infraestrutura e formação profissional para alavancar a economia. "Investi em infraestrutura, criei centros tecnológicos, construí e pavimentei mais de 4.000 km de estradas, criei programas inovadores como o Primeiro Emprego e o Viva Luz, assentei mais de 40 mil famílias", afirmou, em nota enviada pela Secretaria de Comunicação do Estado.
De acordo com a governadora, há um processo de atração de novas indústrias, incentivado por isenções fiscais, que deve aumentar a mão de obra empregada no setor. Ela cita como exemplo a construção de refinaria da Petrobrás, fábrica de celulose da Suzano, grupos de mineração e usinas termelétricas, dentre outros investimento previstos. A estimativa é que gerem 250 mil empregos, para os quais foi lançado um programa de capacitação profissional, com o objetivo de qualificar os maranhenses para ocupar essas vagas.
Roseana diz ainda que a Lei de Terras, aprovada no governo de seu pai, dava garantias para que posseiros mantivessem suas terras, mas que os sucessores de Sarney modificaram a legislação e, assim, permitiram a ocupação das terras pelo agronegócio.
Eles ressaltam que o Estado é a 16ª economia do Brasil e que a pobreza está calcada em razões históricas. "Os equipamentos de infraestrutura que refletem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) requerem muito mais recursos do que aqueles de que dispomos. Temos projetos que estão sendo encaminhados ao governo federal dentro desse esforço da presidente Dilma de erradicação da pobreza", afirmou Roseana.
Leia o especial "Brasil com Miséria", na Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/especial/2011/caradapobreza/
São duas as raz~es da pobreza da população maranhense e ambas estão vinculadas à mesma causa: desmandos e abusos de toda ordem de grupos coronelistas oligaáquicos que, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, se apossaram do Estado como se fosse ele uma fazenda ou um feudo privado.
ResponderExcluirAssim, não houve espaço para a escolarização e desenvolvimento das potencialidades locais... É próprio dos oligarcas acharem que as soluções estão fora e acima do Maranhão. Ao contrário, qualquer inteligência mediana sabe as verdadeiras soluções são locais, a começar pelos municípios, cujos entendentes, historicamente não passaram de lacaios do palácio da capital. E tudo devidamente alimentado pelos rotos coronéis Vitorino e Sarney. Se os valores das transferências federais (já que nossas municipalidades não dispõem de renda própria) fossem gastos no próprio município e a favor de sua população; só isso já representaria uma verdadeira revolução social, econômica e política. Pena que é usado na aquisição de terras, apartamentos e automóveis de luxo, em geral fora das cidades de origem do recurso; sem falar que os prefeitos devem guardar um certo montante dos poucos recuros locais para bancar as campanhas eleitorais de deputados, senadores e governadores que, por sua vez emprestam apoio, inclusive jurídico aos respectivos lacaios , fechando assim, o próspero, alegre e vicioso circulo montado lá se vão três quartos de século.
Sarney é hoje "il capo" desse perverso sistema que se expressa nos números que o eloquente jornalista Gilberto Lima apresenta ao debate. Mas Sarney (cujo fim está próximo, graças a Deus) deixa seguidores convictos (verdadeiros fundamentalista)da necessidade de manutenção dessa fábrica de miséria, encravados em todos os municípios, em todas as trincheiras. Removê-los exigirá uma luta sem trégua algumas décadas. Não será tarefa de um homem ou de um governo só. Mas não é impossível. Abaixo todo sistema de privilégio de poucos.
Queremos um Maranhão verdadeiramente de todos os maranhenses.
À luta, portanto.
Antonio Neto, 46 anos - professor (e-mail: ansneto@hotmail.com)
Vc só esqueceu de esclarecer que esses resultados sao referentes a 2009 ano em que o MA se libertou da oligarquia dos balaios que passaram 7 anos no poder e deixaram o MA nesse estado deplorável, cheio de dívidas, sem investimentos e muitas falcatruas. Roseana pegou o estado falido em abril e não dava pra consertar todos os roubos e estragos causados pela oposição em menos de 8 meses restantes de 2009
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