Ministério Público Militar usa artifício
jurídico para driblar Lei da Anistia
MIRIAM LEITÃO
CLÁUDIO RENATO, ESPECIAL PARA O GLOBO

- O Supremo Tribunal Federal equiparou o
desaparecimento forçado, quando é feito por agentes do Estado, ao crime de
sequestro, que permanece. Só se encerra quando aparece a pessoa ou o corpo. O
crime aconteceu antes de 1979, mas será que terminou antes de 79? Como essas
pessoas, inclusive Rubens Paiva, continuam desaparecidas, o raciocínio jurídico
é que o sequestro continua em curso. Se o corpo aparecer, então é crime de
ocultação de cadáver.
Ele sustenta, com base nisso, que nesses
casos não se aplica a Lei da Anistia, que encerrou os crimes praticados antes
de 1979. Bravo está tentando recuperar no Supremo Tribunal Militar arquivos
antigos, como o inquérito de 1986 sobre o caso Rubens Paiva. Ele foi aberto
logo após a redemocratização. Os militares pressionaram e, por decisão da
Procuradoria Geral Militar na época, o inquérito foi arquivado. Bravo ainda não
obteve os originais desse inquérito.
Procurador
quer documentos das Forças Armadas
Para apurar o caso de Carlos Alberto, o
Beto, o promotor ouviu como testemunha Inês Etienne Romeu, que, milagrosamente,
sobreviveu à Casa da Morte e, depois, conseguiu localizar o imóvel. Ela
declarou que ouviu dos militares que estavam lá que Beto desapareceu na Casa.
- Mandei um documento aos comandos
militares pedindo informações e todos os documentos existentes sobre a Casa da
Morte. Os comandantes militares entendem que ainda têm status de ministros e me
informaram que eu não podia requisitar. Encaminhei o pedido à Procuradora Geral
da Justiça Militar, que enviou o pedido. Eles responderam que não há informação
- diz o procurador.
O promotor acha que há documentos dentro
das Forças Armadas sobre esses fatos ou, pelo menos, informação sobre como
foram destruídos.
- O militar destruir documento é crime.
Quando um militar destrói um documento, ele tem que fazer um termo explicando a
decisão.
Bravo foi a primeira autoridade a ouvir,
após 40 anos, Eliana Paiva, uma das filhas de Rubens, que, aos 15 anos, foi
presa, agredida e interrogada no DOI-Codi, no dia seguinte à prisão do pai.
Portanto, testemunha-chave.
- Nem no IPM de 1986 a Eliana foi
ouvida. Isso é inacreditável - comenta o promotor.
Bravo lamenta que o Brasil tenha a
“mácula” de ser o único país da América Latina que não investigou crimes do
regime de exceção, mas diz estar confiante com a instalação da Comissão da
Verdade. O promotor de 43 anos, filho e neto de militares, rejeita o argumento
de que há dois lados a serem investigados.
O programa “Espaço Aberto” sobre Rubens
Paiva, exibido nesta quinta-feira na Globo News, será reapresentado nesta
sexta-feira às 16h05m; sábado às 0h30m e domingo às 19h05m.
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