Salgados seriam vendidos em casas,
clínicas e salões, no Agreste de PE.
Trio suspeito de homicídios revelou à
polícia que usaria carne das vítimas.
Vitor Tavares
Do G1 PE
Após o trio investigado por homicídios e
ocultação de cadáveres em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, declarar para a
polícia, em depoimento, que vendia salgados recheados com carne humana, as
primeiras pessoas que teriam consumido os produtos começam a revelar como uma
das mulheres agia para vender as comidas. De acordo com os moradores, o
comércio de alimentos como empadas e coxinhas estaria prejudicado na cidade
após os suspeitos contarem que fabricariam lanches com a carne das vítimas.
Uma agente administrativa de 26 anos
acredita ter comido uma das empadas vendidas pela mulher que integrava o trio.
Quando o caso apareceu na mídia, a cliente, que não quis se identificar,
reconheceu uma das suspeitas. “Eu estava num consultório médico quando ela chegou
oferecendo a empada. Era a senhora mais idosa”, relata. Na última quarta-feira
(11), duas mulheres e um homem foram presos e os corpos de duas vítimas foram
encontrados enterrados no quintal da casa onde eles viviam.
O episódio da compra das empadas
aconteceu cerca de dois meses atrás. A agente administrativa conta que a
vendedora insistiu, alegando que precisava de dinheiro para comprar um remédio
controlado. “Todo mundo que estava na sala de espera acabou comprando para
ajudar. Não notei nada de diferente, até porque tinha pouco recheio. Chego a me
perguntar se realmente era [carne humana]. Senti um mal estar quando me dei
conta, ao saber que posso ter comido isso”, afirma ela. Depois disso, a jovem
conta que viu várias vezes a suspeita nas ruas, sempre vendendo lanches.
A suspeita de participar dos homicídios
vendia os salgados em locais como clínicas e salões de beleza na cidade,
principalmente na região próxima de onde morava. Cristiane Lima, de 29 anos, é
dona de um salão em que a mulher ia frequentemente vender as comidas. “Desde
dezembro que ela vendia empadas aqui. A maioria dos clientes comprava e não
chegava a reclamar, alguns achavam mais ou menos. Uma vez, teve duas clientes
que acharam muito salgado e não terminaram de comer. Ela dizia que era empada
de frango”, lembrou. O produto seria vendido por R$ 0,50 ou R$ 1.
A suspeita costumava ir até o salão de
Cristiane aos sábados, sempre dizendo que estava vendendo para comprar remédios
para um filho doente. “A empada era novinha, bem feita, e chegava bem quentinha
aqui, até porque ela morava perto. As pessoas compravam mesmo, estava todo
mundo com fome. Tinha vezes que ela vendia até dez empadas aqui”, falou. A
cabeleireira teria chegado a provar o salgado, mas não comeu por completo.
“Achei muito salgado e na hora o salão estava cheio, não deu nem tempo de
comer”.
Diferente de Cristiane, uma manicure de
48 anos, que também não quis se identificar, teria comido a empada por
completo. “Um dia, uma cliente nossa comprou para a gente lanchar, todo mundo.
E eu até incentivei, para ajudar e porque estávamos todos com fome. Ela dizia
que era light e de frango. Não percebi diferença que seria de carne humana, só
estava muito salgada”. Por sofrer de pressão alta, a mulher não teria comprado
o produto outras vezes. “Se eu não tivesse esse problema, provavelmente
compraria de novo, nunca ia adivinhar. Ela chegava como coitadinha, dava
pena.”, disse.
A manicure contou que o comércio da
cidade já sente alguns efeitos negativos por conta do caso. "Vai demorar
muito para a população esquecer isso. Isso é coisa que a gente pensa que só
acontece na televisão, nos Estados Unidos, a gente nunca ia saber que o inimigo
estava do nosso lado. Muitos comerciantes estão sofrendo com isso, porque a
população não está mais comprando salgadinhos na cidade", contou.
Os filhos de Cássia Vaz, de 26 anos, que
é funcionária pública, também não estão comendo mais salgados na cidade . Ela
chegou a comprar 10 empadas de uma vez, quando a suspeita vendia na porta de
sua casa. “Não tinha sabor de empada, não tinha tempero. Eu achava estranho,
porque era meio ligada, achava meio pastosa, mas acabava comprando”, concluiu.
Criança
A Justiça aguarda o resultado dos testes
de DNA feito em duas pessoas que se apresentaram à polícia como parentes da
criança de cinco anos que vivia com o trio suspeito. O teste deve ficar pronto
em 20 dias. Enquanto isso, a criança permanece em uma instituição de
acolhimento em Garanhuns. Se não houver comprovação de parentesco, a menina
será inserida no cadastro nacional de adoção.
A juíza responsável pelo caso explicou
que duas certidões de nascimento da criança foram encontradas, informando pais
e avós diferentes. Em uma delas, o suspeito é apontado como o pai. De acordo
com investigações policiais, a menina seria filha de uma mulher assassinada
pelo trio em Olinda, no ano de 2008. Uma das suspeitas assumiu que usava o nome
dessa mulher e dizia que a criança era filha dela.
Seita
De acordo com a polícia, os suspeitos
falaram que faziam parte de uma seita, que pregava a purificação do mundo e a
diminuição populacional, matando três mulheres por ano. O homem suspeito de
comandar o trio nos assassinatos fez um livro, ilustrado e registrado em
cartório, onde conta detalhes dos crimes e da vida dele.
A polícia começou a desvendar o crime
quando encontrou os restos mortais das mulheres na residência deles. Um dos
dois corpos seria de uma mulher desaparecida desde fevereiro; o outro, de uma
mulher de 20 anos, que sumiu no dia 15 de março. Depois de as famílias das
vítimas prestarem queixa, a polícia localizou o trio quando uma fatura de
cartão de crédito chegou à casa de uma das vítimas. Imagens das câmeras de
segurança de lojas onde as compras foram efetivadas mostravam os suspeitos.
As vítimas também teriam sido vistas
perto da casa dos investigados antes de desaparecerem. A polícia conseguiu
mandados de prisão e de busca e apreensão e, ao ser abordada, uma das mulheres
teria assumido os crimes e revelado o local onde os cadáveres estavam
enterrados. Segundo a polícia, a menina de cinco anos que morava com o trio,
testemunhou os crimes cometidos na casa. Em depoimento, ela contou que o pai
teria cortado o pescoço das mulheres assassinadas.
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