
Confira a reportagem é de Eduardo
Faustini.
Você já viu um papel higiênico todo
estampado com notas de dinheiro? E ainda por cima dinheiro europeu?
“Foram retirados quase R$ 20 milhões.
Não chega a R$ 20 milhões”, conta Carla Ubarana Leal, funcionária do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Norte.
O papel higiênico foi encontrado pela
polícia em um dos imóveis de Carla. Mas os R$ 20 milhões que ela menciona não
foram jogados no vaso sanitário. É tudo dinheiro de verdade – dinheiro público
– desviado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. E, segundo Carla, os
cerca de R$ 20 milhões roubados foram divididos entre ela e dois
desembargadores. “Entreguei a desembargador Osvaldo Cruz e entreguei a
desembargador Rafael Godeiro”, revela.
Com a parte dela no esquema, Carla e o
marido dela compraram, entre outras coisas, uma mansão na beira do mar.
“Ela tem, como diz meu marido, mais de
dois mil metros só de grama”, diz Carla.
“Coloquei 33 ipês, que vieram de
Fortaleza”, diz George Leal, marido de Carla.
O marido de Carla se chama George Leal.
É dono de uma pequena construtora e, segundo a Justiça, montou o golpe com ela.
Em depoimento ao Ministério Público do Rio Grande do Norte, ele conta como o
casal foi torrando a dinheirama.
Ministério Público: O que o senhor e a
sua esposa adquiriram de bens com esse dinheiro?
George Leal: Eu fiz uma pequena listagem
rápida. Viajar, melhorar os carros e fazer investimentos imobiliários.
Eles falam com orgulho do que adquiriram
com o dinheiro desviado.
“A piscina, na borda do terraço, tem
medida oficial de piscina olímpica: tem 25 (metros) por 4 (metros), ela tem
duas bordas e água aquecida”, descreve George Leal no depoimento.
“A Mercedes nem fui eu que comprei. Foi
meu marido. Nem eu andava na Mercedes”, diz Carla.
O modelo que eles compraram custa R$ 650
mil.
“É aquele que faz o Safety Car da
Formula 1”, diz George Leal.
E os celulares? A dupla tinha um modelo
exclusivo, que já fio usado por celebridades como a cantora Madonna e o jogador
de futebol David Beckham.
Ministério Público: Aparelhos celulares
que se encontram apreendidos nesse processo foram comprados com os recursos
desviados do tribunal?
George Leal: É 6 mil euros um, 7 mil
euros outro.
Ou seja, os modelos de Carla e George
custaram o equivalente a R$ 33 mil. A lista parcial dos bens apreendidos é a
seguinte: seis automóveis de luxo, que juntos custam mais de R$ 1 milhão; uma
mansão na praia, no valor de R$ 3 milhões; dois terrenos; duas casas; um
apartamento; e dois celulares importados. A soma passa dos R$ 6 milhões. O
restante ela chama de “troco”. É que a farra não aconteceu só no Rio Grande do
Norte.
“Tinha alguns euros e alguns francos
suíços que foram trocos das viagens. Acho que deu em torno de R$ 230 e R$ 250
mil. Não sei como é que ficou a conversão na época do euro e do franco suíço”,
diz Carla.
Ministério Público: O senhor estima que
gastou mais ou menos quanto, em viagens, nesse período?
George Leal: De cabeça, R$ 1,25 milhão.
Nas últimas viagens, principalmente, os hotéis eram muito luxuosos.
“Ficamos no Plaza Athenée. Como meu
marido colocou muito bem no depoimento dele, em um dos cinco palácios de
Paris”, ressalta Carla.
George Leal: Chegamos a ficar numa
diária de R11 mil euros, de frente para a torre.
Ministério Público: E passavam quantos
dias lá?
George Leal: Em média, oito, nove dias.
Somando tudo, o equivalente a R$ 255 mil
só de hospedagem e numa única viagem.
“Tivemos a oportunidade de ficar em uma
suíte onde havia duas salas. Era champanhe”, diz Carla.
Mas como todo esse dinheiro foi desviado
do tribunal? A palavra-chave é precatório. Precatório é o nome do dinheiro que
o estado, o município ou uma empresa pública têm que pagar na Justiça quando
perdem uma ação.
“Ninguém domina precatório. E eu posso
lhe dizer que eu domino precatório”, diz Carla.
Esse dinheiro fica em uma conta da
Justiça, e a fila para receber é grande. Na lista no site do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Norte, tem gente que está há quase dez anos esperando
para receber.
É o caso de Evalker Cavalcante de Brito,
que é dono de uma padaria. Ele ganhou na Justiça uma ação contra a cobrança
pela prefeitura de Natal de uma taxa de iluminação pública.
“E até agora, nunca me pagaram. Quando
estourou essa bomba de desvio de precatórios fiquei muito revoltado, muito
triste”, desabafa Evalker.
O que é difícil para Evalker era fácil
para o esquema. Formada em direito, administração e economia, Carla Ubarana era
funcionária de carreira no Tribunal e diz que foi convidada pelo então
presidente do Tribunal de Justiça para cuidar dos precatórios.
“Fui convidada em 2007 pelo presidente,
desembargador Osvaldo Cruz, para assumir um cargo na divisão de precatório”,
diz Carla
Ela fez um levantamento e encontrou
muito dinheiro parado, sem dono.
“Existe uma verba que eu não consegui
identificar o processo. Uma verba entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,6 milhão”, diz
Carla
Carla diz que levou o caso ao então
presidente do tribunal. “Desembargador Osvaldo Cruz. Ele falou: ‘Como o
dinheiro não tem dono, o que a gente pode fazer para trabalhar o dinheiro?’. “O
termo foi ‘trabalhar o dinheiro’”, ressalta Carla.
O esquema usou vários métodos para fazer
o dinheiro sair da conta do tribunal, inclusive pagando os chamados laranjas.
O Ministério Público mostra um exemplo
de uso de laranja que levou um cheque de R$ 79,5 mil. Para isso, bastou uma
folha de papel assinada pelo presidente do tribunal.
“Não existe número de processo, não tem
número de ofício. É um documento atípico”, avalia o promotor Flávio Pontes
Filho.
“Ele assinando, era o suficiente para o
banco. Eu só confirmava”, diz Carla. Segundo ela, o repasse aos desembargadores
era em dinheiro vivo.
“O máximo que eu levava era R$ 60 mil,
R$ 50 mil. Eram bolinhos que já vinham do banco amarrados com notas de R$ 100.
Então, ele estava todo prensadinho, não fazia volume. Botava no meio dos
processos e ia para a presidência, como eu sempre fui. Eu despachava com o
presidente normalmente”, descreve Carla.
Carla conta que, quando o desembargador
Osvaldo Cruz deixou a presidência do Tribunal de Justiça, o sucessor dele
também pediu para participar da falcatrua.
“’O que o senhor quer?’ E ele respondeu:
‘Eu quero a mesma saída de dinheiro de Osvaldo’. Ela conta que perguntou:
‘Então o senhor quer receber dinheiro do precatório, do mesmo jeito que
desembargador Osvaldo recebia?’. Ele disse: ‘Do mesmo jeito. O mesmo valor’. O
nome do desembargador é Rafael Godeiro. ‘Está bom. Agora a gente vai ter um
dinheiro que vai ser repartido por três’”.
Isso porque, segundo ela, Osvaldo quis
continuar recebendo a parte dele.
“O responsável por autorizar estes
pagamentos é o presidente do Tribunal de Justiça. E, à época, eram justamente
os dois desembargadores que foram afastados pelo Superior Tribunal de Justiça,
Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro”, diz o procurador-geral do estado, Luciano
Ramos.
O esquema era tão audacioso que prometia
transformar uma dívida judicial de R$ 30 mil em R$ 1,5 milhão. Bastaria
modificar os cálculos.
O advogado Francisco Gurgel Júnior diz
que bastava pagava propina a uma funcionária.
“Ela me cobrava R$ 200 mil, dos quais
20% eram dela e 80% eram do desembargador Rafael Godeiro. Ela receberia e
entregaria a ele. Eu disse que não aceitaria. Primeiro, porque eu não tinha o
recurso para dar, nem acreditaria que uma decisão de R$ 30 mil passasse para R$
1,5 milhão. O nome dela era Ana Lígia”, lembra o advogado.
Ana Lígia Cunha de Castro era assessora
de Rafael Godeiro, um dos dois ex-presidentes do Tribunal de Justiça
investigados no caso.
O advogado da ex-assessora do
desembargador Rafael Godeiro, Ana Lígia, disse que desconhece a acusação.
Procurados pelo Fantástico, os
desembargadores Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro não quiseram gravar entrevista e
negam a acusação.
Carla e o marido estão em prisão
domiciliar. O casal e os laranjas respondem por peculato e formação de
quadrilha. Ela sozinha também é acusada de falsificação e ocultação de
documentos públicos. Os desembargadores estão afastados do TJ e como têm foro
privilegiado, são investigados em liberdade pelo Superior Tribunal de Justiça.
“Nós ficamos indignados, ficamos
tristes, ficamos acabrunhados, mas eu quero dizer que o Poder Judiciário e que
o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte estão fortalecidos, e nós não
vamos nos abater por esse fato”, afirma Judite Nunes, presidente do TJ-RN.
“Não foi, para dizer assim, 'um foi no
erro, foi no meio de vários'. Não. Foram vários. E foi durante dois anos e o
outro mais dois anos. Eu digo que para cada um foram dois anos. Não foi um
documento só. Não foi uma única vez”, destaca Carla.
É uma CAMBADA de sem VERGONHAS que ROUBAM o DINHEIRO do POVO.
ResponderExcluirSão PESSOAS TORPE sem ÉTICA.
Que FALCATRUAS que estão fazendo com nossos PRECATÓRIOS.
Os CIDADÃOS que se FERRAM com essa ROUBALHEIRA.