Judoca foi chamada de 'macaca' na rede social; Neymar se solidariza com a atleta brasileira
Ary Cunha

O racismo pelo Twitter vai virar caso de
polícia. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse que vai determinar à Polícia
Federal que investigue o caso.
- Racismo é uma questão de Justiça. É
uma indignidade onde não foi apenas a atleta que foi desrespeitada. É um
desrespeito ao povo brasileiro. A PF vai entrar no caso pois estamos falando de
um ser humano que além de representar seu país recebe bolsa-atleta - disse
Aldo, que soube do caso pelo GLOBO.
O ministro contou que esteve com ela na
segunda-feira depois da eliminação. E tratou de estimular a atleta, que
considera ter um enorme potencial para disputar medalhas nos Jogos Olímpicos de
2016, no Rio de Janeiro.
- Rafaela é uma moça muito jovem. Tenho
enorme carinho por ela. Sem contar que é um exemplo de esforço e dedicação que
soube superar adversidades na vida. Após a luta eu a abracei e a consolei.
Reforcei a confiança que temos no talento dela. E disse que o governo vai
continuar a apoiá-la com o bolsa-atleta.
O chefe de equipe do judô e
diretor-técnico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson, afirmou
que a entidade já informou o chefe de delegação do Brasil em Londres, Bernard
Rajzman, sobre o episódio e pediu providências do Comitê Olímpico Brasileiro.
Independentemente disso, garantiu que a CBJ estuda modos de fazer com que os
insultos não fiquem impunes.
- Já encaminhamos o caso à chefia de
delegação do COB e, independentemente do que eles forem fazer, vamos pedir que
o caso seja investigado - afirmou Ney.
Neymar se solidarizou com a judoca
brasileiro, enviando mensagem pelo Twitter:
"Sei como vc se sente! Agora é
ficar ao lado dos que te amam de verdade e treinar muito para realizar seu
sonho na Rio-2016", escreveu o craque da seleção brasileira.
A judoca, a técnica da seleção
brasileira, Rosicleia Campos, e o mestre de Rafaela, Geraldo Bernardes, que a
revelou no núcleo Cidade de Deus do Instituto Reação, também querem uma
investigação policial do caso.
- Racismo nunca aconteceu comigo. Não
sabia nem o que falar. Na hora, só desliguei o computador. Falaram essas coisas
e também que minha família não teria orgulho de mim. Foi isso o que mais me
ofendeu - disse ela, admitindo que quer que o caso seja investigado. - Não gostaria
que ficasse assim.
Geraldo, que junto com Flávio Canto
coordena os núcleos do Reação em comunidades carentes do Rio, como Rocinha,
Tubiacanga e Cidade de Deus, disse que nunca houve casos de racismo envolvendo
seus atletas.
- O núcleo onde ela surgiu fica dentro
de uma academia de classe média alta, em Jacarepaguá, e todo mundo treina
junto, seja rico ou pobre. De quimono, não há distinção de raça, cor, nada.
Acho que a página virada tem de ser pelo que aconteceu na luta, por um golpe
normal do judô que a regra não permite. Mas essa questão do racismo não pode
ficar impune. Onde vamos parar?
CBJ
vai pedir moderação no uso da redes sociais
As ofensas racistas contra Rafaela
partiram de um usuário apelidado "Urubu Palheta". Ela as encaminhou
para Rosicleia, técnica da seleção braisleira feminina, que defendeu a atleta
hoje de manhã, após a derrota da peso meio-médio (até 63kg) Mariana Silva para
a chinesa Lili Xu, por wazari, logo na primeira luta.
- Não estou justificando a atitude da
Rafaela, mas explicando o que aconteceu. Você vem de uma derrota dolorosa
daquelas, em que até os árbitros tinham dado o wazari a favor dela, abre o
computador para encontrar algum conforto de amigos e familiares e se depara com
uma ofensa desse nível? Que país é esse em que a cor de pele justifica um ato
dessa natureza? Animal é quem fez isso. Este sim é que deve ir para uma jaula -
afirmou Rosicleia. - Acho que ninguém está preparado para se deparar com uma
agressão tão grande assim, ainda mais uma menina tão jovem e numa situação de
cabeça quente. A orientação é ficar longe das mídias sociais, embora a gente
saiba que é um meio mais rápido de se comunicar com as pessoas que a gente
gosta. Foi uma forma infantil, mas humana de reagir.
Rosicleia, no entanto, admitiu que a
orientação, de agora em diante, é para os atletas evitarem ao máximo as redes
sociais. A própria CBJ já havia solicitado antes dos Jogos que, para manter a
concentração na preparação, os atletas evitassem usar as redes sociais por
muito tempo.
- Depois que a porta abriu, a gente
tenta botar o cadeado. As redes sociais são muito perigosas e nunca pensei que
algo num nível tão baixo pudesse acontecer contra uma de nossas atletas.
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