“Não sabia mais o que fazer. Perdi
forças porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima
das outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente.”
"Quando sai, passaram-me na cabeça as pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las, pois não agüentava escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita gente empilhada"
Ezequiel Real
Sobrevivente
Relato em sua página no facebook
Acompanhei o início do fogo que veio das
faíscas do sparkles e se propagou pelo teto nas esponjas do isolamento
acústico.
Não me apavorei porque não achei que
poderia lidar com a situação, mas vi muita gente entrar em pânico, cair e
desmaiar umas por cima das outros, era um mar de gente atirada. Vi que muita
gente em crise acessou a porta mais próxima, que era a do banheiro e se
alojaram lá dentro. Vi pessoal que trabalhava se escondendo até dentro de
freezers!
Quando vi que não tinha mais jeito de
sair pela saída principal dei a volta na areá vip e sai pela lateral empurrando
e pisando por cima de muita gente. Acredito que não sairia se não fosse pela
força que utilizei para passar pelas pessoas. Ao sair olhava para baixo e via
que pisava e cruzava por cima de mulheres e homens desmaiados. Foi uma merda
sair por uma porta de no máximo 2 metros e ainda com uma mesa atravessada e
todos aqueles corrimões atravessados no meio do caminho. Não vi alarme soando,
só gritos; não vi luz de saída, só fumaça. Quando sai, passaram-me na cabeça as
pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las, pois não agüentava
escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita
gente empilhada. Quando entrei tinha que escolher quem salvar, mas até aí não
tinha passado na cabeça a MORTE.
Muita gente apavorada e nenhuma
organização, tivemos que levar muitas pessoas desmaiadas no colo até o topo
daquela subida para largar dentro de ambulâncias, uma estratégia deveria ser
montada faltou para aproximar atendimento das vítimas, mas não culpo porque mal
cabia duas pessoas dentro de cada ambulância.
Sem ter saída para a fumaça e não
podendo ver mais ninguém para poder ajudar começamos a abrir um buraco na
parede, arrancar madeiras, grades, janelas, destruíramos o isolamento acústico.
Ao abrir o buraco na parede para entrar no caixa, um bombeiro me convidou para
entrar porque, sozinho, não conseguiria tirar as pessoas. Entrei e pela
primeira vez vi a morte pessoalmente. Vibrava a cada pessoa que saia, mas eu
via que nenhum estava com vida. Vizinhos me molhavam e molhavam panos para que
eu pudesse entrar mais para o meio da boate, logo um enfermeiro do SAMU me
pediu para sair lá de dentro, pois tinha risco de desabar. Não acreditei e ele
me mostrou que todos que saiam daí para frente estavam mortos, mesmo assim
voltei, peguei uma lanterna com um policial e voltei para ver se alguém se
mexia ou pedia socorro.
No primeiro momento que liguei e foquei
a luz na área vip vi muitos corpos. Não sabia mais o que fazer. Perdi forças
porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima das
outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente.
Imagem que nunca apagarei da minha
cabeça, não tive força física para ficar ali e tive que sair derrotado de
dentro daquele buraco, não entendi a noção e o tamanho da tragédia. Vim abatido
para casa, pois não agüentava a dor nas pernas e na cabeça. Acordei agora ao
meio dia com amigos atrás de mim, liguei a tv e vi a relação de pessoas mortas.
Queria ter feito mais! Mas sei que tanto
eu quanto meus amigos e voluntários deram o máximo.
Agradeço a todos, pois são irmãos que
abraçaram a causa e davam sangue pelas vítimas. Eduardo Flores da Silva,
Eduardo Buriol de Oliveira, Matheus Fettermann, André Luis Kettermann, Coutinho
Kassio Lutz, Marcos Vinicius Soquetta, Jeferson Ribeiro Lima Caixa, Anderson.
Muitos outros desconhecidos bombeiros policiais e todos os voluntários
profissionais da saúde.
“Não sabia mais o que fazer. Perdi
forças porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima
das outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente.”
"Quando sai, passaram-me na cabeça as pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las, pois não agüentava escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita gente empilhada"
Ezequiel Real
Sobrevivente
Relato em sua página no facebook
Acompanhei o início do fogo que veio das
faíscas do sparkles e se propagou pelo teto nas esponjas do isolamento
acústico.
Não me apavorei porque não achei que
poderia lidar com a situação, mas vi muita gente entrar em pânico, cair e
desmaiar umas por cima das outros, era um mar de gente atirada. Vi que muita
gente em crise acessou a porta mais próxima, que era a do banheiro e se
alojaram lá dentro. Vi pessoal que trabalhava se escondendo até dentro de
freezers!
Quando vi que não tinha mais jeito de
sair pela saída principal dei a volta na areá vip e sai pela lateral empurrando
e pisando por cima de muita gente. Acredito que não sairia se não fosse pela
força que utilizei para passar pelas pessoas. Ao sair olhava para baixo e via
que pisava e cruzava por cima de mulheres e homens desmaiados. Foi uma merda
sair por uma porta de no máximo 2 metros e ainda com uma mesa atravessada e
todos aqueles corrimões atravessados no meio do caminho. Não vi alarme soando,
só gritos; não vi luz de saída, só fumaça. Quando sai, passaram-me na cabeça as
pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las, pois não agüentava
escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita
gente empilhada. Quando entrei tinha que escolher quem salvar, mas até aí não
tinha passado na cabeça a MORTE.
Muita gente apavorada e nenhuma
organização, tivemos que levar muitas pessoas desmaiadas no colo até o topo
daquela subida para largar dentro de ambulâncias, uma estratégia deveria ser
montada faltou para aproximar atendimento das vítimas, mas não culpo porque mal
cabia duas pessoas dentro de cada ambulância.
Sem ter saída para a fumaça e não
podendo ver mais ninguém para poder ajudar começamos a abrir um buraco na
parede, arrancar madeiras, grades, janelas, destruíramos o isolamento acústico.
Ao abrir o buraco na parede para entrar no caixa, um bombeiro me convidou para
entrar porque, sozinho, não conseguiria tirar as pessoas. Entrei e pela
primeira vez vi a morte pessoalmente. Vibrava a cada pessoa que saia, mas eu
via que nenhum estava com vida. Vizinhos me molhavam e molhavam panos para que
eu pudesse entrar mais para o meio da boate, logo um enfermeiro do SAMU me
pediu para sair lá de dentro, pois tinha risco de desabar. Não acreditei e ele
me mostrou que todos que saiam daí para frente estavam mortos, mesmo assim
voltei, peguei uma lanterna com um policial e voltei para ver se alguém se
mexia ou pedia socorro.
No primeiro momento que liguei e foquei
a luz na área vip vi muitos corpos. Não sabia mais o que fazer. Perdi forças
porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima das
outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente.
Imagem que nunca apagarei da minha
cabeça, não tive força física para ficar ali e tive que sair derrotado de
dentro daquele buraco, não entendi a noção e o tamanho da tragédia. Vim abatido
para casa, pois não agüentava a dor nas pernas e na cabeça. Acordei agora ao
meio dia com amigos atrás de mim, liguei a tv e vi a relação de pessoas mortas.
Queria ter feito mais! Mas sei que tanto
eu quanto meus amigos e voluntários deram o máximo.
Agradeço a todos, pois são irmãos que
abraçaram a causa e davam sangue pelas vítimas. Eduardo Flores da Silva,
Eduardo Buriol de Oliveira, Matheus Fettermann, André Luis Kettermann, Coutinho
Kassio Lutz, Marcos Vinicius Soquetta, Jeferson Ribeiro Lima Caixa, Anderson.
Muitos outros desconhecidos bombeiros policiais e todos os voluntários
profissionais da saúde.
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