REYNALDO TUROLLO JR.
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ
FOLHA DE S. PAULO
Maceió (AL) lidera com folga o ranking de homicídios nas capitais do país, num Estado com efetivo policial defasado, IML (Instituto Médico Legal) improvisado em galpão e falta de vagas em presídios.
Em Alagoas, somente no ano passado delegados passaram a ir às cenas do crime para colher dados. Antes, iam apenas os peritos, e o resultado está nas estatísticas: de 2005 a 2008, apenas 7,5% dos assassinatos foram apurados.
Essa sensação de impunidade é um reflexo da falta de estrutura. Hoje, presos que ganham direito ao regime semiaberto (trabalham fora e dormem na cadeia) vão direto para casa, pois não há presídios para esse sistema.
Diante disso, Maceió tem "áreas vetadas" para a circulação. A reportagem tentou ir ao Vergel do Lago, uma das mais perigosas, mas o taxista se recusou a dirigir até lá. "É uma área proibida", informou.
Nos últimos dez anos, a cidade assistiu a uma explosão no número de homicídios. No período, a taxa de homicídios em Maceió subiu 144%, enquanto o conjunto das capitais teve queda média de 18%.
De oitava capital mais violenta do país em 2000, Maceió passou ao topo do ranking dez anos depois. A taxa de homicídios é de 110,1 por 100 mil habitantes -quatro vezes a taxa nacional, de 27,4.
No período, os dois principais grupos políticos de Alagoas passaram pelo poder --os rivais Ronaldo Lessa (PDT), ex-governador, e Teotônio Vilela (PSDB), que cumpre seu segundo mandato.
Agora, Alagoas conta com ajuda federal. Num passado recente, armas apreendidas não eram monitoradas. Saíam das salas oficiais da perícia e realimentavam o ciclo do crime, afirma a secretária nacional de Segurança, Regina Miki.
"O foco do Estado não era combater homicídios. Nosso ambiente é propício para matar", resume Dário Cesar Cavalcante, secretário de Segurança Pública do Estado.
Coronel reformado da Polícia Militar, Cavalcante foi segurança do ex-presidente Fernando Collor.
ESTOPIM
A morte de um médico no ano passado durante um assalto foi o estopim para o pedido de ajuda federal.
Dois dias após o assassinato, em maio, uma multidão saiu às ruas pedindo paz em Alagoas. O Estado recorreu ao Ministério da Justiça.
Um mês depois foi lançado o Brasil Mais Seguro, com o objetivo de conter os homicídios.
Por enquanto, a parceria com o Planalto tem como face mais visível a ocupação de favelas pela Força Nacional, com 230 policiais para ajudar.
"Outras formas de ações sociais [para combater a violência], que só o Estado pode fazer, não estão acontecendo", diz a socióloga Ruth Vasconcelos, da Universidade Federal de Alagoas.
OUTRO LADO
Os homicídios em Maceió caíram 20,5% de 2011 para 2012, após 12 anos de crescimento, afirma a Secretaria Estadual da Defesa Social. Foram 753 casos no ano passado, ante 947 em 2011.
No período de vigência do programa federal Brasil Mais Seguro, diz a pasta, a queda das mortes violentas foi ainda maior --23% em comparação com período anterior.
Para ficar no lugar do reforço da Força Nacional, o Estado abriu concursos para contratar 1.040 policiais militares e 400 policiais civis.
"Está acordado que a Força Nacional permanece aqui enquanto estivermos com o pessoal dos concursos em formação", diz o secretário Dário Cesar Cavalcante. Segundo ele, o governo já constrói um presídio na região do agreste para 800 presos, ao custo de R$ 30 milhões.
Ainda não há data para a construção de uma unidade de regime semiaberto em AL.
Para monitorar as armas apreendidas, foram instaladas câmeras e fechaduras eletrônicas na sala da perícia.
O secretário Cavalcante afirma que o governo obteve R$ 130 milhões com o BNDES para investir em segurança em 2013 e 2014.
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