sábado, 31 de outubro de 2015

Aves de rapina, mau agouro e passarinhos

Editorial do JP

As corujas piam num céu aberto que desconhecem: o céu da honestidade. Rapinas eriçam a plumagem, furiosas, porque não lhes é mais permitido esbulhar o suor dos trabalhadores, o quinhão sacrificado dos contribuintes. Como sacerdotes romanos observando o voo dos abutres, das águias, das corujas e dos corvos, os videntes de Sarney só prenunciam violência, desastres, catástrofes administrativas, num mau agouro constante contra o Maranhão e o seu povo. Anunciam o mesmo mal que eles mesmos causaram e do qual a população se libertou.

O cenário é maranhense. De Roma, somente a conspiração diária de nobres e reis decaídos, escorraçados pelo povo, as aves de mau agouro com seus disparates proféticos e suas cobranças sem pé nem cabeça na busca de reconquistar o mesmo espaço onde fizeram voar maldições. Maldições como a extrema pobreza, a insegurança desmedida, o analfabetismo, a desnutrição, a mortalidade infantil, enquanto se cobriam de ouro e púrpura e solfejavam árias de pecado em bufas operetas de corrupção.

Mas há uma nova ordem. O espaço não tem mais donos, a rapinagem virou crime e os crimes são punidos. As facções políticas sustentadas somente na força bruta do dinheiro e do poder vão ter que caçar em outro lugar. Os bicos e garras afiados dessas aves de rapina, poderosos sem escrúpulos e sem limites, já não metem medo.  Em breve estarão segregadas às suas montanhas, pois não conseguiriam sobreviver num habitat de trabalho, transparência e honestidade. Jamais conseguiram conviver com nada disso ou sequer parecido com estas decisões.

Essas aves gigantes que deixaram a Maranhão sem alpiste, que raptaram consciências, subjugaram os poderes, alienaram multidões, asfixiaram os viveiros, roubaram futuros e se regalaram gordas e lambuzadas com a fome alheia, já não são donas do espaço.  

E Sarney, o gavião real nesta selva em que até bem pouco só os gordos e fortes tinham direitos, terá que se curvar a essa nova realidade de um poder que obriga a alimentar os passarinhos e construir ninhos para os que não têm onde morar.

As harpias e gaviões já não governam. Haverá, portanto, lugar para os rouxinóis famintos, os curiós solitários, os periquitos sentidos, as garças abandonadas, as sabiás vulneradas pelo câncer da corrupção e tantos outros que em terras do Maranhão entoaram cantos de liberdade.

Os guarás vermelhos enfrentarão as acauãs e carcarás em defesa de uma terra em que todos tenham o direito de voar, todos tenham o direito de estudar e produzir, crescer, se desenvolver, sonhar com melhores dias, no espaço originalmente assaltado pelas aves de rapina e mau agouro que não dominam mais o Maranhão. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário