Editorial do JP

O cenário é maranhense. De Roma, somente a
conspiração diária de nobres e reis decaídos, escorraçados pelo povo, as aves
de mau agouro com seus disparates proféticos e suas cobranças sem pé nem cabeça
na busca de reconquistar o mesmo espaço onde fizeram voar maldições. Maldições
como a extrema pobreza, a insegurança desmedida, o analfabetismo, a
desnutrição, a mortalidade infantil, enquanto se cobriam de ouro e púrpura e
solfejavam árias de pecado em bufas operetas de corrupção.
Mas há uma nova ordem. O espaço não tem mais donos,
a rapinagem virou crime e os crimes são punidos. As facções políticas
sustentadas somente na força bruta do dinheiro e do poder vão ter que caçar em
outro lugar. Os bicos e garras afiados dessas aves de rapina, poderosos sem
escrúpulos e sem limites, já não metem medo.
Em breve estarão segregadas às suas montanhas, pois não conseguiriam
sobreviver num habitat de trabalho, transparência e honestidade. Jamais
conseguiram conviver com nada disso ou sequer parecido com estas decisões.
Essas aves gigantes que deixaram a Maranhão sem
alpiste, que raptaram consciências, subjugaram os poderes, alienaram multidões,
asfixiaram os viveiros, roubaram futuros e se regalaram gordas e lambuzadas com
a fome alheia, já não são donas do espaço.
E Sarney, o gavião real nesta selva em que até bem
pouco só os gordos e fortes tinham direitos, terá que se curvar a essa nova
realidade de um poder que obriga a alimentar os passarinhos e construir ninhos
para os que não têm onde morar.
As harpias e gaviões já não governam. Haverá,
portanto, lugar para os rouxinóis famintos, os curiós solitários, os periquitos
sentidos, as garças abandonadas, as sabiás vulneradas pelo câncer da corrupção
e tantos outros que em terras do Maranhão entoaram cantos de liberdade.
Os guarás vermelhos enfrentarão as acauãs e carcarás
em defesa de uma terra em que todos tenham o direito de voar, todos tenham o
direito de estudar e produzir, crescer, se desenvolver, sonhar com melhores
dias, no espaço originalmente assaltado pelas aves de rapina e mau agouro que
não dominam mais o Maranhão.
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