“O investimento foi feito, sendo que passados alguns anos o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro investido”, afirmou o ex-diretor da Petrobrás, delator da Lava Jato, sobre negócio envolvendo o ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA), ‘entre 2009/2010’
O senador Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia. Foto: Dida Sampaio/Estadão |
POR JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO E RICARDO BRANDT
O ESTADO DE S. PAULO
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O ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou que ‘entre 2009/2010’ houve uma ordem do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) para atender o Banco BVA na participação da Petros, fundos de pensão da Petrobrás. Segundo Cerveró, o dono do banco, José Augusto Ferreira dos Santos, é amigo de Lobão. O delator relatou que o negócio foi feito e, alguns anos depois, o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro investido.
As declarações estão em um resumo entregue por Cerveró à Procuradoria, antes de o ex-diretor fechar acordo de delação premiada. Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobrás entre 2003 e 2008. Após ser exonerado do cargo, o executivo assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora.
Fundada pela estatal em julho de 1970, a Petros é o segundo maior fundo de pensão do País. Em 2015, o número de participantes do plano chegou a 158 mil.
Cerveró afirmou que naquele ano o banco BVA fez uma proposta a Petros para que a empresa fizesse um negócio ‘de grande monta’ em um fundo de investimento do banco, ‘cujo valor não se recorda, mas certamente Fernando Mattos lembra’.
“Entre 2009/2010, Nestor Cerveró recebeu um telefonema do ministro Lobão, questionando quem era Fernando que trabalhava com ele, pois estava ‘atrapalhando’ a aprovação do investimento da Petros naquele Banco. Diante disso, Nestor explicou que era um funcionário especialista em investimentos, sendo respondido que deveria tirar o Fernando, caso não fosse aprovado o referido investimento. Assim, o investimento foi feito, sendo que passados alguns anos o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro investido”, relatou o delator.
Segundo Cerveró, o comitê de investimento da Petros se reúne mensalmente para discutir estratégias, ‘sendo que por lei é determinado que os planos de previdência invistam em rendimentos que sejam superiores à inflação (em 2010 era de 6%)’. O delator afirmou que, na arrecadação da Petros, o funcionário paga um valor conforme o seu salário e a Petrobrás paga a mesma quantia mensalmente.
O fundador do BVA, José Augusto Ferreira dos Santos, foi sócio de uma das empresas envolvidas na chamada “máfia do lixo” instalada na prefeitura petista de Santo André, esquema que veio à tona com o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, em janeiro de 2002. Santos também teria se envolvido em escândalo relacionado a compensações fraudulentas de dívidas com a Receita Federal e teve operações recusadas pelo Fisco quando tentava quitar impostos com créditos podres. Em 2010, uma advogada de Santos informou ao Estado que o banqueiro foi vítima no caso escândalo tributário e que teria acertado tudo com a Receita.
Em setembro de 2014, a Justiça aceitou o pedido de falência do Banco BVA.
A reportagem não conseguiu localizar José Augusto Ferreira dos Santos.
COM A PALAVRA O SENADOR EDISON LOBÃO
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o senador Edison Lobão, afirmou que o parlamentar não se lembra de conhecer José Augusto Ferreira dos Santos, não tem relação comercial com ele ou com o Banco BVA. Segundo o criminalista, Lobão não sabia que Nestor Cerveró tinha um assento no Comitê de Investimento. Kakay disse ainda que nunca tratou deste assunto com Cerveró.
COM A PALAVRA, A PETROS
A Petros esclarece que nunca investiu diretamente no BVA, mas sim em fundos que eram geridos pelo banco e que, após a sua liquidação, foram transferidos para outros gestores. A Fundação já recebeu mais de 90% do total investido em títulos privados estruturados pelo BVA e está na Justiça buscando o restante. A Petros informa, ainda, que suas decisões de investimento são tomadas com base em avaliações técnicas e, seguindo as boas práticas de governança, sempre de forma colegiada, por comitês técnicos, e nunca por uma única pessoa.
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