Quando
divulgou a conversa ilegalmente grampeada entre Lula e Dilma, o juiz Sergio
Moro alegou “interesse público” no assunto.
Acrescentou que os governados têm o direito de saber o que fazem
(inclusive na intimidade) os governantes.
Os mesmos argumentos, e muitos outros, podem ser invocados pela
sociedade para exigir a divulgação da “lista da Odebrecht”, contendo mais de
300 nomes de políticos que receberam “capilés” da empreiteira, logo posta sob
sigilo por Moro
Tereza Cruvinel
Brasil 247
O desinteresse de Moro e dos
procuradores pelas revelações da construtora
transpareceu já na noite de terça-feira, conforme registrou este blog. O
Jornal Nacional , ao noticiar a Operação Xepa, que fez buscas e apreensões em
várias unidades da Odebrecht, destacou trechos da nota pública da empresa, passando ligeiramente sobre o trecho em que
afirma não ter a construtora “responsabilidade dominante” pelos fatos apurados
e pela existência de “um sistema ilegítimo e ilegal de financiamento do sistema
partidário-eleitoral”. A seguir, William
Bonner informa que “nossos repórteres” ouviram do Ministério Público que tal acordo não havia
sido assinado e que seria analisado segundo as prioridades da Operação Lava
Jato.
O desinteresse do Ministério
Público confirmou-se nesta quarta-feira logo que começaram a ser divulgados
nomes da oposição que figuram na lista da Odebrecht, tais como Aécio Neves,
José Serra, Rodrigo Maia e Eduardo Cunha, para ficar só em quatro importantes
lanceiros do impeachment. Moro colocou o
material sob sigilo e os procuradores praticamente descartaram a delação da
Odebrecht.
A sociedade tem o direito de
conhecer este “sistema ilegal e ilegítimo” de financiamento do conjunto de
partidos que a representa. Quando diz
que não tem “responsabilidade dominante” por sua existência, a Odebrecht diz
implicitamente que não o criou sozinha,
que ele não nasceu agora, nos
governos do PT, que ele envolve um conjunto de empresas e partidos, enfim, que
este é o sistema político-eleitoral que temos, fomentador da corrupção.
A lista contém informações que
remontam aos anos 1980. Se o objetivo é
passar o país a limpo, tal sistema precisa ser conhecido para ser desmontado e substituído. Moro, em seu já muito citado artigo sobre a
Operação Mãos Limpas da Itália, refere-se à necessidade de “deslegitimação” do
sistema partidário que lá estava fortemente associado à corrupção. Já a Lava
Jato parece querer deslegitimar apenas uma parte do sistema partidário, composta pelo PT e partidos aliados.
A divulgação da lista iluminaria
uma parte do porão. Mas a “colaboração definitiva”, expressão cunhada pela
Odebrecht para indicar a disposição de seus dirigentes de falar tudo o que
sabem, e certamente sobre todos, é fundamental para o completo desvelamento do
esquema. Na colaboração eles não apenas citariam nomes mas apontariam
mecanismos operacionais ainda não de todo conhecidos.
A parte ainda lúcida da
sociedade, que não se deixou cegar pelo ódio, que mesmo não gostando do PT
percebe a seletividade do processo, tem o direito de conhecer a lista e as
revelações da Odebrecht. Depois do desgaste com as ilegalidades cometidas
contra Lula, Dilma e outros políticos grampeados, a Lava Jato faria bem em
afastar as evidências de que seu propósito não é uma faxina mas sim uma chacina
política.
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