Professor da PUC-RS citado em texto de
promotores critica ação contra ex-presidente
Petistas fazem manifestação de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília |
POR JAÍLTON DE CARVALHO E RUBEN BERTA
O GLOBO
BRASÍLIA E RIO — A decisão dos
promotores do Ministério Público de São Paulo de pedir a prisão preventiva do
ex-presidente Lula provocou forte reação dentro da instituição. Numa intensa
troca de mensagens depois do anúncio do pedido, procuradores e até alguns
promotores trocaram impressões sobre a atuação dos colegas. Para boa parte dos
que se manifestaram, segundo disse um deles, Cássio Conserino, José Carlos Blat
e Fernando Araújo cometeram um erro grave, que terá forte reflexos sobre o
papel institucional do MP.
— O Ministério Público está inflamado.
Ninguém acredita que eles fizeram isso — disse um procurador.
O texto elaborado pelos promotores de
São Paulo para embasar o pedido de prisão de Lula cita trechos de livros de
especialistas em direito penal. Entre eles, está o professor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Aury Lopes Junior, que, ao
ser contactado ontem pelo GLOBO, criticou o pedido feito pelo MP:
— Vejo como algo muito mais de caráter
simbólico do que com embasamento processual. A prisão preventiva é uma exceção,
não pode ser banalizada. E não acredito que haja necessidade, nesse momento, de
que o ex-presidente seja detido. Isso não quer dizer que ele não possa ser, em
algum momento, condenado num eventual processo.
Lopes Junior não vê nenhuma das
possibilidades previstas na lei para sustentar a prisão preventiva no caso de
Lula:
— O risco de fuga não existe, é uma
figura pública, que é constantemente monitorada. A possibilidade de destruição
de provas num crime como o de lavagem de dinheiro, cuja base é de comprovação
documental, também não me parece razoável. Além do mais, já houve busca e apreensão
na semana passada. Quanto ao risco para a ordem pública, é uma futurologia sem
sentido. Ele não pode ser responsabilizado por tumultos que podem, em tese,
acontecer. Para isso, existe a Segurança Pública.
CONSEQUÊNCIAS
INVERSAS
O professor de Direito Penal da UFF e do
Ibmec-RJ Taiguara Souza reforça que, por lei, a prisão preventiva deve ser
usada como instrumento de garantia da ordem pública, o que, neste caso, pode
acabar tendo consequências inversas:
— Não há uma evidente urgência nessa
prisão. E estamos num cenário extremamente delicado, às vésperas de
manifestações, onde a detenção do ex-presidente pode ser mais ameaçadora da
ordem do que a sua liberdade.
O criminalista e coordenador da
Pós-Graduação em Direito Penal do Instituto de Direito Público de São Paulo,
Fernando Castelo Branco, também vê com receio o pedido de prisão e acredita que
dificilmente o magistrado que analisá-lo o aceitará:
— Tenho medo da condução passional que
vem sendo dada nesse caso. E não podemos esquecer que o direito é uma ciência.
Os elementos para uma prisão teriam que ser muito fortes.
vigília
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