sábado, 5 de março de 2016

Uma condução coercitiva que fortalece ou enfraquece o golpe?

A presença de Sergio Moro na festa da Globo, e sua aceitação do prêmio, 
constitui um tapa na cara dos que querem acreditar numa justiça isenta.
A condução coercitiva do ex-presidente Lula – desnecessária e extemporânea – era o que a grande mídia, a serviço do golpe, esperava há bastante tempo. Para os golpistas, a imagem de Lula sendo conduzido por policiais federais era o que faltava, segundo eles, para a consumação do golpe. Ao mesmo tempo, desmoralizava o ex-presidente, enfraquecendo-o e tirando-o da disputa pela presidência em 2018, e fragilizava, ainda mais, o governo da presidente Dilma. E tudo com o apoio de um juiz, que trabalha nitidamente para destronar o PT do poder. Por que, ao longo das investigações da Lava Jato, não foram feitas operações direcionadas aos tucanos, também citados em delações premiadas? Porque o foco é o PT, Lula e Dilma.

Caberia à defesa do ex-presidente Lula questionar a possível arbitrariedade judicial, que pode ter se evidenciado com a tal condução coercitiva, sem que o ex-presidente tenha sido convocado a prestar depoimento e se recusado a atender a uma determinação nesse sentido. Em sua decisão, o juiz Moro justifica que, colhendo o depoimento mediante condução coercitiva, são menores as probabilidades de ocorrer manifestações populares que não aparentam ser totalmente espontâneas. Ora, a decisão de conduzir coercitivamente o ex-presidente terminou provocando manifestações ainda maiores.

Por conta dessa decisão, o Brasil está em convulsão social. Os conflitos entre defensores do governo e aqueles que são a favor do golpe tendem a se aumentar por todos os cantos do país. O próprio ex-presidente, em entrevista coletiva após o ato arbitrário da justiça, afirmou que está disposto a voltar a percorrer o país para mobilizar a militância contra o golpe. Em vez de amedrontar, a operação midiática pode ter estimulado a militância a voltar às ruas com mais intensidade. Era o combustível que faltava para a eclosão de conflitos nas ruas. Um cenário de instabilidade gerado por uma decisão judicial desastrada.

Ficou claro que o real objetivo era garantir um fato midiático, com repercussão internacional, para descontruir a imagem do ex-presidente. E os grandes veículos de comunicação, principalmente a Globo - que já tinha conhecimento da operação desde às 2h da madrugada - comemoraram. Suas TVs dedicaram muitas horas de cobertura ao fato. A Globo News fez cobertura durante todo o dia, ao vivo. Agradecem ao juiz da Lava Jato. Só falta, agora, para completar o golpe, o juiz determinar a condução coercitiva da presidenta Dilma. E o juiz poderia dar por encerrados os trabalhos da Lava Jato.

A coisa foi tão bem orquestrada que, de imediato, Aécio Neves convocou as forças de oposição para discutir o momento e de que forma aproveitar a espetáculo midiático para fortalecer os movimentos de rua em favor do golpe. Era o que os golpistas esperavam para reforçar o movimento pró-impeachment convocado para o próximo dia 13. De imediato, o PSDB sugeriu a renúncia imediata da presidente Dilma Roussef, pois a condução coercitiva de Lula teria produzido mais abalos ao governo. Uma mostra de que esse era o grande momento aguardado pelos golpistas.

Na verdade, esse ato intempestivo do juiz poderá produzir um quadro de confrontos nas ruas, um exacerbamento dos ânimos, com consequências imprevisíveis, pois a militância do PT e dos outros partidos de sustentação do governo não vão deixar o golpe prosperar. 


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