São aberrações políticas iguais a Renan Calheiros, Collor de Mello, e José Sarney, o Dissimulado, que ainda insistem em perpetuar-se no poder para gerir o destino dos cidadãos de bem.
Entre restos de pizza jogados no balcão
imundo, um grupo de parlamentares se diverte tirando da cartola novas manobras
políticas, enquanto José Sarney, o Reincidente, suspira com uma pitada de
Pré-Sal no caldo de sarnambi, quem sabe já degustando vantagens para as
extensas áreas que adquiriu ilegalmente em Santo Amaro, nos Lençóis
Maranhenses, visando à exploração de gás.
Imóvel, sobre o freezer abarrotado de
vísceras, a estátua decapitada da Justiça sente o peso da solidão e da
indiferença.
Crentes de que não será a sua última
ceia, os convivas devoram com avidez as costelas indigentes da ética e do
decoro, lambendo o sangue nos dedos coalhados de anéis. Vomitam uns nos outros
como cães hidrófobos, soltando arrotos e peidos estridentes. Apesar do cheiro quase sólido de enxofre no
ar, salvaram-se as regalias, como os saques indenizatórios ao tesouro público
para despesas secretas de tapioquinhas, ou linhas aéreas para os paraísos da
impunidade.
Novas denúncias certamente irão surgir,
mas servirão apenas de aperitivo para a larica incontrolável dos canibais
engravatados.
O
Congresso Nacional, este sim, é que pode ser chamado de Zona do Baixo
Meretrício, onde as receitas pirateadas do Kama-Sutra contra os interesses
nacionais e a ordem constitucional do País superam as páginas rasgadas da Carta
Magna brasileira, que entulham as latrinas do Senado.
No Plenário, as sessões legislativas tornaram-se animados stripteases de lama,
gincana execrável entre gigolôs do patrimônio público. Os cabarés da Rua 28 de
Julho e da Rua da Palma eram muito mais respeitáveis.
Em Brasília a classe política sofre de
bulimia crônica. De modo geral, política e jantar de negócios em mansão não
declarada são a mesma coisa. Come-se e bebe-se gratuitamente, sem bater cartão
ou pagar aluguel. Ordinariamente, todos decoram seus papéis: coronéis de merda,
mordomos secretos, lobistas aloprados, office-boys midiáticos, cangaceiros de
terceira categoria, arapongas etc. Nos bastidores, juízes de papel machê.
O
mais reles papel, entretanto, cabe ao presidente Lula, espécie de czar naturalista
especializado em mimar camaleões de bigode, que, para justificar o
injustificável, enterra o PT em cova rasa, poupando velas de sete dias para o
mausoléu do Convento das Mercês, um museu republicano financiado com recursos
de empresas estatais.
Assim, sobre o balcão imundo, renovam-se
alianças e casamentos políticos, não sem antes, por conveniência sentimental ou
compadrio, empurrar as picuinhas retemperadas pela mídia para debaixo do tapete
– com ou sem as sobras cirúrgicas de Dilma Roussef.
De olho nas próximas eleições, os
senadores puxam lenços solenes com os quais enxugam uns nos rostos dos outros o
desperdício de bílis e caviar. Inspirados, como se fosse o vernissage do quadro
de miséria que atinge 33,6 milhões brasileiros, retocam a pintura do bigode de
José Sarney, o Compulsivo.
Homem
incomum por ser esculpido em lodo – o lodo petrificado de uma biografia
mergulhada em fraudes e golpes sujos –, o senador do Amapá sabe que ainda tem
os holofotes voltados para si, e tirará proveito disso, embora com tremor nas
mãos.
Fato que tem levado alguns jornalistas a afirmarem ser essa a causa dos seus
desarranjos lexicais. Mero imbróglio acadêmico a ser engavetado. É mais
frutífero imaginar James Parkinson tentando psicografar alguma bobagem para a
Folha de S. Paulo.
Não obstante, durante o banquete que
atravessará as eleições de 2010 tudo será permitido, inclusive enfiar o dedo na
garganta para vomitar outra vez o que já foi deglutido, e repetir tudo de novo,
deixando a conta para o povo brasileiro digerir.
São
aberrações políticas iguais a Renan Calheiros, Collor de Mello, e José Sarney,
o Dissimulado, que ainda insistem em perpetuar-se no poder para gerir o destino
dos cidadãos de bem. Por essas e outras é que dizem que o
cavalo Incitatus, nomeado senador por Calígula, teria sido mais ético, pois
nunca atentou contra o decoro parlamentar em Roma.
Enquanto
houver pizzas no forno e leis que possam ser transgredidas, eles ficarão lá
como parasitas para sucatear a democracia, jurando de pés juntos nada saber de
nepotismo, desvio de verbas públicas, falsidade ideológica, caixa dois, tráfico
de influência e outros crimes manjados. Até que sejam guilhotinados pelos votos
da indignação.
Infelizmente, esses mortos-vivos de
jaquetões Armani lambrecados de Booster, já deixaram as impressões digitais no
erário público, sua calçada da fama, emporcalhando a história de um País
ansioso por uma nova independência, não movida a petróleo, mas pela dignidade
social e pela cidadania.
Publicado em 12 de junho de 2009
Cesar Teixeira é poeta, compositor e
jornalista. Foi um dos fundadores do Jornal Vias de Fato.
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