Para Dino, o impeachment seria a ruptura do "pacto político supremo que é a Constituição". "O impeachment de Dilma seria uma ferida muito profunda, que demoraria muitos anos para se cicatrizar", diz.
O governador diz que haverá forte "resistência e mobilização social" se o impeachment passar e afirma que as manifestações deverão durar até 2018, o que manteria o conflito político no país, mesmo sem Dilma na Presidência.
Por Tainara Machado e Cristiane Agostine
Valor
Aliado histórico do PT, o governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), defende que a possível vitória da presidente
Dilma Rousseff no processo de impeachment na Câmara "zere o jogo" e
acabe com a crise política que engessou o governo federal. No dia seguinte à
votação do pedido de saída da presidente do cargo, afirma o governador, a
gestão Dilma deveria apelar ao "bom senso" e buscar um acordo com a
oposição, por meio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e com
empresários favoráveis ao impeachment. "A Fiesp vai continuar na Av.
Paulista. Uma vez derrotada em sua tese em abril, não poderá ser ignorada em
maio", avalia o governador.
Segundo Dino, o diálogo deve ficar sob
responsabilidade da própria presidente, e não do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Dino diz ter "certeza
analítica" de que a presidente conseguirá os votos necessários para
derrotar o impeachment na Câmara, ao conquistar deputados que estão
"indecisos" e "suscetíveis a algum tipo de repactuação".
Passado o processo, diz, é preciso reconstruir a base de apoio no Congresso.
"A derrota do impeachment zera o jogo e possibilita que reconstrua base parlamentar
a partir disso", afirmou o governador, em entrevista ao Valor. "Não
penso que qualquer setor político responsável e comprometido com o país imagine
a eternização de guerra de todos contra todos, que temos hoje. É um quadro
complexo e preocupante, com efeitos econômicos e sociais".
Após a votação, afirma Dino, cabe
sobretudo a presidente Dilma e a lideranças como os ex-presidentes Lula e
Fernando Henrique "encontrarem um caminho de consenso geral" para
negociar uma "agenda de retomada do crescimento" e de "reformas
estruturais". Na opinião do governador, a presidente precisa também
pactuar com a oposição o "respeito às regras do jogo até 2018" e sua
manutenção no cargo até o fim dos quatro anos do mandato.
Dino não acredita que alianças com os
partidos de centro, como PP e PR, possam significar uma guinada do governo à
direita. Segundo o governador, a convicção de que Dilma conseguirá debelar o
processo de impeachment parte justamente das bases sociais do governo. A
presidente pode ter que fazer concessões - a proposta de reforma da
Previdência, por exemplo, pode ser discutida, embora não tenha seu apoio -, mas
sem "sacrificar o núcleo da agenda que foi confirmada quatro vezes
seguidas nas urnas".
Dino sugere que a nova carta aos
brasileiros, que estaria sendo formulada por Lula para reconquistar a confiança
de empresários e retomar a governabilidade, trate do tema que une a nação hoje:
"a crise econômica". Segundo o governador, isso só será possível com
pacto nacional para deslanchar investimentos públicos e privados, com aumento
do crédito via bancos públicos, além de concessões de obras de infraestrutura.
O governador acredita que o ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, teria condições para conduzir a política econômica no
período de construção de consensos por ter conseguido virar a página da
"agenda monotemática" do ajuste fiscal ao colocar o debate em termos
mais bem acabados. "Há uma agenda imediata a ser perseguida [para retomar
o crescimento] e medidas de longo prazo que também precisam ser discutidas",
pondera o governador.
Segundo Dino, Barbosa deu alguns passos
acertados nos últimos meses, entre eles a renegociação das dívidas com os
Estados, projeto que está em tramitação na Câmara. Para o governador, o
alongamento das dívidas é urgente, mas as contrapartidas de aperto exigidas dos
Estados podem ser discutidas em prazos mais alongados. "O essencial agora
é a renegociação, não para os governadores, mas para o país", diz. Ainda
na carta, afirma, é preciso constar que a Operação Lava-Jato vai continuar. "É
preciso que haja entendimento de que a Polícia Federal, o Ministério Público
façam aquilo que consideram que deve ser feito, nos termos da lei; e de outro
lado, a política siga cumprindo seu papel, que é resolver os problemas do
povo".
À frente do Estado onde Dilma obteve uma
de suas maiores votações em 2014, com 69,5% no primeiro turno, Dino diz que o
processo de impeachment em discussão na Câmara é "totalmente absurdo"
e critica como 'frágil" o voto apresentado ontem pelo deputado Jovair
Arantes (PTB-GO), relator na comissão na Câmara que analisa o caso. "É um
debate tão longe dos sentimentos da sociedade, tão desfocado, distorcido de
conceitos jurídicos que obviamente um voto tão frágil não vai prevalecer",
diz.
O impeachment, no entanto, não está
descartado e o governador analisa que a gestão Dilma precisa barrar o processo
na Câmara porque se o pedido for aprovado pelos deputados, também será aceito
no Senado.
Para Dino, o impeachment seria a ruptura
do "pacto político supremo que é a Constituição". "Seria uma ferida
muito profunda, que demoraria muitos anos para se cicatrizar porque não é algo
qualquer ou usual romper as regras do jogo democrático e rasgar a
Constituição".
O governador diz que haverá forte
"resistência e mobilização social" se o impeachment passar e afirma
que as manifestações deverão durar até 2018, o que manteria o conflito político
no país, mesmo sem Dilma na Presidência. "Se a busca de estabilidade política
é fundamental para a retomada do crescimento econômico, é mais fácil alcançar
isso com respeito às regras do jogo e continuidade do mandato de Dilma em 2018
do que mediante à ruptura golpista".
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