Teori disse ao presidente da Comissão de
Ética que dará autorização para ouvir delatores

POR CAROLINA BRÍGIDO
O Globo
BRASÍLIA – Os deputados José Carlos
Araújo (PR-BA) e Marcos Rogério (DEM-RO), presidente do Conselho de Ética e
relator do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (DEM-RO),
pediram ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF), autorização para ouvir delatores e para compartilhar provas de
processo que tramita na corte. Segundo os parlamentares, Teori disse a eles que
atenderá os pedidos, com exceção de documentos que estejam sob sigilo.
Os deputados reclamaram da suposta
tentativa de Cunha de atrasar as investigações. Segundo eles, faz oito dias que
o Conselho de Ética pediu à Câmara a compra de passagens para garantir a
presença de depoentes no colegiado, mas ainda não houve resposta. Está marcado
para a manhã de quinta-feira o depoimento de Leonardo Meireles, sócio do
doleiro Alberto Youssef no laboratório Labogen. Os parlamentares informaram que,
se a Câmara não bancar a viagem, o valor sairá do bolso da testemunha.
Cunha é investigado por ter supostamente
mantido contas não declaradas no exterior. Em depoimento à CPI da Petrobras, o
presidente da Câmara negou a existência das contas. Em seguida, a Operação
Lava-Jato trouxe evidências de que ele estaria mentindo. No STF, ele responde a
inquérito criminal. No Conselho de Ética, ele pode ser cassado por quebra de
decoro, por conta da declaração supostamente falsa à CPI. Para Araújo, Cunha
está claramente obstruindo as investigações da Câmara.
— Eu não acho, eu tenho certeza absoluta
de que isso está acontecendo. Há um propósito claro de dificuldades impostas
pelo presidente. Ele está recorrendo de tudo o que pode, para impedir o
processo — disse Araújo.
Ontem, a defesa do presidente da Câmara
pediu a impugnação das oito testemunhas de acusação no processo contra ele no
Conselho de Ética da Casa, o que para Araújo é mais uma tentativa de ganhar
prazo e tentar anular decisão dele sobre a questão.
O presidente do Conselho de Ética
comparou o processo contra Cunha com o impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff. O parlamentar concluiu que o primeiro caso está engatinhando enquanto
o segundo está mais adiantado, por interesse de Cunha.
— Se você fizer um paralelo entre o
impeachment e o processo dele no Conselho de Ética, você vê a velocidade de um
e a velocidade de outro. Nós levamos quatro meses para fazer a admissibilidade
(do processo de cassação). No impeachment, já estão acabando, para colocar em
votação. O que quer o presidente Eduardo Cunha anda com uma velocidade
vertiginosa. O que ele não quer, quase não anda — observou Araújo.
O relator do processo na Câmara declarou
que o Conselho de Ética vai ouvir também os depoimentos dos lobistas Júlio
Camargo e Fernando Baiano, que também teriam incriminado Cunha em depoimentos
prestados à Lava-Jato. Marcos Rogério disse que, no momento, não cogita
interrogar a mulher de Cunha, Cláudia Cruz, ou a filha dele Danielle Dytz da
Cunha. As duas também respondem a inquérito na Lava-Jato por terem sido
supostamente beneficiadas com o dinheiro das contas no exterior.
— Não cogitei dessa hipótese ainda e,
até o momento, não vi conexão que justificasse convidá-las a estar no conselho.
Nesse processo são mais (importantes) provas materiais. A prova testemunhal
colabora com o conjunto probatório, mas não é indispensável. Você tem outros
meios de prova para comprovar ou não a existência de contas. Claro que, quanto
mais robustez se de as provas, mais segurança haverá na decisão — afirmou
Marcos Rogério.
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