Mais
detalhes das conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com membros
da cúpula do PMDB foram revelados pelo Jornal da Globo; citado como próximo ao
relator da Lava Jato, Cesar Asfor Rocha presidiu o STJ e, com uma liminar em
2009 barrou a operação Castelo de Areia

Por Redação
O Estado de São Paulo
Novos diálogos do mais recente
delator-bomba da Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado,
revelados nesta quinta-feira, 26, pelo Jornal da Globo trazem mais detalhes da
preocupação dos principais caciques políticos do PMDB com o avanço da operação
e também da tentativa deles de influenciar o Supremo Tribunal Federal.
Em um trecho da conversa com o
ex-presidente José Sarney, em 10 de março, o cacique do PMDB afirma que vai
conversar com o ex-ministro do STJ Cesar Asfor Rocha, que, segundo ele, seria
próximo do relator da Lava Jato no STF Teori Zavascki.
Asfor Rocha presidiu o STJ e, em
2009, concedeu uma liminar que barrou a Operação Castelo de Areia. Semelhante à
Lava Jato, a investigação realizada na época também avançou sobre a relação
entre as grandes empreiteiras do País e os partidos políticos.
“MACHADO – Porque realmente, se
me jogarem para baixo [em relação ao juiz Sérgio Moro, pois a investigação
contra Sérgio Machado estava no Supremo] aí… Teori ninguém consegue conversar.
SARNEY – Você se dá com o Cesar.
Cesar Rocha.
MACHADO – Hum? SARNEY – Cesar
Rocha.
MACHADO – Dou, mas o Cesar não
tem acesso ao Teori não. Tem?
SARNEY – Tem total acesso ao
Teori. Muito muito muito muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com
Cesar. A única coisa com o Cesar, com o Teori é com o Cesar.”
Teori foi ministro do STJ antes
de ser nomeado por Dilma para o Supremo. Em outro diálogo gravado por Machado,
que levou à queda de Romero Jucá (PMDB) do Ministério do Planejamento em apenas
12 dias do governo interino de Michel Temer, o agora senador Jucá relatou a
dificuldade de tentar algum contato com Teori para influenciar no andamento das
investigações. “É um cara fechado”, disse Jucá.
Todos os diálogos ocorreram em
março, antes de o Congresso votar pela abertura do processo de impeachment de
Dilma, que levou Michel Temer temporariamente à Presidência.
Apesar da preocupação de Machado
revelada pelos diálogos e de suas tratativas com a cúpula do PMDB o
ex-presidente da Transpetro acabou fechando um acordo de delação premiada com a
Procuradoria-Geral da República que atinge a alma do PMDB, espinha dorsal do
governo Temer.
Outros ministros do governo
interino estão sob investigação na Lava Jato e até outros nomes da cúpula do
Planalto podem ter sido flagrados em conversas com Machado. Até o momento já
foram divulgados diálogos com Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.
Com a homologação da delação, o
Procurador-Geral da República Rodrigo Janot pode abrir novos inquéritos,
complementar as dezenas de investigações contra políticos já existentes e ainda
realizar novas operações policiais para coletar provas e ouvir suspeitos.
Operação
A Castelo de Areia apurou um
esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e
repasses ilícitos para políticos envolvendo executivos da empreiteira Camargo
Corrêa, entre 2009 e 2011. Dentre os nomes que apareceram nas buscas da
operação estava o do hoje presidente interino Michel Temer, em uma planilha com
os nomes de vários políticos que receberam doações da empreiteira. Em 2011 o
STJ decidiu por anular toda a operação, sob o argumento de que ela foi baseada
em uma denúncia anônima.
Com as novas descobertas da Lava
Jato, que destrinchou o espúrio relacionamento e troca de favores entre as
empreiteiras e os principais partidos políticos do País, a força-tarefa da
operação chegou a pedir ao Supremo em 2015 que fosse reaberta a Castelo de
Areia, mas o pedido foi negado.
COM
A PALAVRA, AS DEFESAS:
O ex-presidente José Sarney
disse em nota ao Jornal da Globo ser amigo de Sérgio Machado há muitos anos e
afirmou que as conversas que teve com ele foram marcadas pela solidariedade.
Segundo ele, muitas vezes procurou dizer palavras que ajudassem a superar as
acusações que Machado enfrentava. Sarney disse, ainda, lamentar que conversas
privadas tornem-se públicas porque podem ferir outras pessoas.
Teori Zavascki informou que não iria
comentar o teor dos áudios. O ex-ministro Cesar Asfor Rocha não foi localizado.
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