Crise política afeta fé na saúde da
jovem democracia, destaca jornal norte-americano.
"Muitos suspeitam que os esforços para tirar a Sra. Rousseff têm mais a ver com a decisão dela de permitir que promotores avançassem com investigações na Petrobras"

Por Pamela Mascarenhas
Jornal do Brasil
Em editorial publicado na versão
impressa desta sexta-feira (13), o New York Times aponta que a presidente
afastada Dilma Rousseff paga um "desproporcional" alto preço por
erros de administração, enquanto muitos de seus mais vigorosos detratores são
acusados de crimes bem mais graves. Além de passar pela pior recessão desde
1930, frisa o Conselho Editorial do jornal norte-americano, agora o Brasil
assiste à crise política debilitar a confiança na saúde de uma jovem
democracia.
Para o jornal norte-americano, Dilma
Rousseff pode até ter problemas no trato político e ter uma liderança que não
impressiona, mas não há "evidência de que ela tenha abusado de seu poder
para obter vantagem pessoal", enquanto muitos dos políticos que orquestram
sua queda têm sido implicados em um enorme volume de escândalos de propina.
O presidente interino Michel Temer, por
exemplo, salienta o editorial, pode ficar inelegível por oito anos porque
autoridades eleitorais recentemente apontaram violação aos limites de
financiamento de campanha.
"Horas depois dos senadores votarem
esmagadoramente para colocá-la em julgamento por suposta manobra financeira, a
presidente do Brasil Dilma Rousseff denunciou o esforço para afastá-la como um
golpe. 'Eu posso ter cometido vários erros, mas eu nunca cometi crimes', disse
a Sra. Rousseff. Isso é discutível, mas a Sra. Rousseff está certa em
questionar os motivos e a autoridade moral dos políticos que procuram
derrubá-la", inicia o editorial.
O NYT lembra que na semana passada o
Supremo brasileiro determinou que Eduardo Cunha, "o veterano parlamentar
que liderou o esforço para derrubar a Sra. Rousseff", deveria ser afastado
do cargo por prática de corrupção.
A presidente Dilma é acusada de usar
Dilma de bancos estatais para encobrir déficits orçamentários, "uma tática
que outros líderes brasileiros empregaram no passado sem enfrentarem tamanho
escrutínio". "Muitos suspeitam, contudo, que os esforços para tirar a
Sra. Rousseff têm mais a ver com a decisão dela de permitir que promotores
avançassem com as investigações na Petrobras, a companhia estatal de
petróleo."
Se o mandato da Sra. Rousseff é
encurtado, os brasileiros deveriam eleger um novo líder
Compondo este quadro problemático, o
governo ainda lida com o surto do vírus zika, pouco antes do início da
Olimpíada no Rio de Janeiro.
"As recentes investigações sobre
corrupção, que têm exposto uma podre elite que governa, têm indignado os
brasileiros. Se o mandato da Sra. Rousseff é encurtado, os brasileiros deveriam
ter a permissão para eleger um novo líder prontamente", sugere o New York
Times.
"Uma nova eleição poderia ser feita
em breve se a corte eleitoral, que tem investigado alegações de que o dinheiro
do escândalo da Petrobras teria ido para a campanha da Sra. Rousseff em 2014,
invalidar sua última vitória. Alternativamente, o Congresso poderia aprovar uma
lei para convocar eleições antecipadas", completa o editorial.
Enquanto Dilma Rousseff não gerenciou
efetivamente o país, salienta o NYT, os senadores que aprovaram sua saída
precisam lembrar que ela foi eleita duas vezes, e que o Partido dos
Trabalhadores ainda têm um apoio considerável, principalmente entre os milhões
que foram tirados da pobreza nas últimas décadas.
"A confiança na Sra. Rousseff e no
seu partido podem ter afundado nos últimos meses. Mas a Sra. Rousseff está para
pagar um desproporcional alto preço por erros de administração, enquanto muitos
de seus mais vigorosos detratores são acusados de crimes bem mais graves. Eles
precisam perceber que muito do fogo que tem sido direcionado a ela vai em breve
ser redirecionado a eles", conclui o editorial.
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