Presidente afastado da Câmara é
acusado de ter recebido R$ 52 milhões em propina nas obras do Porto Maravilha,
no Rio de Janeiro
O procurador-geral da República
Rodrigo Janot e o presidente da
Câmara afastado Eduardo Cunha lado a lado em
sessão do STF
GUSTAVO AGUIAR
O ESTADO DE
S.PAULO
BRASÍLIA - O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, ofereceu, nesta sexta-feira, 10, a terceira denúncia
contra o presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na
Lava Jato. O peemedebista é acusado de ter recebido R$ 52 milhões em propina
nas obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
A informação apareceu no
andamento do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) no início da noite
desta sexta-feira e, minutos depois, foi retirada, ao mesmo tempo em que a
mensagem "lançamento indevido" passou a aparecer. Apesar disso, duas
petições "sob sigilo" foram incluídas no sistema interno no momento
em que o oferecimento de denúncia foi retirado do caso.
O procedimento indica que o
oferecimento da denúncia deveria tramitar em oculto no sistema e foi lançado de
forma indevida. As assessorias de imprensa do STF e da PGR não souberam
explicar o que ocorreu; tampouco negaram que a denúncia tenha sido enviada à
Suprema Corte.
Segundo as investigações, Cunha
teria solicitado e recebido propina de um consórcio formado pelas empreiteiras
Odebrecht, OAS e Carioca Christiani Nielsen Engenharia. O inquérito, aberto em
março deste ano, tem como base as delações dos empresários Ricardo Pernambuco
Júnior e seu pai Ricardo Pernambuco.
Ambos implicaram no esquema do
Porto Maravilha Cunha, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o doleiro
Mário Góes, operador de propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobrás
entre 2004 e 2014. Segundo os empresários, o peemedebista teria recebido o
equivalente a 1,5% dos títulos comprados pelo Fundo de Investimentos do FGTS
(FI-FGTS), paga em 36 parcelas. A primeira transferência, de quase US$ 4 milhões,
foi realizada para uma conta no Israel Discount Bank.
No pedido de abertura de
investigação, feito por Janot ao STF em fevereiro, o procurador-geral acentuou
que as informações repassadas pelos delatores são “robustas”. A investigação
preliminar já conta com documentos bancários que indicam transferências,
extratos de contas na Suíça e correspondências eletrônicas.
A nova denúncia deverá ser
analisada pelos 11 ministros do Supremo e, se for aceita, Cunha se tornará réu
em mais uma ação penal da Lava Jato. Ele já responde nesta condição, ao lado da
ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), por suspeita de desvio de dinheiro em
contratos da Petrobrás para a compra de navios-sonda.
Janot também denunciou Cunha no
inquérito que o investiga por manter contas na Suíça que teriam sido
abastecidas com recursos desviados da estatal. O ministro Teori Zavascki,
relator da Lava Jato no STF, liberou este caso para a pauta do plenário nesta
sexta. Agora, cabe ao presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, incluir a discussão
na pauta.
Outro
lado
Em nota, Cunha informou que não
tem relação com os fatos da denúncia e negou qualquer recebimento de vantagem
indevida. O deputado ainda fez acusações contra Janot. “É estranha a
seletividade do PGR com relação a mim, onde nenhum dos três inquéritos que
originaram as respectivas denúncias não chegaram nem a tomarem a minha oitiva
para ter a oportunidade de rebater os fatos, o que é anormal e não acontece em
situações semelhantes.
Ele diz estranhar o que chamou
de “verdadeira avalanche de vazamentos criminosos e denúncias” contra ele a
família na mesma semana em que seria julgado pelo Conselho de Ética da Câmara,
e disse que as informações contra ele “aparecem para criar o clima de pressão
nesse processo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário