O
empreiteiro Ricardo Pessoa, primeiro delator de grande empreiteira da Lava
Jato, explicou ao juiz Sérgio Moro nesta quinta como fez doações oficiais e
entregas em espécie ao PT como propina da Petrobrás.

POR RICARDO BRANDT,
JULIA AFFONSO,
MATEUS COUTINHO E FAUSTO MACEDO
O Estado de São Paulo
“Político quando está em campanha, ele só se
preocupa com a receita e não controla despesas.” A opinião é do dono da
empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, ao analisar os repasses de propinas que eram
feitos em dinheiro em espécie para políticos, em depoimento ao juiz federal
Sérgio Moro, em Curitiba, nesta quinta-feira, 16. O empreiteiro foi uma das
testemunhas de acusação contra o marqueteiro do PT João Santana e o dono da
Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht.
“Isso significa que eles são
muito desorganizado a como conduzir uma campanha. Como eles têm muitas despesas
pequenas, que somadas passam ser grandes, então é muito mais fácil eles
receberem em espécie”, disse Pessoa, delator da Lava Jato, em mais um
depoimento prestado a Moro, desde que foi preso em 14 de novembro de 2014 –
alvo da 7ª fase, Juízo Final.
Pessoa confirmou em juízo que
pagava propinas ao PT, via ex-tesoureiro João Vaccari Neto, por ordem do
ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque – indicado pelo partido ao
cargo. E também que repassou valores em espécie, que não eram de propina, a
pedido dos políticos.
“No caso de Vaccari, a grande,
quase absoluta, maioria (da propina), era depositado na conta do Partido dos
Trabalhadores, a maioria no Diretório Nacional”, detalhou o dono da empreiteira
UTC. Segundo ele, pelo menos R$ 2 milhões foram repassados em espécie para
Vaccari.
“Foram solicitações de Vaccari,
ele pediu e eu dei em espécie.”
Pessoa também confirmou que, em
2012, a UTC fez pagamentos a uma gráfica para a campanha do prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad (PT).
Questionado por advogados,
Pessoa confirmou em juízo o conteúdo de suas delações em que relatou repasse de
doações em espécie para o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), para o
deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP) e para o ex-deputado Valdemar Costa
Neto (PR-SP).
No caso da doação ao tucano
Aluísio Nunes, líder do governo interino no Senado, Pessoa disse que pagou em
espécie a pedido dele e que os repasses não eram relacionados a propina, apesar
de serem feitos fora do sistema de doação oficial à campanha ou ao partido.
“Muitos pagamentos por fora foram feitos por solicitação dos políticos, mas não
necessariamente estavam ligados a propina, muito pelo contrário.”
Sistemática
Pessoa voltar a
contar que as propinas eram cobradas após fechamentos dos contratos. “A medida
que se ganhava um contrato, nós éramos instados a fazer um pagamento, uma parte
para a casa, que que a Diretoria de Serviços, outra parte para o partido
político”, explicou Pessoa, ao ser questionado pela procuradora da República
Laura Tessler, da força-tarefa da Lava Jato.
“Renato Duque sempre encaminhou
para João Vaccari Neto”, afirmou o delator. “À medida que você assinava um
contato de uma unidade algum prestação de serviço da Engenharia, ao conversar
com próprio diretor Duque, ele lhe encaminhava e perguntava se tinha conversado
com o senhor Vaccari, ao mesmo tempo que Barusco nos procurava para conversar
sobre a participação deles.”
A procuradora quis saber o que
era a participação. “Propina”, confirmou o dono da UTC.
“Ao longo do tempo isso passou a
ser automático”, explicou Pessoa. Vaccari procurava a empresa e sabia sobre o
“contrato, valores, tudo”. “Geralmente era 1%, meio por cento para o partido,
meio por cento através do Barusco para o que eles chamavam Casa (funcionários
da Petrobrás)”.
Moro ouviu ainda os depoimentos
de Walmir Pinheiro Santana, funcionário da UTC, responsável pelas entregas de
valores da empreiteira e o lobista Miltom Pascowitch, operador de propinas da
empreiteira Engevix.
Nenhum comentário:
Postar um comentário