Pela estimativa do Planalto, a cassação de Dilma está nas mãos de 15 senadores. Hoje, 38 se posicionam a favor do impedimento – são necessários 54.
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Temer está sendo pressionado por senadores em troca de apoio no julgamento do processo de impeachment |
PEDRO VENCESLAU E VALMAR HUPSEL
FILHO
O ESTADO DE S. PAULO
Do apoio do Planalto em disputas
locais a indicações para cargos em estatais e até para o comando do BNDES – o
maior financiador de empresas do País –, o presidente em exercício Michel Temer
está sendo pressionado por senadores em troca de apoio no julgamento do
processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A votação final
está prevista para acontecer até o fim de agosto.
Por causa do assédio, Temer tem
recebido parlamentares no Palácio do Jaburu para almoços, jantares e reuniões,
marcados muitas vezes fora da agenda oficial. Nos encontros, escuta mais do que
fala. “O Temer está comprando a bancada. É uma compra explícita de apoio”,
disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR), peemedebista contrário à saída de
Dilma.
Para interlocutores do governo
no Senado, o “movimento” nada mais é do que uma lista de demandas. O caso mais
pitoresco, segundo relatos de três senadores próximos a Temer, é o de Hélio
José (PMDB-DF). Ele pediu 34 cargos, entre os quais a presidência de Itaipu,
Correios, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e até o comando
do BNDES.
O senador foi convencido por
colegas da inviabilidade dos pedidos e do risco político que correria em sua
base se apoiasse Dilma. Não levou nada e ainda decidiu votar pelo afastamento.
O senador Romário (PSB-RJ), que
votou pela admissibilidade do impeachment, ficou indeciso sobre o afastamento
definitivo poucos dias depois. A dúvida foi comunicada ao Planalto acompanhada
de uma fatura. Ele pediu o comando da Secretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência e uma diretoria em Furnas. A primeira vaga
já havia sido prometida para a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP). Cadeirante e
militante histórica, ela queria emplacar um nome da área. Romário ganhou apenas
o cargo, que ficou com a ex-deputada Rosinha da Adefal.
Ex-presidente do Cruzeiro, o
senador Zezé Perrella (PTB-MG) conseguiu pôr seu filho, Gustavo Perrella, na
Secretaria Nacional do Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor.
Em outra frente de pressão,
Temer é cobrado a se posicionar politicamente em disputas locais. O caso mais
emblemático é o do Amazonas, onde o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB),
aliado do senador Omar Aziz (PSD), é adversário do senador Eduardo Braga
(PMDB). Todos são aliados de Temer e estarão em lados opostos na eleição
municipal.
O senador peemedebista
reivindica o apoio do presidente em exercício para seu candidato, Marcos Rota.
Já Aziz quer que Temer ajude Virgílio. No Placar do Impeachment do Estado,
Braga consta como indeciso e Aziz não quis responder.
Temer enfrenta o mesmo dilema no
Paraná, onde dois aliados, o governador Beto Richa (PSDB) e o senador Álvaro
Dias (PV), são adversários políticos e disputam influência em Itaipu.
Contas
Pela estimativa do Planalto, a
cassação de Dilma está nas mãos de 15 senadores. Hoje, 38 se posicionam a favor
do impedimento – são necessários 54. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu
Padilha, se recusa a revelar a “estratégia” para evitar a volta da petista.
“Não vou revelar nomes, mas temos um controle diário dentro do Senado. Temos
informação do movimento de todos, até mesmo daqueles que se dizem indecisos”,
disse, em um almoço com empresários na semana passada.
O titular da Secretaria de
Governo, Geddel Vieira Lima, confirmou que tem dialogado com senadores que buscam
espaço no governo. “As conversas estão sendo republicanas e não está havendo
essa pressão que se imagina, não”, afirmou.
As articulações são criticadas
pela oposição. “Quando há um processo de julgamento de uma presidente, há uma
alteração da condição do senador, que vira juiz. No período do julgamento, ele
não pode negociar posição com cargo”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Senadores que estiveram com
Temer disseram que não trataram do afastamento. “Ele não tocou no assunto. Eu
disse que ele precisava de uma agenda para os excluídos e perguntei quem iria
pagar pelo ajuste”, disse Cristovam Buarque (PPS-DF), indeciso sobre o voto
final e que também visitou Dilma. Na admissibilidade, ele votou contra a
presidente.
Hélio José relativizou suas demandas.
Ele disse que sugeriu nomes “apenas quando foi consultado” e considerou um
“folclore” a lista de cargos que teria apresentado. A assessoria de Romário
afirmou, por meio de nota, que não houve negociação por seu voto no impeachment
e negou a demanda por uma diretoria em Furnas. Procurados, Perrella, Braga e
Aziz não foram localizados. Álvaro Dias disse que “quer distância” de cargos.
DEMANDAS
Secretaria
de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência
O senador Romário (PSB-RJ), que
votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff na primeira fase do processo,
posiciona-se, agora, como indeciso e pediu o comando da secretaria e conseguiu.
O cargo estava prometido para a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), mas ficou com
a ex-deputada alagoana Rosinha da Adefal, aliada de Romário.
‘Lista’ de cargos
Segundo relatos de senadores
próximos a Temer, Hélio José (PMDB-DF) apresentou ao governo uma “lista”
pedindo 34 cargos, entre os quais a presidência dos Correios, Itaipu e o
comando do BNDES. Não obteve sucesso. O senador peemedebista nega ter feito
qualquer pedido.
Manaus
O senador Eduardo Braga
(PMDB-AM) quer o apoio de Temer ao seu candidato a prefeito de Manaus, Marcos
Rota (PMDB). Já o senador Omar Aziz (PSD-AM) quer que o presidente em exercício
ajude Arthur Virgílio, do PSDB. No Placar do Impeachment do ‘Estado’, nem Braga
nem Aziz tem um posicionamento definido sobre o processo.
Jader
Barbalho
O senador peemedebista, que
conseguiu emplacar o filho, Helder Barbalho, no comando do Ministério da
Integração Nacional, estaria condicionando seu posicionamento no julgamento
final do impeachment de Dilma à manutenção do filho na pasta. Jader, no Placar
do Impeachment do ‘Estado’, está no grupo dos que não quiseram responder.
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