Desde
a última quarta-feira (13), foram registrados 21 ataques a policiais militares,
delegacias, ônibus e à sede da guarda municipal. Seis pessoas ficaram feridas,
dentre elas três policiais militares. Um deles morreu.
JOÃO PEDRO PITOMBO
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
RENATO RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FORTALEZA
A auxiliar de cozinha Kerliane Lima, 35,
esperava um ônibus na orla da praia de Iracema, região turística de Fortaleza
no início da tarde desta terça-feira (19). Apreensiva, apertava a bolsa contra
o tronco e torcia para logo chegar em casa, em segurança.
"A gente fica em pânico porque não
sabe o que pode acontecer", disse ela à Folha. No dia anterior, três
ônibus haviam sido incendiados na capital cearense e outros dois em Pacajus,
cidade vizinha.
Foi mais um capítulo de uma série de
ataques de bandidos que colocou o Ceará em alerta nos últimos seis dias.
Desde a última quarta-feira (13), foram
registrados 21 ataques a policiais militares, delegacias, ônibus e à sede da
guarda municipal. Seis pessoas ficaram feridas, dentre elas três policiais
militares. Um deles morreu.
Entre sexta-feira (15) e domingo (17),
foram registrados 39 assassinatos no Estado, numa média de 13 por dia. Em
condições normais, esta média costuma ser de duas pessoas assassinadas por dia.
A Secretaria da Segurança Pública do
Ceará afirma que os ataques foram ordenados de dentro de penitenciárias da
Grande Fortaleza após uma apreensão de 504 telefones celulares em poder dos
presos.
Em nota, diz que os ataques são uma
represália "ao trabalho que vem sendo feito nas unidades prisionais, como
vistorias, apreensões de celulares e transferências de presos mais perigosos
para presídios federais".
De acordo com o delegado-geral da
Polícia Civil do Ceará, delegado Andrade Júnior, 30 pessoas foram identificadas
como mandantes ou autoras dos ataques. Oito suspeitos forma presos. "A
polícia não está inerte", disse.
No último sábado (16), o governador
Camilo Santana (PT) anunciou a criação de uma delegacia de combate ao crime
organizado, para investigar ações ordenadas a partir de presídios.

CLIMA
DE TENSÃO
Os ataques geraram clima de insegurança
para quem vive na capital cearense ou está visitando a cidade.
Na praia de Iracema, comerciantes
reclamam da falta de policiamento e afirmam que roubos e furtos são recorrentes
na região. Com os ataques a ônibus e delegacias, o clima de insegurança
aumentou. "As pessoas estão evitando ficar na rua", diz Francisco de
Assis, 27, que vende água e refrigerante na orla da capital.
Guias orientam aos turistas a
permanecerem nas três primeiras quadras da orla, a partir da praia, região onde
ficam os principais hotéis da cidade. "Não recomendamos que os turistas
andem além disso. É perigoso", diz Lucas Souza, 21, que organiza passeios
para praias em cidades vizinhas.
Viajando a passeio, a analista
financeira Bárbara Alencar, 27, desembarcou em Fortaleza na última
quarta-feira, dia em que começaram os ataques. E diz que, desde então, a
sensação é de insegurança: "Com esses ataques, fico receosa de sair à
noite", diz a turista que veio de São Paulo.
Entre policiais e guardas municipais, o
clima é de aflição. A Polícia Militar orientou que as viaturas circulem em
comboio com o objetivo de inibir novos ataques. O policiamento a pé nas ruas
passou a ser feito não mais em duplas, mas em quartetos.
"Nos sentimos de mãos-atadas",
afirma o soldado da Polícia Militar Rafael Lima, presidente em exercício da
Associação dos Profissionais de Segurança (APS). Ele diz esperar que o governo
do Estado aja com rapidez para "intimidar os criminosos e cessar esses
ataques".
OUTROS
ATAQUES
Esta é a terceira onda de ataques a
prédios públicos no Ceará desde o início deste ano. Em março, bandidos atacaram
com tiros delegacias, ônibus e a sede da Secretaria da Justiça e Cidadania,
responsável pela administração do sistema carcerário.
Em abril, cerca de 13 kg de explosivos
foram encontrados próximos ao prédio da Assembleia Legislativa. Há suspeita de
que a iniciativa tenha partido de dentro de presídios estaduais em retaliação à
aprovação de projeto de lei que determinava a instalação de bloqueadores de
celular nos presídios cearenses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário