Rádio Voz do Maranhão

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Temer fez acordo para preservar mandato de Eduardo Cunha, diz O Globo

Por Fernando Brito

Horas depois do anúncio melodramático de sua saída, vai ficando claro que a renúncia de Eduardo Cunha é um jogo que, a esta altura, interessa tanto ou mais ao Governo Temer do que ao próprio deputado.

O insuspeito jornal O Globo publica, neste momento, como manchete:

O acordo que possibilitou a renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara consistiu em lhe dar uma sobrevida ao fazer com que seu processo retorne ao Conselho de Ética. Em uma articulação da qual participaram o presidente interino, Michel Temer, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PMDB-PR), além de outros parlamentares do PMDB e de partidos da base, ficou decidido que, em troca da renúncia, o processo de cassação do mandato do qual Cunha é alvo será devolvido, de ofício, ao Conselho.

Trocando em miúdos, o presidente da República em exercício é cúmplice direto da tentativa de salvar o mandato de um ladrão, o ladrão que lhe deu, com a montagem da votação que abriu o processo de impeachment, a cadeira do Palácio do Planalto.

A matéria, das repórteres Júnia Gama, Isabel Braga e Letícia Fernandes traz a confissão explícita de um dos participantes do “acordão”:

Há uma forte preocupação, tanto no Palácio do Planalto, quanto entre os parlamentares, com a possibilidade de Cunha passar a tomar “atitudes desesperadas” para proteger sua família e a si mesmo. Foi para aliviar este cenário que foi costurada a solução da renúncia em troca da devolução de seu processo ao Conselho de Ética.
— Sabemos que haverá reação contrária a esta articulação, mas é preciso calcular o custo-benefício. Ele renunciou, que é o que todos desejavam, e ganhará um tempo para trabalhar em sua defesa. Isto distensiona o ambiente e tira ele, ao menos momentaneamente, da encruzilhada. Sabe-se lá que reações pode ter um animal que está encurralado.

Ou seja, há o temor de que Cunha comece a falar o que não deve sobre a conspiração que armou com o então vice-presidente e sabe-se lá que mais das suas capacidades de influência que ficam a cada dia cada vez mais claras à media em que seus cúmplices nos achaques vão confessando para escapar à prisão.

Com acordo e tudo, será difícil entregar a Cunha a volta a “estaca-zero” de seu processo de cassação.

Pouco importa, quando isso acontecer, com a fúria da base governista de votar imediatamente a escolha do novo presidente da Câmara, onde o apoio – ainda ue discreto – de Temer vai ser dívida eterna do eleito, vai deixar o cadáver de Cunha apodrecendo e minguando.

A não ser para os que acreditam em maldição de zumbis.

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