Por Fernando Brito
Horas depois do anúncio melodramático de
sua saída, vai ficando claro que a renúncia de Eduardo Cunha é um jogo que, a
esta altura, interessa tanto ou mais ao Governo Temer do que ao próprio
deputado.
O insuspeito jornal O Globo publica,
neste momento, como manchete:
O acordo que possibilitou a
renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara
consistiu em lhe dar uma sobrevida ao fazer com que seu processo retorne ao
Conselho de Ética. Em uma articulação da qual participaram o presidente interino,
Michel Temer, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Osmar
Serraglio (PMDB-PR), além de outros parlamentares do PMDB e de partidos da
base, ficou decidido que, em troca da renúncia, o processo de cassação do
mandato do qual Cunha é alvo será devolvido, de ofício, ao Conselho.
Trocando em miúdos, o presidente da
República em exercício é cúmplice direto da tentativa de salvar o mandato de um
ladrão, o ladrão que lhe deu, com a montagem da votação que abriu o processo de
impeachment, a cadeira do Palácio do Planalto.
A matéria, das repórteres Júnia Gama,
Isabel Braga e Letícia Fernandes traz a confissão explícita de um dos
participantes do “acordão”:
Há uma forte preocupação, tanto no
Palácio do Planalto, quanto entre os parlamentares, com a possibilidade de
Cunha passar a tomar “atitudes desesperadas” para proteger sua família e a si
mesmo. Foi para aliviar este cenário que foi costurada a solução da renúncia em
troca da devolução de seu processo ao Conselho de Ética.
— Sabemos que haverá reação
contrária a esta articulação, mas é preciso calcular o custo-benefício. Ele
renunciou, que é o que todos desejavam, e ganhará um tempo para trabalhar em
sua defesa. Isto distensiona o ambiente e tira ele, ao menos momentaneamente,
da encruzilhada. Sabe-se lá que reações pode ter um animal que está
encurralado.
Ou seja, há o temor de que Cunha comece
a falar o que não deve sobre a conspiração que armou com o então
vice-presidente e sabe-se lá que mais das suas capacidades de influência que ficam
a cada dia cada vez mais claras à media em que seus cúmplices nos achaques vão
confessando para escapar à prisão.
Com acordo e tudo, será difícil entregar
a Cunha a volta a “estaca-zero” de seu processo de cassação.
Pouco importa, quando isso acontecer,
com a fúria da base governista de votar imediatamente a escolha do novo
presidente da Câmara, onde o apoio – ainda ue discreto – de Temer vai ser
dívida eterna do eleito, vai deixar o cadáver de Cunha apodrecendo e minguando.
A não ser para os que acreditam em
maldição de zumbis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário