
Por Jean Wyllys, no Facebook
Dessa vez, o nível de
arbitrariedade, irresponsabilidade e desprezo pelas garantias legais por parte
dos membros do Ministério Público Federal que conduzem a operação Lava Jato
bateu seu recorde.
Ao apresentar suas “razões” para
tentar incriminar Lula — proposta que ainda será avaliada em preliminares e no
mérito por um juiz — o MPF do Paraná conseguiu transformar o que deveria ser
uma denúncia séria e sustentada em provas num constrangedor comício político
anti-Lula e antipetista, cuja estrela principal foi um tosco power point que,
em minutos e acertadamente, virou alvo de chacota nas redes sociais.
Apenas a Globo News e a home da
Folha de São Paulo levaram aquele esquema de ensino fundamental a sério. Por
que será?
Os digníssimos procuradores
iniciaram o comício com uma frase que fez corar qualquer pessoa com
conhecimento mínimo em Filosofia do Direito e Teoria da Justiça: não teremos
provas, mas temos convicções!
Repito: Não teremos provas, mas temos
convicções. Ou seja, bastam as convicções dos procuradores para de se
incriminar uma pessoa! Surreal! E surreal é a imprensa lhe dar microfones sem
crítica.
Como se não houvesse no Brasil um
rito legal para ser seguido em casos de corrupção, uma “denúncia” é apresentada
num evento claramente político transmitido ao vivo por televisão, assim como um
lançamento da nova programação da Globo para potenciais anunciantes.
Sem provas, nem argumentos
objetivos, foram apresentados sucessivos desenhos e gráficos no modelo power
point que “mostram” a misteriosa relação entre as “reações de Lula”, a
“expressividade” e “Lula”, grande, no centro.
Parece uma piada? E é uma piada:
não há outra maneira de encarar aquilo. A falta de consistência na peça
processual foi substituída por estratégias mais próprias de um aluno que não
estudou para a prova… Aliás, a apresentação tem a cara de quem faz curso de
Direito à base de apostila e slides!
A “tese” apresentada como
“notícia bomba” não traz nenhum fato novo e repete, em grande medida, a “teoria
do domínio do fato”, antes utilizada no julgamento do “mensalão” (não, não
estou me referindo à compra de parlamentares para garantir a reeleição de
Fernando Henrique Cardoso; este “mensalão” nunca foi julgado nem chegou às manchetes
dos jornais), ou seja, se Lula era o líder de um grupo político, conclui-se que
sabia de todos os supostos crimes cometidos pelos membros do seu governo
(dentro e fora dele); supõem um sequestro da consciência e da vontade dos
subalternos por parte de Lula.
É a “paranoiacracia”!
Vejam que não há muita diferença
entre os surtos de Janaína Paschoal e as “convicções” dos procuradores do
Paraná! Eles parecem a reencarnação das fanáticas de Salem.
No país que viu um governador
(atual senador) construir aeroporto na fazenda do tio com dinheiro público e
outro dançar em Paris de guardanapo na cabeça junto de empresários ligados a
esquemas de corrupção, Lula é apresentado como “o maior dos corruptos” que, ao
final da história, restaria com um simples apartamento mediano no Guarujá (no
Guarujá!) e que, até agora, não está provado que seja mesmo dele. É uma
situação tão ridícula (mas igualmente revoltante!) que só poderia mesmo acabar
em memes nas redes sociais.
A duas semanas da eleição, parece
no mínimo “oportuno” apresentar fatos que já eram de conhecimento das pessoas
num grande show. É o MPF do Paraná buscando intervir no resultado das eleições
municipais sem apresentar candidaturas claras!
Ora, há nessa ação dos
procuradores da Lava Jato um desrespeito profundo das garantias jurídicas; e a
imprensa embarca no desrespeito por razões político-partidárias, afamando
concurseiros com salários astronômicos e pouco senso de justiça. Isso é
intolerável!
Se o procurador diz que não terá
“provas cabais de que Lula é efetivo proprietário no papel do apartamento”, mas
que tem “convicção”, eu posso afirmar que tenho a convicção de que os
procuradores responsáveis pelo caso são uns burocratas classistas, com baixa
compreensão da política e servidores indiretos dos corruptos e plutocratas do
PSDB e do DEM. E aí?
Convicção por convicção, eu fico
com a minha!
Jean Wyllys é duputado federal
(Psol-RJ).
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