‘Um
véu para encobrir critérios políticos e pessoais’, diz PF sobre desvios na
Saúde do Maranhão.
PF investiga esquema entre 2010 e 2013
que chegou a retirar R$ 36 milhões do SUS no Estado.
Investigação denominada Sermão dos
Peixes revela 'desvio de centenas de milhões de reais'.
Julia Affonso
O Estado de São Paulo
A Operação Sermão dos Peixes, da Polícia
Federal, aponta que a terceirização do sistema de saúde no Maranhão, entre 2010
e 2013, foi usada ‘como um véu para encobrir contratações feitas sem licitação
e por critérios políticos e pessoais’. Segundo a PF, o esquema permitiu o
‘desvio de centenas de milhões de reais’.
A Sermão dos Peixes investiga desvios de
pelo menos R$ 36 milhões do SUS no Estado, durante a administração de Ricardo
Murad, cunhado da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), na Secretaria Estadual
de Saúde.
Relatório da PF que levou à deflagração
da Abscôndito – desdobramento da Sermão dos Peixes – na quinta-feira, 6, afirma
que foram feitos ‘saques vultosos’ das contas bancárias dos hospitais estaduais
administrados pela organização social Instituto Cidadania e Natureza (ICN) e
pela organização de sociedade civil de interesse público (OSCIP) Bem Viver – Associação
Tocantina para o Desenvolvimento da Saúde.
Os valores sacados, segundo a Federal,
foram desviados para diretores do ICN e outros investigados.
De acordo com os demonstrativos de
prestação de contas entregues pelas entidades, o ICN e a Bem Viver receberam da
Secretaria de Saúde do Maranhão, a título de taxa administrativa, entre 2010 a
2013, os montantes de R$ 43.062.943,61 e R$ 30.765.187,76, respectivamente. A
Polícia Federal afirma que não houve comprovação da aplicação dos recursos
provenientes da cobrança da taxa de administração de R$ 73.828.131,37 e ‘foi
verificado indícios de fraude contábil praticada pela Bem Viver’.
“O Estado terceirizou o serviço de
saúde, mas permaneceu no controle das contratações e subcontratações, que eram
decididas a fim de atender interesses pessoais e partidários, passando,
inclusive, por cima, de critérios técnicos apontados por gestores dos
institutos”, aponta o documento. “Há indícios de desvios de recursos públicos
nas mais diversas modalidades, desde o superfaturamento em determinados
contratos, passando pelo pagamento de funcionários fantasmas e em saques
vultosos diretamente das contas bancárias dos hospitais administrados pelo ICN
e pela Bem Viver.”
A investigação revelou que o suposto
esquema de desvio de recursos públicos e de lavagem de dinheiro teria atuado
por meio de cheques de pequeno valor. Segundo a PF, nos mesmos dias em que os
cheques eram descontados, ‘surgiam depósitos online’ na conta de pessoas
vinculadas ao ICN.
“Durante a análise das transações
financeiras das contas vinculadas ao ICN, chamou a atenção desta equipe de
investigação a grande quantidade de cheques com valores de até R$ 10 mil
descontados na ‘‘boca do caixa’’ e preenchidos em valores redondos, o que não é
usual quando se refere ao custeio de contas públicas, que, em regra, envolve o
pagamento ou a retenção de tributos em percentuais pré-determinados,
circunstância que, naturalmente, faz com que as transações ocorram em números
‘‘quebrados’’, ou seja, com delimitação até à casa dos centavos”, registrou o
delegado federal Wedson Cajé Lopes, que subscreve o relatório.
“Tal circunstância chamou a atenção
desta equipe de investigação para o fato de que os investigados estariam
utilizando desse método para desviar recursos públicos diretamente das contas
dos hospitais.”
Segundo a Federal, em um dia – 1.º de
fevereiro de 2010 – foram descontados 12 cheques que totalizaram R$ 96,9 mil.
“Foram emitidos pelo ICN, entre janeiro
de 2010 e dezembro de 2013, pelo menos, 4.177 cheques, que totalizam a
relevante quantia de R$ 32.125.400,00.”
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