Em
10 anos, número de servidores que ganham acima do teto cresceu 3,5 vezes.
Em
2015, pelo menos 13,1 mil funcionários dos três poderes da União, Estados e
municípios receberam por mês mais que o teto constitucional de R$ 33,7 mil; no
Pará, um agente de saúde lotado no Poder Legislativo ganhava R$ 118 mil mensais
Rodrigo Burgarelli,
O Estado de S.Paulo
O número de funcionários públicos que
ganha salários acima do teto constitucional cresceu quase 3,5 vezes nos últimos
dez anos. Ao menos 13,1 mil servidores dos três poderes de todas as esferas
administrativas tiveram remuneração mensal média maior que o dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado: R$ 33.763.
Os números foram tabulados pelo Estadão
Dados com base nos microdados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais),
do Ministério do Trabalho e Emprego. Os dados são obrigatoriamente enviados por
todos os empregadores do País a cada ano e, por isso, permitem identificar o
pagamento de supersalários a funcionários públicos com alto nível de detalhes.
Eles revelam, por exemplo, que 54
servidores públicos ganharam, em média, mais de R$ 100 mil por mês durante todo
o ano passado – ou seja, três vezes mais do que o permitido pela Constituição.
O maior salário registrado na base – que não identifica nem o órgão nem o nome
do trabalhador – foi o de um agente de saúde pública lotado no poder Legislativo
do Pará: R$ 118 mil mensais.
O número total de funcionários públicos
recebendo acima do permitido é provavelmente maior, por três motivos. O
primeiro é que a Rais só registra servidores da ativa, e boa parte dos maiores
salários vai para aposentados que acumularam gratificações e adicionais ao
longo da carreira. Além disso, este levantamento leva em conta apenas o teto do
funcionalismo federal, que é maior que os tetos estaduais e municipais.
Por último, a Rais não registra uma
série de artifícios usados para justificar pagamentos acima do teto. Entram
nesse rol, por exemplo, o auxílio-moradia, auxílio-livro, auxílio-saúde e
outras verbas pagas a juízes e promotores, que chegam a custar mais de R$ 4 mil
mensais.
A explosão nos supersalários aconteceu,
curiosamente, em um período marcado por embates jurídicos para barrar esses
pagamentos. O principal ator nesse processo foi o STF, que considerou, em 2008,
que toda vantagem pessoal entra no limite do teto e, em 2014, que até
servidores que recebiam supersalários antes de 1988 devem ter o excedente
cortado.
Juízes e tribunais de instâncias
inferiores, porém, nem sempre seguem esses exemplos. Vários dos supersalários
decorrem de decisões de primeira ou segunda instâncias que permitem seu
recebimento. “Você tem uma parcela das elites da burocracia estatal que tem
poder, e que o usa para ganhar vantagens”, diz o professor de Direito do Estado
da USP, Floriano de Azevedo Marques.
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