Ricardo Teixeira tinha carta de renúncia preparada antes de ligação de José Sarney
Fernando Rodrigues
O ex-presidente José Sarney foi decisivo
para que Ricardo Teixeira continuasse como presidente da CBF após investigações
da CPI do Futebol em 2001.
Quando recebeu um telefonema de Sarney
aconselhando-o a esperar uns dias antes de tomar uma decisão, Teixeira já havia
até escrito sua carta de renúncia. A ligação resultou em mais 11 anos à frente
da entidade, mesmo contra sugestão de João Havelange.
A revelação foi feita pelo consultor
político e empresarial Mário Rosa em seu livro “Glória e Vergonha: memórias de
um consultor de crises”. A obra é publicada em capítulos no UOL. A 2ª parte vai
ao ar nesta 3ª feira (22.nov).
Esta resenha foi preparada pelo
jornalista Mateus Netzel e também está publicada no Poder360.
Mário Rosa trabalhou junto a Ricardo
Teixeira por mais de 10 anos. Começou com a assessoria à CBF na CPI da Nike,
conduzida pela Câmara dos Deputados em 1999. Durou um ciclo em que a seleção
brasileira foi campeã mundial, em 2002, e o mandatário foi investigado por
inúmeras acusações.
Com o chefe da CBF, o consultor rodou o
planeta e conheceu o “mundo da fantasia do futebol”, repleto de limusines,
banquetes, jatinhos e hotéis de luxo. Também foi apresentado às peculiaridades
do poder na esfera privada das entidades esportivas.
Um caso simbólico foi a disputa com a
Rede Globo no início dos anos 2000. No auge das investigações das CPIs no Congresso
e com cobertura dura da TV, Ricardo Teixeira armou para atrapalhar a
programação da emissora. Em conluio com o presidente da federação argentina,
marcou um amistoso entre Brasil e Argentina para as 20h. Exatamente o horário
do Jornal Nacional. O jogo foi ao ar e o desarranjo só se resolveu tempos
depois.
Em outro episódio curioso, presenciou um
jantar com figuras tão distintas quanto Geddel Vieira Lima, que estava prestes
a assumir um ministério no governo Lula, o recém-eleito governador da Bahia,
Jaques Wagner, o então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, e Ronaldinho
Gaúcho. Na ocasião, Jaques Wagner se encantou com o relógio de Rosell e não
refugou quando o objeto lhe foi oferecido de presente.
CASOS DO PODER
Nos capítulos da 2ª parte de sua obra,
Mário Rosa relata episódios em que socorreu políticos e empresários. Também
conta sobre quando foi jurado do concurso Miss Brasil 2012. Essa última
experiência ocorreu por meio de sua relação com Carlos Jereissati, dono da rede
de shoppings Iguatemi e promotor do evento.
Em 2009, o consultor foi contatado para
assessorar o fundador da Gol, Nenê Constantino, acusado de envolvimento em um
caso de assassinato. Acabou “demitindo” o patriarca do cargo de presidente do
conselho de administração da companhia.
Do contato com políticos, o consultor
teve a oportunidade de conhecer de perto figuras importantes para a história
recente do país, como o ex-presidente FHC; os senadores Renan Calheiros e Jader
Barbalho; e os ex-senadores Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), Luiz Estevão
e Teotônio Vilela. Todos com alguma situação para resolver, ainda que como um
favor.
De fora do eixo política-empresariado
vem o único caso de uma crise incontornável. Movido pela curiosidade
profissional e impulso humano, em sua própria definição, Mário Rosa acompanha,
de maneira informal, a derrocada do médico Roger Abdelmassih, acusado de 52
estupros e, mais tarde, condenado a 278 anos de prisão.
Ainda contornável, mas quase fora de
controle, foi a crise pessoal do consultor. Retornando ao episódio da operação
de busca e apreensão da Operação Acrônimo, Mário Rosa conta em detalhes a
entrada da Polícia Federal em sua casa e o processo de revista. Demonstra que
nem o melhor conselheiro está obrigado aos próprios juízos e nem o mais
experiente gerente de crises segue o manual quando trata de si mesmo.
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