Cármen Lúcia critica versão aprovada
pela Câmara de projeto anticorrupção
Deputados aprovaram possibilidade de
punição a juízes e promotores.
Segundo presidente do Supremo, não se
conseguirá 'calar a Justiça'.
Mariana Oliveira
Da TV Globo, em Brasília
A presidente do Supremo Tribunal Federal
e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Carmen Lúcia, divulgou nesta
quarta-feira (30) nota oficial na qual lamentou a inclusão no projeto
anticorrupção aprovado pela Câmara de medidas que, segundo ela, podem afetar a
independência do Judiciário.
Cármen Lúcia afirmou respeitar a
separação de poderes, mas frisou que cabe ao Judiciário garantir a democracia.
Ela disse que magistrados já foram cassados "em tempos mais tristes"
e que se pode "calar o juiz", mas não se conseguirá "calar a
Justiça".
"[A ministra Cármen Lúcia] não pode
deixar de lamentar que, em oportunidade de avanço legislativo para a defesa da
ética pública, inclua-se, em proposta legislativa de iniciativa popular, texto
que pode contrariar a independência do Poder Judiciário", diz o texto da
nota.
Na madrugada desta quarta-feira, os
deputados incluíram no projeto a proposta de punição de juízes e membros do
Ministério Público por abuso de autoridade.
A emenda foi apresentada pela bancada do
PDT e lista as situações em que juízes e promotores poderão ser processados,
com pena de seis meses a dois anos de reclusão. A legislação atual já prevê o
crime de abuso de autoridade, mas é mais genérica.
Entre as condutas que passariam a ser
crime estariam a atuação dos magistrados com motivação político-partidária e a
apresentação pelo MP de ação de improbidade administrativa contra agente
público "de maneira temerária".
Nesse caso, além de prisão, os
promotores também estariam sujeitos a indenizar o denunciado por danos
materiais e morais ou à imagem que tiver provocado.
Segundo a nota de Cármen Lúcia divulgada
pela assessoria do STF, "já se cassaram magistrados em tempos mais
tristes. Pode-se tentar calar o juiz, mas nunca se conseguiu, nem se
conseguirá, calar a Justiça".
Nota
da presidente do STF
Leia a íntegra da nota da presidente do
Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia:
A
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), ministra Cármen Lúcia, reafirma o seu integral respeito ao princípio da
separação de poderes. Mas não pode deixar de lamentar que, em oportunidade de
avanço legislativo para a defesa da ética pública, inclua-se, em proposta legislativa
de iniciativa popular, texto que pode contrariar a independência do Poder
Judiciário.
Hoje,
os juízes respondem pelos seus atos, na forma do estatuto constitucional da
magistratura.
A
democracia depende de poderes fortes e independentes. O Judiciário é, por
imposição constitucional, guarda da Constituição e garantidor da democracia. O
Judiciário brasileiro vem cumprindo o seu papel. Já se cassaram magistrados em
tempos mais tristes. Pode-se tentar calar o juiz, mas nunca se conseguiu, nem
se conseguirá, calar a Justiça.
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