Empreiteira
construía fábricas para Grupo Petrópolis em troca de doações para agentes
públicos
Beatriz
Bulla e Fabio Serapião,
O
Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A Odebrecht abordou em seu
acordo de colaboração com a Justiça detalhes de sua relação com a família
Faria, proprietária do Grupo Petrópolis. A Lava Jato já havia identificado que
executivos ligados à Odebrecht e o grupo eram sócios no banco Meinl Bank
Antígua, utilizado pela empreiteira para operar as contas do departamento da
propina no exterior. Na delação, além de assumirem a sociedade com Vanuê Faria,
executivos da Odebrecht vão contar como utilizaram empresas dos donos da
cervejaria Itaipava para distribuir dinheiro a políticos por meio de doações
eleitorais e entregas de dinheiro vivo.
Entre os que participaram das
negociações com integrantes da família Faria e entregaram informações sobre o
esquema estão Benedicto Júnior, o BJ, ex-presidente da Odebrecht
Infraestrutura, e Luiz Eduardo Soares, o Luizinho, funcionário do Setor de
Operações Estruturadas, o departamento da propina.
Durante as negociações, Luizinho
prometeu contar como a Odebrecht injetou cerca de R$ 100 milhões em uma conta
operada pelo contador do Grupo Petrópolis no Antígua Overseas Bank (AOB) e
construiu fábricas em troca de dinheiro no Brasil disponível para campanhas
eleitorais e pagamento de propina para agentes públicos.
No caso das doações, depois de
compensada com pagamentos no exterior, em especial na conta Legacy no AOB, o
Grupo Petrópolis utilizava algumas de suas empresas para efetuar os repasses
para campanha de políticos por ordem da Odebrecht. Ao menos duas empresas,
segundo Luizinho, a Praiamar e Leyros Caxias, teriam sido utilizadas para
escoar o dinheiro do departamento de propina para campanhas nas eleições de
2010 e 2012.
Doações
Os delatores prometeram entregar aos
investigadores planilhas das contribuições eleitorais executadas pelo Grupo
Petrópolis e os documentos relacionados ao controle da movimentação real/dólar
entre as contas das empresas. No site do Tribunal Superior Eleitoral constam
doações relacionadas à Praiamar e Leyroz. Em 2010, a Leyroz doou cerca de R$
4,3 milhões para políticos do PT, PMDB, PP, PSDB, PV, DEM, PTC, PSB, PSDC e
PSOL. Nas eleições de 2012, a empresa repassou outros 560 mil para candidatos do
PSB e PMDB. Por sua vez, a Praiamar, em 2010, doou R$ 1,1 milhão para os mesmos
partidos destinatários dos valores da Leyroz. Em 2012, foram mais R$ 1,5 milhão
para PSB, PMDB, PPS e PcdoB.
Entre os políticos que receberam as
doações da empresa, segundo o delator, por conta e ordem da Odebrecht, estão
alguns que já apareceram nas delações da Odebrecht. Como os repasses em 2010 a Aécio Neves (PSDB-MG), no valor total de R$
120 mil, Ciro Nogueira (PP) com R$ 200 mil, o tucano Arthur Virgílio (R$ 100
mil), Heráclito Fortes do PSB-PI (R$ 100 mil), o tucano Jutahy Magalhães (30
mil).
Para os pagamentos em espécie, segundo
Luizinho, a Odebrecht acionava o operador Álvaro José Galliez Novis, que já foi
alvo da Lava Jato, para distribuir o dinheiro fornecido pelo Grupo Petrópolis. De acordo com as anotações de Maria Lúcia
Tavares, secretária do departamento da propina, Novis atuava sob o codinome da
conta “Carioquinha” e "Paulistinha" e era diretor da Hoya Corretora
de Valores. Segundo relatório da PF, ele é sobrinho de Álvaro Pereira Novis,
ex-dirigente da Odebrecht na área de apoio e desenvolvimento de oportunidades e
representação.
Os investigadores já haviam encontrado
indícios da relação entre o Grupo Petrópolis e a Odebrecht na 23.ª fase de 279
políticos de 22 partidos. Com Benedicto Júnior, a Polícia Federal apreendeu uma
planilha na qual “Itaipava” está anotada à mão ao lado de um repasse de R$ 500
mil para Luís Fernando Pezão (PMDB), atual governador do Rio de Janeiro. Essa
mesma doação para Pezão está relacionada, no topo da coluna dos valores, a
“Parceito IT”.
Há ainda na planilha doações para a
campanha eleitoral de 2012, o total chega a R$ 5,8 milhões. Em outro quadro,
sem data definida, o “parceiro” aparece como responsável por doações de R$ 30
milhões a 13 partidos, entre eles PT, PMDB e PSDB.
Defesas. Por meio de sua assessoria de
imprensa, o Grupo Petrópolis afirmou "desconhecer as informações da
suposta delação, que não tem amparo na realidade e que Cleber e Vanuê Faria não
são membros do Grupo."
A Odebrecht informou que “não se
manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a
Justiça. A empresa está implantando as melhores práticas de compliance,
baseadas na ética, transparência e integridade”.
A assessoria do senador Aécio Neves reitera
que as doações feitas à campanha eleitoral ocorreram na forma legal e estão
demonstradas nos documentos públicos registrados pelo PSDB junto ao TRE-MG, em
2010.
O criminalista Antônio Carlos de Almeida
Castro, o Kakay, que defende o senador Ciro Nogueira, afirmou que não irá se
manifestar sobre delações da Odebrecht pois "tem certeza que os acordos
serão anulados em razão de ilegalidades".
O prefeito de Manaus Arthur Virgilio
afirmou que recebeu, de modo legal e com o devido registro na Justiça Eleitoral,
R$ 80 mil, “a título de colaboração da empresa Odebrecht, através de sua
subsidiária Leyroz de Caixias Indústria, Comércio e Logística” para a campanha
de 2010. “Essa é a verdade única”, afirmou o prefeito.
O deputado Jutahy Magalhães informou que
recebeu doações da Praiamar após fazer solicitação à Odebrecht. Segundo ele,
todas as doações feitas após solicitação à empreiteira estão registradas na
Justiça Eleitoral. Os contatos do parlamentar para solicitar repasses para
campanha eram feitos com o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht,
Claudio Melo Filho.
Heráclito Fortes foi procurado pela
reportagem, mas ainda não repondeu aos contatos.
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