Fabio Serapião e Ricardo Brandt
O Estado de São Paulo
A Lava Jato completa três anos em março
de 2017 impulsionada pelos desdobramentos dos inquéritos instaurados em
Curitiba, sede da operação, por seus filhotes já espalhados por seis estados
brasileiros e pela delação da Odebrecht. A expectativa dos procuradores e
delegados é que essa convergência de fatores duplique os números da
investigação que em 2016 realizou 17 operações e ofereceu 20 denúncias. Só com
o acordo da empreiteira baiana, a projeção é que, além dos seis estados com
inquéritos em andamento, ao menos outros sete transformem-se em sedes de
operações cujo objetivo é avançar sobre o “mega esquema de desvios de recursos
públicos” patrocinado por agentes públicos e privados corruptos.
Após os desmembramentos impostos pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) e o compartilhamento de informações com o
Ministério Público de outros estados, operações “filhotes” da Lava Jato já
apareceram em São Paulo (Custo Brasil), Rio de Janeiro (Irmandade, Pripyat e
Calucite), Goiás (O Recebedor e Tabela Periódica), Pernambuco (Vidas Secas e
Turbulência), Rondônia (Crátons) e no Distrito Federal (Janus). Com a delação
da Odebrecht esse número deve quase duplicar. Apenas nos documentos apreendidos
na 35ª fase, a Ommertá, os investigadores encontraram e-mails e pedidos de pagamento
via o Setor de Operações Estruturadas, o departamento da propina, atrelados a
38 projetos espalhadas em 10 estados – RJ, SP, BA, RS, PE, RN, PR, CE, PI e ES.
São obras que vão desde o metrô em São Paulo e Rio de Janeiro aos estádios da
Copa do Mundo em Pernambuco, Rio e Bahia.
Alvo de ao menos quatro fases da
operação em 2016, a empreiteira baiana foi arrastada para um acordo de
colaboração que, segundo investigadores ouvidos pelo Estado, deve duplicar o
tamanho da Lava Jato e postergar seu encerramento em ao menos dois anos. A
colaboração da empreiteira baiana também vai dobrar o número de delatores.
Segundo o MPF, até agora eram 71 pessoas físicas signatárias de acordos, com a
Odebrecht, além da maior leniência da história mundial – R$6,9 bilhões de multa
-, a investigação terá ao menos mais 77 executivos delatores que entregarão
pagamentos indevidos em cerca de 100 projetos espalhados pelo Brasil e outros
13 países.
No Brasil, a expectativa dos
investigadores e advogados ouvidos pelo Estado é que a delação atue em duas
frentes. Por um lado, as informações reveladas pelos executivos devem gerar
inquéritos nos locais onde as obras foram realizadas de modo a criar novas
forças-tarefas nos moldes das já instaladas em Curitiba, São Paulo e Rio de
Janeiro. Essa novas células de investigações devem produzir novas operações que
vão pipocar ao longo do ano em várias regiões do país.
Outra frente será resultado de um efeito
colateral do acordo da Odebrecht. Advogados já foram avisados que ao menos a
Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez terão seus acordos revistos para inclusão
de novos fatos narrados pelos executivos da empreiteira baiana. Ao recall nos
acordos soma-se ainda as novas potenciais delações. Só de empreiteiras, estão
na fila da procuradoria-geral da República (PGR) a Mendes Júnior, a Delta
Engenharia, a EIT Engenharia, a Galvão Engenharia e a OAS.
Com essa convergência de fatores, a
expectativa dos investigadores é que em 2017 os números da operações batam novo
recorde. Sobre 2016, em seu balanço a anual, os procuradores responsáveis pelos
processos sob tutela do juiz federal Sergio Moro relacionam as 17 operações
realizadas e as 20 denúncias oferecidas este ano a “intensificação dos
trabalhos ao lado da Polícia e da Receita Federal, expressando o firme
compromisso de investigar e processar todos os crimes relacionados ao maior
escândalo de corrupção da história do país.” Em quase três anos de
investigação, somente na 1ª instância, são 103 prisões temporárias, outras 79
preventivas, 197 conduções coercitivas e 730 buscas e apreensões derivadas de
1.434 procedimentos instaurados. No total, as ações derivadas dos inquéritos em
Curitiba pedem o ressarcimento de R$ 38,1 bilhões aos cofres públicos.
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