Ao receber o Nobel da Paz, o presidente colombiano citou a letra de "Blowing in the Wind" do cantor Bob Dylan, vencedor do Nobel de Literatura, deste ano. "Quantas mortes serão necessárias até que se saiba que pessoas demais já morreram?”.
Juan Manoel Santos recebe o prêmio Nobel da Paz |
*Por
Robson Paz
Robson Paz |
O Prêmio Nobel da Paz está em boas mãos.
O reconhecimento ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelo acordo de
paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) não
poderia acontecer em melhor momento. Não somente pelo documento que encerra
oficialmente um conflito de 52 anos com mais de 250 mil vítimas. Isto em si, é
algo extraordinário. Mais pelos gestos de solidariedade, que emocionaram o
planeta, protagonizados pelo povo colombiano, após a tragédia com o vôo da
Chapecoense, que vitimou 71 pessoas.
Da Colômbia partiram as manifestações
humanitárias mais confortantes que uma cidade, um estado ou país em prantos
poderia receber. A começar pela solidariedade de pessoas simples. Gente que se
dispôs a levar água, alimentos, agasalhos para os hospitais. Era a forma que
encontravam para estender a mão às vítimas.
A presteza e eficiência no resgate e
atendimento médico aos sobreviventes. Trabalho reconhecido por todos, inclusive
por eles e familiares. Dignas de aplausos atitudes humanas, como a do médico
que hospedou parentes de um dos pacientes na própria casa.
No campo do esporte, a postura do
Atlético Nacional, clube que disputaria a final da Copa Sul-Americana, em
renunciar ao título em favor da Chapecoense foi algo espetacular. Feito que
mereceu da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) reconhecimento ao
conceder-lhe o “Fair Play” pela promoção do jogo limpo, da paz e da
solidariedade.
O gesto do clube colombiano é pouco
comum nestes tempos em que a “competitividade” e “lucratividade” se sobrepõem
aos valores éticos, morais e humanos. Grandeza que os colombianos
materializaram num dos mais belos espetáculos de solidariedade e amor ao
próximo, protagonizado por milhares de pessoas que lotaram o estádio Atanasio
Girardot e seu entorno, em Medellín.
Emoção que se espraiou por todo o
planeta. De todos os campos de futebol brotaram as mais belas e variadas
homenagens. No Brasil, torcidas de todos os clubes se abraçaram num só
sentimento de comunhão. Na última rodada do Campeonato Brasileiro, todos os
clubes homenagearam a Chape.
A rede solidária construída pós-tragédia
mostra que podemos ter um mundo mais humano, em que prevaleça o respeito, a
paz, a união, o amor.
Disputas, vitórias, derrotas, sempre vão
existir. Contudo, jamais podem se sobrepor à vida. A ganância e a impunidade
serão sempre adversárias dos valores que realmente importam.
Ao receber o Nobel da Paz, o presidente
colombiano citou a letra de "Blowing in the Wind" do cantor Bob
Dylan, vencedor do Nobel de Literatura, deste ano. "Quantas mortes serão
necessárias até que se saiba que pessoas demais já morreram?”. Infelizmente,
conhecemos a força solidária do povo colombiano num momento doloroso. Mas, o
sentimento emanado por ele é um fio de esperança, de que o amor ao próximo é a
semente para florescer um mundo mais fraterno, onde o ser humano tenha mais
valor que as coisas e a coletividade seja capaz de vencer o individualismo.
*
Radialista, jornalista. Subsecretário de Comunicação Social e Assuntos
Políticos
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