Todos estamos
destinados a viver em sociedade, compartilhando os mesmos bens que a natureza
nos oferece. E também comungando os mesmos desafios humanos: doenças,
desemprego, desigualdade, injustiças. Portanto, temos o dever de encontrar
soluções coletivas que melhorem o nível de vida de todos, garantindo um futuro
de mais oportunidades a nós mesmos e às gerações futuras.
No entanto,
vivemos um momento da história em que alguns falsos profetas vendem a
possibilidade de saídas individualistas. Soluções que contemplem apenas parte
da sociedade apta a 'se virar sozinha', deixando à míngua a imensa maioria da
sociedade, que não tem o mesmo ponto de partida em oportunidades. São profetas
que semeiam em meio a um momento de desilusão da sociedade. Desânimo justificado
pela imensidão de desafios coletivos que ainda temos a enfrentar.
No entanto,
essa pregação não busca nenhuma verdadeira salvação para todos. Apenas quer
solidificar seus castelos de prosperidade, jardins cercados que isolam a
maioria da sociedade para fora de muros. Esses aventureiros sempre existiram na
história, mas nunca com resultados exitosos. E ao longo dos tempos já vestiram
várias roupas: o ditador carismático; o gestor técnico; o antipolítico; o
soldado da lei; entre outros disfarces que os defensores de privilégios
costumam usar.
O Papa
Francisco esta semana nos lembrou que, “em momentos de crise, o discernimento
não funciona”. E buscamos “um salvador que nos devolva a identidade e
defenda-nos com arames farpados”. Penso nessas palavras do Santo Padre quando
vejo a notícia do absurdo projeto de construção de um muro na fronteira dos
Estados Unidos com o México. Como se isolando uns cidadãos de outros, a vida
destes pudesse prosperar mais. Ideia em consonância com a recente saída do
Reino Unido da União Europeia, que mostra um certo espírito de época, com o
crescimento aqui e ali de posições de cunho fascista.
No Brasil, não
é diferente e também vivemos um momento semelhante. As instituições estão com
sua credibilidade destroçada, enquanto empresas e empregos desaparecem, a fim
de atender altos interesses econômicos. Vemos uma minoria que pensa ser
possível evoluirmos sem um debate democrático sobre nosso futuro. E convivemos
com ´especialistas´ que acham que o Brasil pode resolver a grave crise
econômica que vive com um ‘salve-se quem puder’, deixando à própria sorte
milhões de brasileiros. Tudo isso tem alimentado ódio, muito ódio, que grita
nas caixas de comentários de sites ou nas redes sociais.
Felizmente,
essas pulsões autoritárias e egoístas têm sido efêmeras. Perseveraram na
história da Humanidade os grandes avanços sociais de períodos em que se apostou
na solidariedade. É o caso da Era de Ouro do pós-guerra, em que foram criados e
multiplicados muitos instrumentos sociais de solidariedade existentes hoje,
como a Previdência Social e os sistemas públicos de saúde.
Não tenho
dúvida de que o Brasil vai reencontrar seu caminho de desenvolvimento e paz. E
no Maranhão seguimos a nossa luta com muita fé e otimismo, pois os resultados
aí estão. Adultos sendo alfabetizados; crianças e jovens estudando em escolas
melhores e recebendo material escolar via Bolsa Escola; restaurantes populares
sendo abertos; mais portas se abrindo na saúde; agricultores familiares
recebendo inédito apoio, entre tantas conquistas derivadas de uma firme e
autêntica opção pela Justiça Social. Por isso, tenho convicção de que vamos
atravessar esses tempos sombrios no planeta. Servirão para tornar mais profundo
na memória coletiva o valor milenar do humanismo.
Lembro
novamente do Papa Francisco alertando sobre os falsos profetas que,
"diante da necessidade da multidão”, pregam “o cada um por si”. O papa
lembra que o princípio cristão, como o de outras religiões, é o da
solidariedade. Tanto que um dos últimos ensinamentos de Jesus, na Santa Ceia,
foi "Fazei isto em memória de mim" (Coríntios 11:24). Indicando que a
melhor forma de vivenciá-Lo é comungar, partilhar, solidarizar-se. Que assim
seja.
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