*Jorge Branco
Em seu Romance
"Memórias do Subsolo" Fiódor Dostoiévski fala de um homem atormentado
por sua consciência, corrompido por si mesmo. O personagem se vê tão fechado em
si mesmo que mal consegue se encontrar.
Pois esta é a
sensação que tenho ao analisar a decisão do Diretório Nacional do PT, no dia de
ontem, o qual autorizou suas bancadas parlamentares na Câmara dos Deputados e
no Senado Federal a constituir acordos e apoios à candidaturas golpistas, como
a as que se apresentam como favoritas nestas escolhas interpares.
O PT, ontem,
tal como o personagem de Dostoiévskié, é incapaz de sair do subsolo onde se
enclausurou. Mergulhou tão profundo no modelo da democracia liberal brasileira
que não consegue mais distinguir-se dela. Confunde o jogo parlamentar com a
luta democrática, encarcerou a segunda na primeira. Reduziu o conceito
substantivo de democracia ao modelo realmente existente de democracia no
Brasil. Considera que ficar fora das 'mesas" do Congresso é excluir-se da
política.
O PT abdicou
de dirigir-se à sociedade, campo real da luta política, para buscar a
sobrevivência. Grave equívoco, a sobrevivência do PT como partido de esquerda e
antiliberal só será possível se reconstituir-se do ponto de vista programático
e simbólico. Contrário a isto, o símbolo que emerge desta decisão é o de
partido subalterno à ordem neoliberal, expressão de quem não que sair do escuro
de subsolo.
O PT, ao
contrário, deve dirigir-se aos setores que resistem às reformas ultraliberais e
ao golpe e dizer que há alternativa política para a resistência. Precisa
demostrar que é um pólo alternativo ao neoliberalismo. Neste momento
extraordinário da luta política, onde ela se radicalizou ao ponto de um golpe
que derrubou uma presidenta eleita, o PT precisa dizer que defende a democracia
e não colabora com a estabilização do golpe.
As bancadas do
PT devem construir anticandidaturas de resistência no Congresso e falar para a
sociedade: "neste país, há um partido que luta pela democracia e pelos
direitos dos trabalhadores".
Nenhum apoio à
golpistas.
*Jorge Branco
é membro do Diretório Nacional do PT.
De há muito o PT abdicou da tarefa de construir uma democfracia de verdade no nosso país. Tornou-se um partido da ordem, na melhor das hipóteses, nas paçlavras de Florestan Fernandes. Confunde - não inocentemente - a escolha de representantes com a própria democracia. Aceitou de vez o que se chama de governo dos políticos. Quer participar, enfim, do jogo parlamentar sem sequer contestar suas regras. Aceitou o mandatário como mandante e quer tornar-se um deles. De há muito deixou de representar a esperança daqueles que almejam uma democracia de verdade. Perdeu o bonde da hisória. Lastimável.
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