Seis detentos,
identificados como líderes da rebelião que destruiu Penitenciária Estadual de
Alcaçuz, seriam ligados ao PCC
Ricardo Araújo
Especial para
O Estado
NATAL - A
Secretaria de Segurança do Rio Grande do Norte confirmou no fim da tarde deste
domingo, 15, pelo menos 27 mortos em rebelião na Penitenciária Estadual de
Alcaçuz, na região metropolitana de Natal. O motim começou na noite de sábado,
14, e só foi controlado no início da manhã deste domingo, 15, com a entrada de
policiais militares e agentes penitenciários no local.
Em coletiva de
imprensa no final da manhã, o secretário de Estado da Justiça e da Cidadania do
Rio Grande do Norte, Wallber Virgolino Ferreira da Silva, havia confirmado ao
menos 10 mortos. Entretanto, o secretário foi informado por um agente
penitenciário, na frente dos jornalistas, que 27 corpos já tinham sido
encontrados. "Secretário, eu contei 27 troncos", disse o servidor ao
secretário diante de jornalistas e assessores. Wallber Virgolino não comentou o
número.
Pelo menos
seis homens, pertencentes à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC),
foram identificados como os responsáveis pela rebelião que destruiu
parcialmente a penitenciária e o Pavilhão Rogério Coutinho Madruga. Eles serão
transferidos para unidades penitenciárias estaduais ou federais.
Segundo o
secretário, a rebelião foi a maior já registrada no complexo prisional, fundado
no final da década de 1990. "É a maior rebelião em número de mortos, mas
não iremos superar Roraima", afirmou o secretário. No sábado, 7, 31 presos
foram mortos em penitenciária de Roraima.
Um indicativo
de que o número de vítimas pode ser maior do que o anunciado até agora é a
estrutura montada pelo Instituto Técnico de Perícia (Itep/RN). O diretor do órgão,
Marcos Brandão, confirmou que foi montada uma estrutura com capacidade para
receber até 100 corpos. Um caminhão refrigerado com espaço para armazenar 50
cadáveres foi alugado pelo Itep/RN para auxiliar o trabalho.
Brandão afirma
que todos os corpos passarão por necropsia. No caso dos decapitados, ele disse
que serão necessárias fotos de rosto e até exames de arcada dentária para a
confirmação das identidades. Tendas estão sendo armadas em frente à sede do
Itep/RN para abrigar familiares dos presos mortos na rebelião. A expectativa é
que os primeiros sejam transportados da Penitenciária para o Itep ainda neste
domingo, 15.
Questionado
sobre a ligação das rebeliões deste fim de semana com os casos registrados em
Manaus e Roraima, que levou à morte cerca de 93 presos, o secretário Wallber
Virgolino poupou palavras. "A situação do Norte estimulou aqui. Mas são
coisas diferentes", disse. Desde março de 2015, o sistema prisional
potiguar enfrenta uma séria crise estrutural. A população carcerária do Estado
gira em torno de 7,7 mil pessoas. O déficit de vagas se aproxima das quatro
mil.
O secretário
de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social, Caio Bezerra, destacou que a
ação de retomada de controle da unidade prisional foi positiva. "Os presos
não reagiram e estamos avançando na contenção de todos os pavilhões",
frisou. Ele também evitou falar no possível número de mortos, mas destacou que
todas as informações serão repassadas no momento oportuno. Outra coletiva de
imprensa será realizada no fim da tarde deste domingo para atualização dos
dados.
Reconhecimento
dos corpos. O Rio Grande do Norte não dispõe de um Instituto Médico Legal
(IML), mas sim de um Instituto Técnico de Perícia (Itep). Todos os corpos a
serem recolhidos da Penitenciária de Alcaçuz serão transferidos para a sede do
Itep, situada na zona portuária de Natal, cerca de 25 quilômetros distante do
presídio. Uma força-tarefa foi montada para a identificação das vítimas fatais.
"Teremos
três legistas, cinco necropspiloscopostas, três odontologistas legais e quatro
peritos criminais irão fazer a perícia no local do crime. Já alugamos uma
câmara frigorífica para a acomodação dos corpos", disse o diretor do Itep,
Marcos Brandão. A sede do órgão, fundado há mais de 70 anos, não dispõe de
estrutura capaz de receber elevado número de cadáveres.
Para o
atendimento aos familiares dos presos mortos, uma central de informações com
atendimento de psicólogos e assistentes sociais será montada nas proximidades
do Itep. Até o início da tarde deste domingo, nenhum dos corpos havia sido
recolhido da Penitenciária de Alcaçuz. "Tem muita decapitação. Precisamos
identificar todas as cabeças e corpos para depois remontá-los", disse
Marcos Brandão.
O governador
do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), não participou da entrevista.
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