Oficiais de justiça procuram pelo ex-senador para ele depor como
testemunha de Lula
POR GUSTAVO SCHMITT E CLEIDE CARVALHO
O Globo
SÃO PAULO - O juiz Sérgio Moro tenta intimar há quase dois meses, sem
sucesso, o ex-senador José Sarney para depor como testemunha do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em processo da operação Lava-Jato. A tentativa de
comunicar Sarney se transformou numa espécie de saga para funcionários do
judiciário maranhense. Um deles teve de usar uma lancha para chegar a uma ilha,
um dos endereços de Sarney naquele estado. A videoconferência está marcada para
o dia 14 de fevereiro, quando ele falará com Moro.
A ordem para a intimação do ex-senador foi expedida por Moro no dia 6
de dezembro. A primeira visita feita pelo oficial de Justiça ao endereço de
Sarney ocorreu em 19 de dezembro, na Rua Alpercatas, no bairro do Calhau, em
São Luís. Na residência de Sarney, na capital maranhense, o oficial foi
recebido pelo PM que faz a segurança do local. Foi informado que Sarney estava
em Brasília e que dificilmente se encontra no local.
A segunda tentativa ocorreu na última segunda-feira. Oficiais de
Justiça navegaram até a Ilha Curupu, na Baía de São Marcos, no município de
Raposa, próximo a São Luís, onde ficam as mansões de veraneio da família
Sarney. A casa mais antiga é a do ex-senador e a outra, mais nova, de sua
filha, a ex-governadora Roseana Sarney. A ilha é particular, mas algumas
famílias de pescadores receberam autorização para continuar a morar ali, em
casas de madeira.
Foram os pescadores que receberam o oficial de Justiça, que foi aos
dois imóveis. O primeiro, que seria o de Sarney, estava fechado. No segundo, o
funcionário foi recebido por um vigia que se identificou apenas como Índio e
disse que raramente Sarney aparece por lá, porque a família só usa a ilha no
verão.
Na última quinta-feira, Sarney esteve no hospital Sírio-Libanês, em São
Paulo, onde visitou Lula e a ex-primeira dama Marisa Letícia, morta no dia
seguinte. O ex-senador estava acompanhado do presidente Michel Temer e do
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, entre outros peemedebistas.
Neste processo em que Sarney foi arrolado como testemunha de defesa,
Lula é acusado pela força-tarefa da Lava-Jato por lavagem de R$ 1,3 milhão pagos
pela OAS para armazenar o acervo presidencial entre janeiro de 2011 e janeiro
de 2016 em depósitos da Granero. Foram 21 pagamentos mensais de R$ 21,5 mil e,
segundo os procuradores, a quantia era proveniente de crimes praticados pela
empreiteira em licitações da Petrobras.
A defesa do ex-presidente afirma que a armazenagem do acervo
presidencial foi negociada com o Instituto Lula como contribuição privada,
depois que ele deixou o governo.
Sarney foi convocado para depor para que explique à Justiça como fez
para armazenar o acervo de seu governo (1985-1990).
O GLOBO procurou tentou contato com o ex-senador. No entanto, a
assessoria de Sarney ainda não retornou as ligações até o início da noite desta
quarta-feira.
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