Planilha entregue pela empresa mostra
todos os 166 deputados e os 28 senadores que receberam dinheiro durante a
campanha de 2014
Daniel Bramatti e Marcelo Godoy, O
Estado de S.Paulo
O dinheiro da JBS, principal
conglomerado brasileiro do setor de carnes, ajudou a eleger um em cada três dos
integrantes da Câmara e do Senado. O grupo foi o principal financiador privado
de candidatos na eleição de 2014.
Entre os documentos que os delatores da
JBS entregaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) está uma lista de
deputados eleitos em 2014 e beneficiados por doações do grupo empresarial.
Nela, há 166 nomes – 32% do universo de 513 deputados eleitos.
No pacote de documentos também há uma
relação dos atuais senadores, com um “ok” marcado ao lado do nome de cada
parlamentar que recebeu recursos da JBS. A lista inclui 28 senadores, ou 35% do
total de 81 parlamentares da Casa.
O grupo dos irmãos Joesley e Wesley
Batista fazia lobby no Executivo, no Congresso e também em governos estaduais
para obter vantagens e ganhar mercado. Em ao menos um caso, houve compra de
votos na Câmara para aprovar legislação que dava à companhia benefícios
tributários, segundo confissão dos delatores.
A existência dessa rede de influências
pode provocar polêmicas futuras. Na hipótese de saída do presidente Michel Temer
e eventual convocação de eleição indireta, um terço dos congressistas que
elegerão o futuro presidente terá sido beneficiado por doações de campanha do
causador da crise.
Proporção. Em números absolutos, o PP é
o partido campeão de deputados eleitos conectados ao grupo empresarial: 27.
Isso equivale a sete em cada dez eleitos. Em 2014, a legenda conquistou 38
vagas na Câmara. Em segundo lugar aparece o PT, com 20 financiados. O partido é
seguido de perto pelo PR (19) e pelo PMDB (17).
O ranking muda quando se considera a
proporção entre financiados e eleitos em cada bancada. No caso da Câmara, há
cinco partidos que tiveram mais da metade de seus deputados eleitos financiados
pela JBS: PCdoB (90%), PP (71%), PROS (64%), PDT (60%) e PR (56%). Além disso,
o único deputado eleito pelo PTdoB recebeu recursos da mesma fonte.
Dos grandes partidos, o PT aparece em
10.º lugar, com 29% da bancada eleita financiada pelo grupo. O PMDB vem na
posição seguinte, com 26%. Já o PSDB aparece no 19.º lugar – apenas 7% de seus
deputados receberam contribuições da JBS em 2014.
Governismo
Naquele ano, o grupo empresarial ajudou a eleger bancadas majoritariamente alinhadas à então presidente Dilma Rousseff. Dos eleitos financiados pela JBS, 92% integravam partidos da base dilmista. Vários desses partidos migraram para a base do atual presidente. Hoje, 75% dos eleitos com o apoio da JBS estão em legendas da base de Temer.
Naquele ano, o grupo empresarial ajudou a eleger bancadas majoritariamente alinhadas à então presidente Dilma Rousseff. Dos eleitos financiados pela JBS, 92% integravam partidos da base dilmista. Vários desses partidos migraram para a base do atual presidente. Hoje, 75% dos eleitos com o apoio da JBS estão em legendas da base de Temer.
Os nomes e os valores apresentados à PGR
coincidem com os das prestações de contas entregues por partidos e candidatos à
Justiça Eleitoral. Isso significa que, ao menos naquele documento específico,
os valores citados são de “caixa 1”, ou seja, os formalizados de acordo com a
legislação eleitoral.
Os deputados financiados não receberam
contribuições diretamente da JBS. O dinheiro primeiro foi entregue às direções
dos partidos e, depois, distribuído aos candidatos. Na delação não há elementos
que indiquem se a empresa apontava ou não às cúpulas partidárias seus
candidatos preferidos para disputar as eleições de 2014.
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