Laudo será entregue ao Supremo Tribunal
Federal na próxima semana
Por Jailton Carvalho
O Globo
BRASÍLIA - Perícia da Polícia Federal
concluiu que não houve edição nas gravações feitas pelo dono da JBS Joesley
Batista. Segundo os peritos, há cerca de 200 interrupções no áudio em que
Joesley aparece falando com o presidente Michel Temer. As“descontinuidades”
seriam consequência das características técnicas do gravador usado para
registrar a conversa. O resultado do laudo já foi informado informalmente ao
relator do inquérito no supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin.
A Procuradoria Geral da República pediu
que o laudo concluído pelos peritos já fosse enviado ao MPF. O ministro Edson
Fachin autorizou a remessa ainda nesta sexta-feira à PGR. O Palácio do Planalto
informou que não iria comentar por não conhecer o relatório.
Advogado de Temer, Antonio Claudio Mariz
de Oliveira disse ao G1 que ainda precisa conhecer a perícia, mas argumentou
que não é uma análise definitiva:
“Mas posso adiantar que laudo não é uma
verdade absoluta. Se existe um laudo dizendo que não houve manipulação, existem
outros três dizendo que houve. É uma questão de análise e de julgamento final
da autoridade responsável. E essa prova está sendo contestada sob outros
aspectos, principalmente sobre a licitude”, disse Mariz.
O gravador tem um microfone sensível ao
som ambiente. O equipamento é acionado automaticamente pela emissão de sons,
especialmente da voz humana. Da mesma forma, deixa de funcionar, ou funciona de
num ritmo mais lento, na ausência de sons. Isso explicaria inclusive porque a
íntegra da gravação teria aproxidamente cinco minutos a menos que a programação
da CBN, registrada por Batista na chegada e na saída no Palácio do Jaburu, na
noite da conversa.
Na conversa, Batista fala sobre a compra
de um procurador da República, a manipulação de dois juízes federais e o
pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao operador
financeiro Lúcio Bolonha Funaro. O suborno sistemático seria uma forma de impedir
que os dois fizessem acordo de delação.
Batista diz ainda que, com o ex-ministro
Geddel Vieira Lima fora de circulação, precisaria de um novo interlocutor.
Temer indica o ex-assessor Rocha Loures. Batista pergunta, então, se poderia
tratar de "tudo" com Loures. "Tudo" responde Temer.
Munido da gravação e outros documentos,
Batista fez um acordo de delação premiada para delatar Temer e Loures, entre
outros políticos. Depois da conversa de Temer com Batista, Loures entrou em
cena, tratou de decisões e cargos estratégicos com o empresário e, não demorou
muito, acabou sendo filmado correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala com
R$ 500 mil recebida de Ricardo Saud, operador da propina da JBS.
A propina seria a primeira parcela de um
suborno que, ao longo de 25 anos, ultrapassaria a casa dos R$ 600 milhões. Em
depoimento ao Ministério Público Federal, Saud disse que o dinheiro seria para
Temer. Interrogado pela Polícia Federal, Batista reafirmou que o dinheiro seria
para o grupo de Temer. A perícia é importante, mas não chega a ser considerada
essencial pela Procuradoria-Geral da República. Para os investigadores, outras
provas já seriam suficientes para oferecer denúncia contra Temer e Loures.
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