SIDNEY GONÇALVES DO CARMO
FOLHA DE SÃO PAULO
Phabullo Rodrigues da Silva, 22,
conhecido como Pabllo Vittar, descreve-se como "fluido de gênero":
"Sou drag queen só quando tem que ser. É igual a chapéu: coloco e tiro na
hora em que preciso. Não sou drag 24 horas. Eu amo ser Pabllo desmontado e sair
de camisa e boné na rua."
Mas é na personificação da drag queen
Pabllo Vittar que ela tem chamado a atenção do público, da crítica e de
artistas. Suas músicas dançantes figuram no topo das paradas de streaming, como
Deezer e Spotify, além do YouTube, onde tem mais de 160 milhões de
visualizações.
Em pouco mais de um ano, a cantora viu
sua agenda lotar, seu cachê saltar de R$ 2.000 para R$ 50 mil (leia mais
abaixo) e sua persona se tornar símbolo LGBTQ.
Nascido em São Luís (MA), Phabullo é
gêmeo de Phamella e tem outra irmã, Pollyana Rodrigues, um ano mais velha.
Filho da enfermeira Veronica, não conheceu seu pai, que abandonou a mãe ainda
grávida. "Acho que tudo tem um motivo. Minha mãe foi tudo para mim. Não
fui aquela criança que ficava triste no Dia dos Pais."
Para sustentar a família, Veronica
trabalhava em dois hospitais, por isso Pabllo a via muito pouco. "Tenho
muito orgulho porque a bicha sofreu para criar a gente, mas nunca desistiu.
Sempre sorrindo, sempre feliz. Tenho muito isso dela, a garra."
A drag diz que a figura paterna é
representada por seus empresários –Yan Hayashi e Leocadio Rezende. A carreira
começou a engatar em outubro de 2015, com o lançamento de "Open Bar",
versão em português feita pela cantora de um dos hits daquele ano, "Lean
On", do trio americano de música eletrônica Major Lazer.
A ascensão também tem a mão do produtor
musical Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, que já trabalhou com Luiza Possi e
Banda Uó. "Gorky me seguia na internet. Esse safadinho. Ele é amigo do meu
'pai', que era produtor de festas. Um dia ele viu um vídeo meu na internet e
assim criamos 'Open Bar'."
NÔMADE
Ainda bebê, Pabllo foi viver em Santa
Inês, cidade do interior do Maranhão com pouco mais de 83 mil habitantes. Na
adolescência, a família se mudou para Caxias, também no Maranhão, onde a drag
passou a imitar cantoras como Beyoncé, sua diva –no início, ela assinava Pabllo
Knowles.
A irmã mais velha o defendia na escola
sempre que ele sofria algum tipo de bullying. "Sempre fui 'oh my gosh'
[delicada], mas na minha, quietinha. Quando alguém mexia comigo, a Pollyana
partia para cima. Ninguém podia olhar torto. Ela era ciumenta. Bateu em um
menino porque ele me chamou de maricas. Deu uma surra nele. Bem feito."
Apesar de nunca ter apanhado, a cantora
diz que já viraram um prato de sopa sobre ela na fila da merenda. "Acho
que ele ficou no recalque, na masculinidade dele, aí virou a sopa em mim. Hoje,
falo sobre isso na maior tranquilidade, porque superei essas coisas."
Aos 15 anos, Pabllo contou à mãe que era
gay ao levar um namorado para dormir em casa. "Foi tranquilo, ela já
sabia. Era de boa porque Pollyana também é gay. Nunca fomos privados de
nada." Pouco tempo depois, a família se mudou para Indaiatuba, no interior
de São Paulo, onde Pabllo trabalhou em várias redes de fast-food e em salões de
cabeleireiros.
Dois anos depois, a família fez as malas
novamente, desta vez para Uberlândia (MG), após o casamento da mãe. É lá que
Pabllo pretende seguir vivendo: acaba de comprar um apartamento de 50 m².
HIT APÓS HIT
Com o sucesso de "Open Bar",
Pabllo Vittar deu início a uma carreira de ascensão ultraveloz. Em pouco mais
de um ano, a cantora virou crooner da banda do programa "Amor e
Sexo", comandado por Fernanda Lima, garoto-propaganda da marca Avon e lançou
seu álbum de estreia, "Vai Passar Mal".
O primeiro hit do disco a emplacar foi
"Todo Dia", no Carnaval deste ano –uma batida de funk com uma letra
em que diz que não é preciso a festa para ser vadia todo dia. Em seguida,
"K.O." passou dez dias consecutivos em primeiro lugar no Deezer
brasileiro.
A canção perdeu o posto para a própria
Pabllo uma semana atrás, com o lançamento de "Sua Cara", single de
Major Lazer com Anitta. O videoclipe está em terceiro lugar entre os mais
assistidos do YouTube nas primeiras 24 horas. Com 20 milhões, só fica atrás da
campeã "Hello", de Adele (27,7 milhões), e da vice Taylor Swift (20,1
millhões), com "Bad Blood".
'DRAG RACE'
Sua conta no Instagram também teve
rápida expansão, superando uma das drags mais famosas do mundo, RuPaul –do
reality "RuPaul's Drag Race". Pabllo ultrapassa 2,8 milhões de
seguidores– no final de junho, tinha 1,4 milhão.
"Para mim, RuPaul tem que ter cem
milhões seguidores porque ela é muito rainha. Então, são só números. Fico feliz
porque é representatividade para as drags do Brasil."
Depois de Anitta, a drag gravou dueto
com Preta Gil em "Decote" –primeiro single do álbum "Todas as
Cores". O lançamento será no aniversário de Preta, celebrado na próxima
terça-feira (8). "Pabllo é a revolução que a música e a sociedade
precisavam neste momento", afirma.
Artista independente, Pabllo deve
assinar contrato com uma gravadora nesta segunda (7). Em outubro, entra em
estúdio em Los Angeles para produção do segundo álbum.
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