Fernando Garcel
Paraná Portal
Chefiada pelo ex-pastor evangélico Ronei
Goes Camargo, uma quadrilha suspeita de sequestrar gerentes de bancos nos
estados do Paraná e Santa Catarina foi alvo de uma operação do Tático Integrado
de Grupos de Repressão Especial (Tigre), da Polícia Civil do Paraná, batizada
de Operação Jaguar. Com apoio da Delegacia de Jaguariaíva, cidade no Oeste do
estado, os policiais apreenderam armas, coletes a prova de balas, balaclavas,
luvas, 3,8 quilos de crack, cerca de R$ 250 mil em espécie, além de motos e
carros que teriam sido comprados com dinheiro roubado.
De acordo com a investigação, o pastor
foi identificado como responsável por pelo menos dois sequestros no Paraná. O
primeiro teria ocorrido em 23 de maio deste ano, em Jaguariaíva, e o segundo,
em 10 de julho, na cidade de Matinhos, no litoral paranaense.
O método violento como a quadrilha agia
chamou a atenção da polícia, segundo o delegado de Jaguariaíva, Derick Moura
Jorge. “Desde que as investigações se iniciaram, o tempo que eles passaram em
poder dos meliantes que chamou atenção da polícia em razão da tortura que era
realizada contra a família. Na região do banco, permaneceram com a mulher e o
bebê [filho do gerente bancário] dentro do carro e colocaram a arma na cabeça
do bebê e afirmaram que se a mãe tentasse acionar a polícia eles disparariam
contra a criança”, conta o delegado.
Viagens
Durante toda a investigação que culminou
com a operação, o Tigre descobriu que após os sequestros e roubos bem sucedidos
integrantes das quadrilhas faziam viagens – algumas delas de luxo. Depois do
roubo ao banco de Jaguariaíva, em maio deste ano, Ronei Goes Camargo foi de
avião até o Rio de Janeiro, onde foi recebido por representantes de organização
criminosa sediada nos morros cariocas, e voltou para o Paraná com um veículo
Pajero, lá adquirido com dinheiro proveniente da extorsão mediante sequestro.
Nesta viagem, Camargo foi acompanhado
por Camila Alves, com quem mantinha relacionamento extramatrimonial. Era ela
quem em troca de dinheiro fornecia a casa para que fossem planejados os crimes
e em seguida para que houvesse a contagem e a repartição do dinheiro produto
dos crimes. Camila Alves foi presa nesta quarta-feira (18).
Ozéias Troi, conhecido como Batman, e
José Vicente Filho foram presos quando se preparavam para realizar um sequestro
e posteriormente o roubo a banco no interior do Paraná. Eles foram detidos na
região de Palmeira no dia 20 de junho quando estavam viajando para a cidade em
que cometeriam os crimes. A dupla estava num veículo Logan, roubado em
Curitiba, quando foi abordada por uma equipe do TIGRE. Com eles foram
apreendidos revólver calibre 38, colete a prova de balas, duas pistolas calibres
9mm e uma 380, além de balaclavas, luvas e celular.
Marco Antonio Nicleviski foi preso na
BR-101 quando vinha para Curitiba. Ele já tinha monitorado toda a rotina de um
gerente de banco de uma cidade pequena próxima a Itajaí, em Santa Catarina. Quando
foi preso ele confessou para a polícia que havia ajudado no planejamento do
sequestro do gerente na cidade catarinense.
Modus
operandi
Segundo a polícia, a organização
criminosa era sofisticada e seguia o mesmo modus operandi. Havia uma pessoa da
cidade que era cooptada pela quadrilha para fazer o levantamento do local e da
rotina do gerente do banco. Era ele que anotava rotas, dados familiares,
horários, endereço da casa do gerente, bem como dados referentes a agência
bancaria escolhida como alvo. Assim como propunha os caminhos a serem
percorridos, locais de agrupamento dos membros da organização criminosa e para
manutenção de reféns em cárcere privado, rotas de fuga e os pontos para que os
veículos usados no crime fossem abandonados.
Outra parte da quadrilha era responsável
por abordar o gerente do banco no período da noite e manter a família dele em
cativeiro. Normalmente este grupo ficava na casa do gerente, mantendo ele e a
família incomunicável durante toda a noite. Do lado de fora permaneciam os
“seguranças” do bando que faziam a vigilância no entorno da casa das vitimas,
devendo avisá-los se houver movimentação policial nas imediações.
Conforme a investigação, o pastor
evangélico era responsável por acompanhar o gerente até o banco, no dia seguinte
à tomada de reféns, e pegava todo o dinheiro disponível. Os reféns só eram
liberados depois desse processo.
A última célula da quadrilha tinha como
atribuição o plano de fuga, pela garantia da guarda dos valores até serem
divididos, da forma acordada previamente, bem como responsáveis pela guarda das
armas do bando e pelos locais de encontro para planejamento dos crimes.
Líder
preso
No dia 12 de julho os policiais do Tigre
chegaram até Ronei Goes Camargo. Ele foi preso em Curitiba juntamente com Dhonata
Marques dos Santos. Os dois foram reconhecidos pelas vítimas do sequestro
ocorrido na cidade de Matinhos. Com eles foram apreendidos um revólver calibre
38 com numeração raspada, R$ 180 mil e três veículos adquiridos com o dinheiro
roubado. Os dois assumiram ter participado do crime em Matinhos. Com o dinheiro
foi possível identificar, pela numeração coletada, a origem comprovada no
sequestro de Matinhos.
A dupla entregou outros dois comparsas
da quadrilha: Liude Meneis da Silva e Rodrigo Pedroso de Moraes — ambos também
reconhecidos pelas vítimas em Matinhos. Os dois suspeitos já haviam sido presos
em 2014 por roubo a instituições financeiras. Liude foi detido pelo Tigre no
início desta semana juntamente com a esposa Lorena Calixto na cidade de Foz do
Iguaçu. Com os dois foram apreendidos R$ 69 mil um veículo modelo Fiat Argo, um
fuzil calibre 556 utilizado durante os crimes, bem como uma pistola no calibre
9mm, farta munição e 3,8 quilos de crack. A droga era comprada com dinheiro dos
sequestros e revendida, aumentando assim os rendimentos da quadrilha.
Foragidos
Moraes segue foragido, assim como outros
quatro integrantes da quadrilha: Patrick Leonardo Correa Krutqueviski,
Cleverson Camargo Gonçalves (conhecido como Cré ou Gordo) e Luiz Alexandre Canestraro,
vulgo “cachorrão”.
O Tigre suspeita ainda que a quadrilha
esteja envolvida com roubos de veículos, venda de entorpecentes e até
homicídios.
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