"Por
que têm tanto medo de Lula livre, se já alcançaram o objetivo que era impedir
minha eleição, se não há nada que sustente essa prisão? Na verdade, o que eles
temem é a organização do povo que se identifica com nosso projeto de país"
Preso político há exatamente um ano,
condição em que foi colocado para não disputar uma eleição presidencial que
venceria em primeiro turno, o ex-presidente Lula publica artigo neste domingo,
em que desabafa e explica os motivos da quebra da ordem institucional no
Brasil. "Faz um ano que estou preso injustamente, acusado e condenado por
um crime que nunca existiu. Cada dia que passei aqui fez aumentar minha
indignação, mas mantenho a fé num julgamento justo em que a verdade vai
prevalecer. Posso dormir com a consciência tranquila de minha inocência. Duvido
que tenham sono leve os que me condenaram numa farsa judicial", diz ele.
"O que mais me angustia, no entanto,
é o que se passa com o Brasil e o sofrimento do nosso povo. Para me impor um
juízo de exceção, romperam os limites da lei e da Constituição, fragilizando a
democracia. Os direitos do povo e da cidadania vêm sendo revogados, enquanto
impõem o arrocho dos salários, a precarização do emprego e a alta do custo de
vida. Entregam a soberania nacional, nossas riquezas, nossas empresas e até o
nosso território para satisfazer interesses estrangeiros", prossegue Lula,
denunciando o entreguismo de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, que é a sua
continuidade, com tintas autoritárias.
"Hoje está claro que a minha
condenação foi parte de um movimento político a partir da reeleição da
presidenta Dilma Rousseff, em 2014. Derrotada nas urnas pela quarta vez
consecutiva, a oposição escolheu o caminho do golpe para voltar ao poder,
retomando o vício autoritário das classes dominantes brasileiras. O golpe do
impeachment sem crime de responsabilidade foi contra o modelo de
desenvolvimento com inclusão social que o país vinha construindo desde 2003. Em
12 anos, criamos 20 milhões de empregos, tiramos 32 milhões de pessoas da
miséria, multiplicamos o PIB por cinco. Abrimos a universidade para milhões de
excluídos. Vencemos a fome", recorda Lula.
Sobre os motivos de sua prisão, que são
evidentes, ele faz também uma lembrança. "Minha candidatura foi proibida
contrariando a lei eleitoral, a jurisprudência e uma determinação do Comitê de
Direitos Humanos da ONU para garantir os meus direitos políticos. E, mesmo
assim, nosso candidato Fernando Haddad teve expressivas votações e só foi
derrotado pela indústria de mentiras de Bolsonaro nas redes sociais, financiada
por caixa 2 até com dinheiro estrangeiro, segundo a imprensa", aponta.
Por fim, Lula faz um questionamento
importante. "Por que têm tanto medo de Lula livre, se já alcançaram o
objetivo que era impedir minha eleição, se não há nada que sustente essa
prisão? Na verdade, o que eles temem é a organização do povo que se identifica
com nosso projeto de país. Temem ter de reconhecer as arbitrariedades que
cometeram para eleger um presidente incapaz e que nos enche de vergonha. Eles
sabem que minha libertação é parte importante da retomada da democracia no
Brasil. Mas são incapazes de conviver com o processo democrático."
Leia
a íntegra do artigo de Lula
Por
que têm tanto medo de Lula livre?
Faz um ano que estou preso injustamente,
acusado e condenado por um crime que nunca existiu. Cada dia que passei aqui
fez aumentar minha indignação, mas mantenho a fé num julgamento justo em que a
verdade vai prevalecer. Posso dormir com a consciência tranquila de minha inocência.
Duvido que tenham sono leve os que me condenaram numa farsa judicial.
O que mais me angustia, no entanto, é o
que se passa com o Brasil e o sofrimento do nosso povo. Para me impor um juízo
de exceção, romperam os limites da lei e da Constituição, fragilizando a
democracia. Os direitos do povo e da cidadania vêm sendo revogados, enquanto
impõem o arrocho dos salários, a precarização do emprego e a alta do custo de
vida. Entregam a soberania nacional, nossas riquezas, nossas empresas e até o
nosso território para satisfazer interesses estrangeiros.
Hoje está claro que a minha condenação foi
parte de um movimento político a partir da reeleição da presidenta Dilma
Rousseff, em 2014. Derrotada nas urnas pela quarta vez consecutiva, a oposição
escolheu o caminho do golpe para voltar ao poder, retomando o vício autoritário
das classes dominantes brasileiras.
O golpe do impeachment sem crime de
responsabilidade foi contra o modelo de desenvolvimento com inclusão social que
o país vinha construindo desde 2003. Em 12 anos, criamos 20 milhões de
empregos, tiramos 32 milhões de pessoas da miséria, multiplicamos o PIB por
cinco. Abrimos a universidade para milhões de excluídos. Vencemos a fome.
Aquele modelo era e é intolerável para uma
camada privilegiada e preconceituosa da sociedade. Feriu poderosos interesses
econômicos fora do país. Enquanto o pré-sal despertou a cobiça das petrolíferas
estrangeiras, empresas brasileiras passaram a disputar mercados com
exportadores tradicionais de outros países.
O impeachment veio para trazer de volta o
neoliberalismo, em versão ainda mais radical. Para tanto, sabotaram os esforços
do governo Dilma para enfrentar a crise econômica e corrigir seus próprios
erros. Afundaram o país num colapso fiscal e numa recessão que ainda perdura.
Prometeram que bastava tirar o PT do governo que os problemas do país
acabariam.
O povo logo percebeu que havia sido
enganado. O desemprego aumentou, os programas sociais foram esvaziados, escolas
e hospitais perderam verbas. Uma política suicida implantada pela Petrobras
tornou o preço do gás de cozinha proibitivo para os pobres e levou à
paralisação dos caminhoneiros. Querem acabar com a aposentadoria dos idosos e
dos trabalhadores rurais.
Nas caravanas pelo país, vi nos olhos de
nossa gente a esperança e o desejo de retomar aquele modelo que começou a
corrigir as desigualdades e deu oportunidades a quem nunca as teve. Já no
início de 2018 as pesquisas apontavam que eu venceria as eleições em primeiro
turno.
Era preciso impedir minha candidatura a
qualquer custo. A Lava Jato, que foi pano de fundo no golpe do impeachment,
atropelou prazos e prerrogativas da defesa para me condenar antes das eleições.
Haviam grampeado ilegalmente minhas conversas, os telefones de meus advogados e
até a presidenta da República. Fui alvo de uma condução coercitiva ilegal,
verdadeiro sequestro. Vasculharam minha casa, reviraram meu colchão, tomaram
celulares e até tablets de meus netos.
Nada encontraram para me incriminar: nem
conversas de bandidos, nem malas de dinheiro, nem contas no exterior. Mesmo
assim fui condenado em prazo recorde, por Sergio Moro e pelo TRF-4, por “atos
indeterminados” sem que achassem qualquer conexão entre o apartamento que nunca
foi meu e supostos desvios da Petrobras. O Supremo negou-me um justo pedido de
habeas corpus, sob pressão da mídia, do mercado e até das Forças Armadas, como
confirmou recentemente Jair Bolsonaro, o maior beneficiário daquela
perseguição.
Minha candidatura foi proibida
contrariando a lei eleitoral, a jurisprudência e uma determinação do Comitê de
Direitos Humanos da ONU para garantir os meus direitos políticos. E, mesmo
assim, nosso candidato Fernando Haddad teve expressivas votações e só foi
derrotado pela indústria de mentiras de Bolsonaro nas redes sociais, financiada
por caixa 2 até com dinheiro estrangeiro, segundo a imprensa.
Os mais renomados juristas do Brasil e de
outros países consideram absurda minha condenação e apontam a parcialidade de
Sergio Moro, confirmada na prática quando aceitou ser ministro da Justiça do
presidente que ele ajudou a eleger com minha condenação. Tudo o que quero é que
apontem uma prova sequer contra mim.
Por que têm tanto medo de Lula livre, se
já alcançaram o objetivo que era impedir minha eleição, se não há nada que
sustente essa prisão? Na verdade, o que eles temem é a organização do povo que
se identifica com nosso projeto de país. Temem ter de reconhecer as
arbitrariedades que cometeram para eleger um presidente incapaz e que nos enche
de vergonha.
Eles sabem que minha libertação é parte
importante da retomada da democracia no Brasil. Mas são incapazes de conviver
com o processo democrático.
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