Investigação
sob sigilo suspeita de falsidade ideológica de Marcelo Álvaro Antônio, que diz
haver ilações sem base e confiar na Polícia Federal
Após 30 dias de investigação, a Polícia
Federal vê elementos de participação de Marcelo Álvaro Antônio, ministro do
Turismo, no esquema de candidaturas de laranjas do PSL em Minas Gerais na
eleição de 2018.
Investigadores apuram inicialmente a
suspeita do crime de falsidade ideológica. Outro crime em apuração é o de
lavagem de dinheiro. Depoimentos prestados (entre eles o de um nome inédito até
aqui), áudios obtidos pela PF e documentos colhidos levam a investigação do
caso ao ministro do Turismo do governo Jair Bolsonaro. O próximo passo é aprofundar
as investigações para identificar qual foi a participação do ministro em eventuais
crimes.
Zuleide Oliveira, 42, de Santa Rita de
Caldas (MG), que envolveu o ministro diretamente no caso em entrevista à Folha
em março, entregou recibos de pedágio como forma de provar que se deslocou para
Belo Horizonte no dia em que disse ter tido uma reunião com Álvaro Antônio, em
setembro do ano passado.
Ela reafirmou à polícia que o ministro lhe
ofereceu dinheiro do fundo partidário para sua campanha, no valor de R$ 60 mil,
com a condição de que ela devolvesse R$ 45 mil.
O encontro ocorreu, segundo Zuleide, no
escritório do político na capital mineira, em um prédio que exige identificação
na entrada, até com foto. A PF busca esses registros. Três testemunhas que
estavam na sala, segundo seu depoimento, também serão ouvidas --e são
consideradas peças-chave na apuração.
No celular de Zuleide, que agora está com
os investigadores, foram encontrados diversos áudios com dirigentes do PSL de
Minas, incluindo assessores de Álvaro Antônio.
Uma outra candidata, Neia Rodrigues, 37,
cujo relato ainda não era conhecido, prestou depoimento e disse ter sido usada
como laranja também. Ela foi ouvida em Belo Horizonte na semana passada.
Com Neia e Zuleide, já são quatro
denúncias feitas sobre o esquema. A Folha
também mostrou os relatos de Cleuzenir
Barbosa, 47, que disse que o ministro tinha conhecimento do escândalo, e de
Adriana Borges, 54, que afirmou ter recebido um pedido de um assessor de Álvaro
Antônio para devolver R$ 90 mil de dinheiro público ao partido.
Depoimentos de uma quinta e uma sexta
denunciante são esperados pela polícia nos próximos dias.
O Ministério Público de Minas também
investiga o caso. Reportagem da Folha de 4 de fevereiro mostrou que o ministro
patrocinou um esquema de candidaturas de laranjas em Minas que direcionou
verbas públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.
De R$ 279 mil repassados pelo PSL a quatro
candidatas, ao menos R$ 85 mil foram parar oficialmente na conta de quatro
empresas de assessores, parentes ou sócios de assessores de Álvaro Antônio.
As quatro candidatas foram ouvidas, mas
negaram irregularidades ou que tenham atuado como laranjas. A investigação está
sob sigilo.
O ministro tem negado participação no
esquema e tem dito que seguiu a lei na eleição. Na semana passada, a reportagem
acompanhou sua visita à Câmara para
uma reunião na comissão do Turismo.
Ele conversou de forma privada com alguns
parlamentares e atacou a imprensa. "Tirando a Folha de S.Paulo e a Globo,
está tudo bem", respondeu a um deputado que o cumprimentou, após a
pergunta "opa, ministro, tudo certo?".
A um dos colegas com quem conversou, disse
que a PF não encontrou nada sobre ele na investigação e que o problema são as
reportagens da Folha.
Além do caso de Minas, a Folha também
revelou situação similar em Pernambuco.
O grupo do atual presidente do PSL,
Luciano Bivar (PE), segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma
candidata laranja em seu estado que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro
público na eleição de 2018.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que
oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a
terceira maior beneficiada com verba do PSL no país, mais do que Jair Bolsonaro
e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
A série de reportagens levou o governo à
primeira grande crise, culminando
na queda de Bebianno em 18 de fevereiro.
Representante do Ministério Público no TSE
(Tribunal Superior Eleitoral), o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto
Jacques de Medeiros, defende que, em casos de uso de candidatas laranjas para
burlar a cota de 30% de candidaturas femininas, todos os integrantes da
coligação sejam punidos com inelegibilidade e/ou perda do mandato.
"Se há algo de errado, cai o conjunto
inteiro, todo mundo que participou da fraude e se beneficiou dela", disse
Medeiros à Folha no mês passado.
O TSE começou a julgar em meados de
fevereiro um processo sobre laranjas na eleição municipal de 2016. O ministro
Edson Fachin pediu vista e a análise deve ser retomada nas próximas semanas.
Em nota enviada por sua assessoria, o
ministro disse que "mais uma vez, a Folha de S.Paulo age de forma política
e partidária para fazer ilações sem qualquer base. O ministro do Turismo,
Marcelo Álvaro Antônio, aguarda o fim das investigações com tranquilidade e
confiança na seriedade e profissionalismo da Polícia Federal".
Com informações da Folha de São Paulo/Camila Mattoso
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