Membros
do Ministério Público Estadual, Federal e do Trabalho se reuniram em torno das
denúncias das ilegalidades contra Lula
Envolvidos na visita à superintendência da
Polícia Federal de Curitiba, onde Lula se encontra encarcerado há mais de um
ano, promotores de justiça de diversas partes do país assinaram uma carta ao
ex-presidente, na qual denunciam as ilegalidades, bem como manifestam
solidariedade e respeito.
Na visita dos promotores e promotoras,
houve um destaque para a fala de Afrânio Silva Jardim, professor emérito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ao lado do jornalista Juca Kfouri,
Jardim manifestou toda sua indignação com o caso. Assista:
Veja a carta na íntegra assinada pelos
promotores e promotoras:
Ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva
Respeito
Escrevemos esta carta para manifestar a
você, primeiramente, respeito. Respeito por ter nascido num local simples,
vindo de uma família pobre, obrigada a batalhar duro para sobreviver. Respeito
por ter se retirado, ainda muito cedo, de sua terra natal, em busca de uma vida
melhor. Respeito por representar os milhões de brasileiros que, durante a
história, trilharam o mesmo caminho à procura de dignidade.
Respeito por ter tido que escolher o
trabalho à custa dos estudos. Por ter sacrificado parte importante da vida para
angariar alguns trocados – naquele momento, imprescindíveis. Respeito por ter
iniciado, ainda quando adolescente, o exercício da profissão que o acompanharia
por quase toda a vida. Respeito por mostrar – para quem quer e consegue
enxergar – que a meritocracia, no Brasil, é uma ideia falaciosa (quantos
companheiros tiveram o mesmo sucesso que você, não é mesmo?).
Respeito por ter perdido sua primeira
esposa e filho de forma trágica. Respeito por sua intensa atividade sindical.
Respeito por reafirmar o fato de que direitos hoje conquistados e absorvidos
por ordenamentos jurídicos de todo o mundo somente se tornaram realidade em
razão de muita luta, suor, sangue e lágrimas. Respeito por mostrar que a luta é
parte indissociável da evolução da humanidade.
Admiração
Expressamos também nossa admiração.
Admiração por ter atuado no sindicato de um dos maiores polos industriais do
Brasil. Admiração por ter sido eleito presidente da agremiação por duas vezes.
Por ter participado, durante a ditadura militar, da organização de greves
históricas e memoráveis. Por levar a luta a suas últimas consequências – até
mesmo à prisão. Admiração por demonstrar que a prisão sempre foi e sempre será
instrumento de controle social.
Admiração por ter sido um dos fundadores
daquele que viria a ser o maior partido do Brasil em número de filiados, e que
chegaria à presidência da República por quatro vezes consecutivas. Admiração
por ter lutado pelo fim do período de exceção e integrado a frente
suprapartidária formada com esse objetivo. Admiração por ter sido o deputado
federal constituinte mais votado do país, e por ter feito parte do pacto
constitucional que rege o Estado e a sociedade brasileira até os dias atuais –
apesar dos constantes ataques contra seus princípios basilares.
Admiração por ter se tornado, apesar de
todo o preconceito, o primeiro presidente da República vindo da classe
operária, reelegendo-se de forma inquestionável. Admiração por ter implantado –
e isso é reconhecido internacionalmente – importantes programas de distribuição
de renda, de diminuição da desigualdade, de combate à fome e à pobreza
(objetivos do milênio), de incentivo à educação, à cultura e ao esporte. Por
ter procurado governar para todos. Por ter acreditado na paz e na união como
nortes.
Solidariedade
Necessário, por fim, externar nossa
solidariedade. Solidariedade por ter sido atingido pelo que entendemos serem
equívocos jurídicos. Equívocos jurídicos como sua condução coercitiva ilegal e
a divulgação ilegal de conversas particulares suas e de seus familiares (a
ilegalidade dessas práticas foi reconhecida pelo STF). Solidariedade por ser um
símbolo da injustiça que se pratica contra acusados e condenados negros e
pobres do país, presos sem fundamento, em locais degradantes, sem culpa
definitivamente reconhecida.
Solidariedade por ter perdido sua segunda
esposa em meio à perseguição judicial e midiática levada a efeito contra sua
família. Solidariedade por nos demonstrar que não podemos mais contemporizar
com o processo penal do espetáculo, em que pessoas são expostas, acusadas,
julgadas e condenadas sem o sagrado direito de defesa. Solidariedade por não
poder estar com sua família durante o velório do seu irmão Vavá.
Solidariedade por não mais ter seu querido
Arthur. Por não ter podido ficar ao seu lado em seus últimos dias de vida.
Arthur partiu cedo, mas talvez tenha sido dele a missão de frear o ódio, o
rancor, o ressentimento e a violência jogada em nossas faces cada vez que
entramos em redes virtuais e até mesmo nas ruas. Seu sorriso marcante há de
demonstrar que “a pureza da resposta das crianças” é um caminho que pode ser
alcançado. E que não podemos parar de caminhar.
Afrânio
Silva Jardim – Procurador de Justiça aposentado
Plínio
Antonio Britto Gentil – Procurador de Justiça
Jacson
Rafael Campomizzi – Procurador de Justiça
Margaret
Matos de Carvalho – Procuradora Regional do Trabalho
Jacson
Luiz Zilio – Promotor de Justiça
Gustavo
Roberto Costa – Promotor de Justiça
Roberto
Tardelli – Procurador de Justiça aposentado
Romulo
de Andrade Moreira – Procurador de Justiça
Haroldo
Caetano da Silva – Promotor de Justiça
Sueli
de Fátima Buzo Riviera – Procuradora de Justiça aposentada
Inês
do Amaral Buschel – Promotora de Justiça aposentada
Luiz
Henrique Manoel da Costa – Procurador de Justiça
Walter
Moraes – Promotor de Justiça
Andrea
Beatriz Rodrigues de Barcelos – Promotora de Justiça
Lúcia
Helena Barbosa de Oliveira – Promotora de Justiça
Wagner
Gonçalves – Procurador da República aposentado,
ex-Sub-Procurador Geral da República, ex-Procurador Federal dos Direitos do
Cidadão, ex-Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República
Álvaro
Augusto Ribeiro da Costa – Procurador da República
aposentado, ex-Sub-Procurador Geral da República, ex-Procurador Federal dos
Direitos do Cidadão, ex-Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da
República, ex-Advogado-Geral da União.
Antônio
Alberto Machado – Promotor de justiça aposentado
Nenhum comentário:
Postar um comentário