MP e Polícia Civil
acusam Jalser de ter instalado milícia dentro da AL e de ter mandado sequestrar
jornalista
O deputado Jalser Renier perdeu o
mandato em uma sessão histórica na Assembleia Legislativa de Roraima na manhã
desta segunda-feira de carnaval (28), em Boa Vista. Suspeito de liderar milícia
e mandar sequestrar o jornalista Romano dos Anjos, a cassação dele foi aprovada
por 18 dos 24 colegas de parlamento.
A cassação dele já havia passado
pelas Comissões de Ética e de Constituição e Justiça. Ele foi o primeiro
parlamentar no estado a perder o mandato por decisão dos deputados estaduais.
Todo o processo foi marcado por confusão e xingamentos. Renier chegou a chamar
o governador do estado, Antonio Denarium (PP) de "agiotazinho safado"
e o relator da cassação, Jorge Everton (sem partido), de "mocinha" e "viadinho".
Do lado de fora, enquanto deputados
cassavam Jalser Renier, a população acompanhava voto a voto em um telão
instalado na frente da Assembleia Legislativa. A cada argumento favorável,
manifestantes, a maioria vestidos com camisas "fora Jalser", vibravam
eufóricos.
Logo após a sessão, o suplente George
Melo (DC) tomou posse do mandato que ficou vago com a cassação de Jalser.
A sessão que cassou Jalser Renier, o
'Menino de Ouro, foi presidida por Jânio Xingu, seu aliado político. Dos 24
deputados, 17 participaram da sessão extraordinária no plenário da Casa, dois
participaram de forma virtual, e cinco faltaram ao ato histórico na política
roraimense.
Além de Jalser, faltaram à sessão: Renan Filho (Republicanos), Lenir Rodrigues (PPS), Odilon Filho (PROS) e Dhiego Coelho (PTC).
Agora sem mandato, Jalser Renier
perde o foro privilegiado e pode responder a processos na Justiça comum. No
caso do sequestro, a ação tramita na 2º instância do Tribunal de Justiça. Ele
foi denunciado pelo Ministério Público por oito crimes em outubro do ano
passado, mas ação ainda não foi aceita pelo poder judiciário.
Durante vários momentos, Xingu foi
vaiado pelo plenário lotado e, em resposta, pedia silêncio para "não
prejudicar a votação". Em contrapartida, Jorge Everton e Soldado Sampaio,
opositores de Jalser, foram ovacionados por defenderam publicamente a cassação
do colega de parlamento.
Depois de iniciada a sessão, Jorge Everton falou sobre o relatório que pedia a cassação e fez um apelo aos colegas para que o seguisse no voto contra Jalser Renier.
Após os 18 votos favoráveis, a perda
de mandato foi declarada em leitura feita por Xingu e ele encerrou a sessão.
Logo em seguida, foi aberto um novo ato para dar posse ao suplente e o nome de
Jalser foi excluído do telão depois de pedido do deputado Gabriel Picanço.
Cassado, Jalser não poderá concorrer
às eleições de 2022 e ficará inelegível, para qualquer cargo, nos oito anos
seguintes ao término desta legislatura, conforme a lei complementar federal nº
64 de 1990.
Sessão convocada por maioria
O mandato de Jalser Renier ia ser
discutido na última quinta-feira (24), mas, na véspera, ele conseguiu uma
decisão no Suprimo Tribunal Federal e garantiu a volta ao cargo de presidente
da Casa e também a suspensão do trâmite de cassação. Mas, esta mesma decisão foi
revista pelo ministro Alexandre de Moraes na sexta-feira (25) que ordenou a
continuidade do processo.
A sessão desta segunda-feira foi
convocada por 16 deputados, com base no artigo do regimento interno que diz
que, em caso de urgência ou interesse público, a maioria dos parlamentares pode
marcar o ato.
Jalser, que retornou à presidência da
Ale-RR na quarta-feira (23) por decisão do Supremo Tribunal (STF), chegou a
considerar a sessão “nula” por usurpação de competência regimental. Deputados
que fizeram a convocação, conseguiram um mandado de segurança no Tribunal de
Justiça de Roraima (TJRR) para garantir que a votação ocorresse.
27 anos consecutivos como deputado
Parlamentar polêmico, Jalser Renier é conhecido no estado como "Menino de Ouro" pela forma como ascendeu na política roraimense desde que foi eleito pela primeira vez quando tinha 21 anos de idade, em 1994, e desde então, nunca perdeu uma eleição. Ele era deputado havia 27 anos.
Em 2018, quando foi eleito pela
última vez, recebeu 8.401 votos, o mais votado naquele ano.
Alvo de operações e prisões
Jalser já foi alvo de outras
operações policiais. Ele foi preso pela primeira vez em 2003 por envolvimento
no maior caso de corrupção em Roraima, o "Escândalo dos Gafanhotos".
Em 2016, ele voltou a ser preso pelo mesmo motivo.
Nesta segunda prisão, Jalser já era
presidente da Ale-RR e cumpria regime semiaberto. Ele passava a noite na prisão
e durante o dia, cumpria o expediente na Assembleia. Na época, Renier ficou
nacionalmente conhecido como "presidente presidiário". Em 2017, ele
ganhou liberdade.
Já em 2019, o parlamentar foi alvo
das operações "Cartas Marcadas" e "Royal Flush", deflagrada
pelo Ministério Público de Roraima, que investigou crimes de fraudes em
processos licitatórios, contratos administrativos, lavagem de dinheiro,
organização criminosa e obstrução de Justiça. A ação também mirou a esposa
Cinthya Gadelha e outras cinco pessoas ligadas a ele.
No mesmo ano, ele foi condenado a
pagar R$ 40 mil de indenização a então prefeita de Boa Vista, Teresa Surita
(MDB), em um processo em que ela pedia reparação por ter sido xingada e
ameaçada quando dava entrevista em uma rádio, em outubro de 2018.
Sequestro do jornalista Romano dos Anjos
Jalser voltou ao noticiário após ser
apontado como suspeito de ser mandante do sequestro do jornalista Romano dos
Anjos, pelo delegado da Polícia Civil, João Evangelista, que apura o crime. O
inquérito identificou que o parlamentar ordenou o crime porque a vítima se
tornou uma "pedra no sapato" ao fazer criticas a ele.
A investigação apontou que o crime,
ocorrido e outubro de 2020, foi executado por policiais militares, entre eles
coronéis e um major, que tinham ligação direta com Jalser. Os envolvidos foram
presos em 17 de setembro e nessa sexta-feira na primeira e segunda fase da
operação "Pulitzer".
Nascido em Roraima, Jalser Renier
Padilha tem 49 anos, é casado com Cinthya Gadelha, com quem tem dois filhos
pequenos. Ele é formado em Gestão Pública e antes da política, ficou conhecido
no estado por apresentar programas de rádio.
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