Procuradoria cobra
maior controle do YouTube sobre os conteúdos; empresa alega que apenas hospeda
gravações e não faz controle prévio
Luiz Fernando Toledo
O Estado de São Paulo
O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo investiga a divulgação de
vídeos com “jogos perigosos” para crianças e adolescentes nas redes sociais. Os
canais estimulam automutilação e suicídio. Os promotores acionaram o Google, empresa
responsável pelo YouTube, onde os vídeos estão hospedados. Donos desses canais
chegam a lucrar até R$ 20 mil mensais com publicidade.
O assunto ganhou repercussão nos últimos dias com relatos de suicídios e
automutilações pelo País supostamente ligados ao jogo virtual Baleia-Azul, que
incentivaria esse tipo de prática. Os casos mobilizaram escolas, famílias e a
polícia, que investiga se o jogo existe e quem seriam os responsáveis por
estimular as agressões.
No último mês, a Procuradoria Regional do Direito do Cidadão já conseguiu
remover 11 vídeos que estimulam jovens a se ferirem ou se matarem, com base no
critério de maior popularidade. Sobre o Baleia-Azul, o MPF paulista informou
que ainda não abriu investigação.
O objetivo do MPF agora é fazer com que o YouTube tenha maior controle
sobre os conteúdos, além de estudar eventual responsabilização da empresa caso
não remova os vídeos.
“Se a empresa propicia essas situações (divulgação dos vídeos),
discutimos se pode ser considerada corresponsável por elas. Estamos recebendo
cada vez mais casos deste tipo. É um problema que a tecnologia criou e ainda
não se sabe como lidar”, diz o procurador Pedro Antonio de Oliveira Machado.
A investigação sobre os canais que divulgam os desafios teve início neste
ano. Isso ocorreu após uma entidade que denuncia estes vídeos, o Instituto
Dimicuida, de Fortaleza, ter apontado ao MPF a existência de ao menos 19 mil
vídeos com este tipo de conteúdo na internet.
Uma reunião entre os procuradores, o Google e a entidade deve acontecer
ainda neste mês, com o propósito de buscar novos mecanismos para filtrar os
vídeos. Uma das queixas a serem analisadas é a demora para que eles sejam
removidos, mesmo depois de denúncias.
Explicações
Ao Estado, o Google disse que não comenta o caso específico
do inquérito. Já ao MPF informou que o Youtube é uma plataforma de hospedagem e
não faz controle prévio do conteúdo. Destacou ainda que, a cada segundo, cerca
de uma hora de novos conteúdos é gerada e enviada . Segundo a empresa, o site é
voltado a maiores de 18 anos ou usuários sob supervisão de adultos
responsáveis. Ainda há, acrescenta, canais dentro do próprio site para
denúncias.
O inquérito faz menção direta a pelo menos quatro canais no YouTube com
desafios perigosos – todos com mais de 1 milhão de seguidores. Segundo o site
Social Blade, de estatísticas sobre canais de vídeos, conteúdos acessados por
esta quantidade de pessoas rendem até R$ 20 mil mensais. As publicações mostram
desafios como o jogo do enforcamento, que pode levar ao suicídio, e
congelamento com desodorante, que causa queimaduras no corpo.
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