Segundo a Corregedoria Nacional de
Justiça, há casos abertos desde 2009; prazo de extinção dos processos varia de
seis meses a cinco anos
Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O processo administrativo
aberto contra um magistrado do Maranhão por trabalho escravo está parado desde
2007. Em Minas, uma representação contra um juiz, suspeito de morosidade, arrasta-se
desde 2005. No Tribunal de Justiça do Amazonas, 10% dos processos foram abertos
há pelo menos quatro anos. Esses casos podem estar prescritos e mostram como
funcionam as corregedorias de alguns tribunais. Órgãos que deveriam processar e
punir juízes acusados de irregularidades retardam as investigações e contribuem
para a impunidade.
Peluso defende investigações pelos próprios TJs |
Quando decidiu divulgar que as
corregedorias locais têm 1.085 investigações contra magistrados em andamento, o
presidente do Conselho Nacional de Justiça, Cezar Peluso, queria mostrar que os
tribunais de Justiça fazem seu papel e que a Corregedoria Nacional de Justiça,
comandada pela ministra Eliana Calmon, não precisaria intervir com frequência
para coibir irregularidades.
Mas uma radiografia nos números mostrou
que a intervenção da corregedoria nos tribunais, em muitos casos, tem razão de
ser. Como são leves as punições administrativas para magistrados, o prazo de
prescrição é curto - de seis meses a cinco anos.
A demora no julgamento desses processos,
portanto, beneficia juízes responsáveis por diversas irregularidades, como
morosidade e parcialidade no julgamento dos processos, passando por emissão
seguida de cheques sem fundo, denúncias de trabalho escravo e atropelamento.
Por isso, Eliana Calmon pediu que as
corregedorias expliquem por que há casos abertos antes de 2009 e que ainda não
foram julgados. E, a depender do andamento desses casos, a corregedora pode
avocar esses processos e julgá-los diretamente no CNJ.
Conflito. A divulgação dos números pelo
CNJ serviria para mostrar que as corregedorias dos TJs são diligentes e punem
magistrados que cometem irregularidades. Entretanto, os dados acabaram por dar
subsídios à intervenção da corregedoria.
"Os números confirmam a veracidade
das críticas que fiz, pois, além de revelar a existência de grande número de
investigações e processos, mostram que em muitos casos a inoperância da
corregedoria local ou do desembargador responsável pelo processo acarreta
grande número de prescrições e consequente impunidade", afirma a ministra.
A decisão de Peluso de pedir esses dados
e publicá-los foi mais um episódio no conflito aberto com Eliana Calmon. Os
dois têm posições antagônicas sobre o funcionamento do CNJ. Peluso defende que
a corregedoria só processe magistrados em casos excepcionais e se as
corregedorias não processarem esses juízes. Eliana quer manter a autonomia da
corregedoria para, quando necessário, abrir investigações diretamente no CNJ,
sem ficar a reboque dos Tribunais de Justiça.
O ápice dessas divergências foi a
publicação de uma nota oficial do CNJ em que conselheiros condenaram a
entrevista concedida pela ministra em que disse existirem entre os magistrados
do País "bandidos de toga".
Em razão dessa crise, o julgamento pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) em que ficaria definida a exata dimensão das
competências do CNJ e, por consequência, da Corregedoria Nacional de Justiça,
foi adiado.
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