Jornal do Brasil
Annaclara Velasco
Foi definido, na manhã desta
quinta-feira, o desfecho de um crime que, há 13 anos, chocou o Brasil. No dia
16 de dezembro de 1998, horas depois de participar da cerimônia de diplomação
dos políticos alagoanos, a Deputada Federal que havia sido reeleita, Ceci
Cunha, foi assassinada e morreu sentada em uma cadeira na varanda da casa da
irmã, ainda segurando a margarida que ganhara na festa. Junto com ela, estavam
o marido, Juvenal Cunha, a sogra, Ítala Neyde Maranhão Pureza e o cunhado, Iran
Carlos Maranhão, que também foram assassinados a tiros. Uma pessoa sobreviveu
aos disparos e outra conseguiu se esconder dentro de casa. O crime, ocorrido no
bairro da Gruta de Lourdes, em Maceió, ficou conhecido a “chacina da Gruta”.
O mandatário do crime foi o médico Talvane
Albuquerque, primeiro suplente de Ceci na Câmara Federal. Ele teria encomendado sua morte para ocupar
sua cadeira e usufruir da imunidade parlamentar do cargo. Um de seus
assessores, Mendonça Medeiros, confessou à Polícia Federal que havia confirmado
a presença de Ceci na cerimônia do Fórum Desembargador Jairo Maia Fernandes aos
encarregados da execução. Além de Mendonça e Talvane, o segurança do médico,
Alécio César Alves Vasco, José Alexandre dos Santos – que confessou ter vendido
pistolas a Alécio – e Jadiélson Barbosa da Silva, apontado como um dos
atiradores pela irmã de Ceci, que conseguiu escapar dos atiradores, tiveram
suas sentenças estipuladas nesta quinta.
Todos os réus foram acusados de
homicídio qualificado, por motivo torpe, sem chance de defesa das vítimas. O
ex-deputado foi condenado a 103 anos e 4 meses de prisão, Jadielson Barbosa
pegou 105 anos, Alécio Alves, 87 anos e 3 meses, Mendonça Medeiros, 75 anos e 7
meses e José Alexandre dos Santos pegou 105 anos. O julgamento começou na última segunda-feira
(16) e foi decidido por um júri popular, formado por sete jurados, presidido
pelo juiz federal André Luís Maia Tobias Granja.
Nenhum dos acusados indicou um álibi
para provar que não haviam participado do crime. O processo demorou 13 anos
para ser concluído, ficando sete anos parado esperando a definição se o caso
deveria seguir na Justiça Federal ou Estadual. Acompanhando de perto o
julgamento, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AL, Gilberto
Irineu de Medeiros afirmou que uma resposta ao crime era necessária aos
familiares.
“Os familiares, o povo alagoano e o povo
brasileiro mereciam esta resposta. O retardamento do julgamento pode, sem
dúvida, ter atrapalhado o processo, mas elementos periciais, juntamente com as
provas testemunhais, foram apresentados para ajudar a esclarecer o crime”, diz
ele.
Gilberto lamenta a morosidade da justiça
brasileira, característica que, "apesar das cobranças do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), lamentavelmente é predominante no Brasil".
"A morosidade favorece os
criminosos e estimula a impunidade. E os maiores penalizados são os familiares
e a própria sociedade", critica.
Os advogados da defesa já informaram que
irão recorrer da decisão, outro elemento que, segundo o advogado, retardam o
processo.
"O sistema de leis do Brasil abre
brechas onde as partes permanentemente buscam apelações baseadas nas decisões
que vão sendo tomadas pelos magistrados e pelo Ministério Público. Este foi um
dos elementos que contribuíram para estes 13 anos de demora", observa.
A delegada titular da DEAM de Volta
Redonda, Gisele do Espírito Santo, completa que, caso o Ministério Público
perceba que houve algum tipo de influência na decisão do júri, por ser um caso
muito conhecido e polêmico, ele poderá recorrer.
“Como é um crime doloso contra a vida, a
competência é do júri popular. O risco de haver alguma influência da opinião
pública sempre existe. Mas se o promotor achar que a decisão foi contrária às
provas dos autos, o MP pode recorrer”, explica a delegada.
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