Troca
de e-mails mostra inconformismo diante de decisões do Supremo que levaram à condenação de 25 réus no processo
FELIPE
RECONDO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Advogados
dos réus do mensalão mostraram, em troca de e-mails, o inconformismo com o
resultado do julgamento e com os argumentos de alguns ministros do Supremo
Tribunal Federal para condenar 25 mensaleiros. Nas mensagens, a banca propõe a
divulgação de manifesto contra o que o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz
Bastos, defensor de um dos condenados, classificou como "degeneração
autoritária de nossas práticas penais".
Outro
ex-ministro que atuou no processo do mensalão, José Carlos Dias propôs que as
críticas de Thomaz Bastos à atuação dos tribunais no julgamento de processos
penais, em artigo publicado pelo site Consultor Jurídico, sejam transformadas
em manifesto ou carta aberta assinada por todos os advogados. "O texto do
Márcio é magnífico. Deveria ser transformado num manifesto, numa carta dos
advogados criminais e por nós assinada", afirmou Dias em mensagem a outros
advogados.
Arnaldo
Malheiros, que também atuou no caso, afirmou que as críticas feitas por Thomaz
Bastos devem definir os próximos passos dos advogados. "Não podemos
esmorecer, vamos à luta!", escreveu o advogado.
Provas.
Um dos pontos que mais incomodaram a banca foi o que consideram inversão do
ônus da prova. No julgamento, alguns ministros afirmaram, por exemplo, que a
defesa teria de comprovar a veracidade de um álibi. Caso contrário, a acusação
seria levada adiante. Os advogados também protestaram contra o uso de indícios
como provas.
Em
seu artigo, sem mencionar o mensalão, Thomaz Bastos diz que houve
"retrocesso de décadas de sedimentação de um Direito Penal". E
critica indiretamente argumentos usados pelos ministros do STF: "Quando
juízes se deixam influenciar pela 'presunção de culpabilidade', são tentados a
aceitar apenas 'indícios', no lugar de prova concreta produzida sob
contraditório. Como se coubesse à defesa provar a inocência do réu!".
O
advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, escreveu que a avaliação
feita por Thomaz Bastos é um alento para os advogados. "Dificilmente eu
poderia encontrar uma maneira de dizer como ainda é possível acreditar no
homem, na nossa luta, no Direito, enfim, continuar acreditando que vale a
pena."
Encerrado
o julgamento do mensalão, os advogados dos 25 condenados aguardam a publicação
do acórdão para recorrer da decisão. E Thomaz Bastos já mostrou que os
advogados farão tudo o que for possível para reverter a decisão do Supremo.
"Como ensinava Rui Barbosa, se o réu tiver uma migalha de direito, o
advogado tem o dever profissional de buscá-la. Independentemente do seu juízo
pessoal ou da opinião publicada, e com abertura e tolerância para quem o
consulta. Sobretudo nas causas impopulares, quando o escritório de advocacia é
o último recesso da presunção de inocência."
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