quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Gravado por Jorge Aragão, samba de Niemeyer critica "arquiteto capitalista"


ITALO NOGUEIRA
FOLHA/DO RIO

O samba inédito escrito em 1962 pelo arquiteto Oscar Niemeyer, morto nesta quarta aos 104, critica arquitetos que constroem edifícios "para agradar ao turista" e "deixa o pobre de lado". Na voz do cantor Jorge Aragão, a gravação da música foi presente de aniversário no ano passado.

Niemeyer sempre foi fã de Jorge Aragão e, há oito anos, foi pela primeira vez à casa de shows Canecão para assistir a um show dele, conta o cantor. No ano passado, Aragão foi convidado pelo arquiteto para dar voz ao samba.

"Queria que eu desse uma olhada, uma revisada. Consciente de que as coisas mudaram, a política, o Lula tinha chegado ao governo. Achava que o samba estava defasado e queria mudar alguma coisinha. Pediu para ver se eu podia fazer uma revisão e, porventura, gravar para ele. Não mudei a estrutura, mas organizei as figuras de palavra. Ajustei muita pouca coisa", disse Jorge Aragão à Folha.

Aragão diz que entregou a gravação feita no ano passado, no aniversário de 104 anos do arquiteto. A música nunca havia sido divulgada, disse ele. Ela está no YouTube, no perfil do produtor gráfico da revista "Nosso Caminho", Rodrigo Almeida de Paula.

"Ele [Jorge Aragão] foi entregar a gravação e só tinha o meu laptop para gravar. Acabou ficando lá e depois pedi autorização para publicar [no Youtube]. Mas nunca teve uma grande divulgação".

Confira a letra da música:

Samba do arquiteto

O que é que você fez
Desde que está diplomado
O que é que você fez
Para se ver realizado
Trabalha, ganha dinheiro
Anda bem alimentado
Nada disso, companheiro
É grande para ser louvado

Você só fez atender
Ao governo materialista
Que faz obra para se ver
Para agradar ao turista
Que deixa o pobre de lado
Que tira o pobre da lista
Da lista dos seus pseudos
Amigos capitalistas

São escolas, hospitais
Teatros, apartamentos
Construções industriais
Verdadeiros monumentos
Tudo isso pobre vê
Vê e não pode tocar
Perdido por essas terras
Que não pode cultivar
Sem ter livros para aprender
Sem ter casa para morar
Sem ter um olhar amigo
Um ombro para se encostar

Mas se voce é honrado
Não deve se conformar
Ponha a prancheta de lado
E venha colaborar
O pobre cansou da fome
Cansou de tanto esperar
E vai partir para a luta
Que Cuba soube ensinar

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