Por Jean Wyllys
O vice-presidente, um velho operador político do
PMDB que estes anos todos foi muito bem pago pelo poder público para atuar como
garantia da coligação desse partido com o PT (coligação cujo custo o PT está
pagando), acha que ninguém vai perceber que, se o problema dele fosse a
"desconfiança" da chefe Dilma com relação a ele e ao PMDB, seu
partido, ele deveria ter enviado essa carta há uns bons anos, né não? Ela está
chegando muito atrasada porque tem, na verdade, outro objetivo: deixar bem
claro que Temer está disposto a assumir a Presidência. É uma mensagem para a bancada
do PMDB no Congresso, para a oposição de direita que poderia compor um governo
de transição com ele, para os jornais, para os mercados e, talvez, para o
próprio PT, que entenderá que o preço para evitar tudo isso será caro, muito
mais caro ainda do que foi, até agora, a "lealdade" dos seus supostos
aliados.
Percebam que Temer "corta na carne" e cita
negativamente Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, que se aproximou do
governo do PT e se coloca cada vez mais frontalmente contra Eduardo Cunha (PMDB),
desde que o presidente da Câmara tentou cortar suas asas no seu reinado. A luta
interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil!
O jornal O Globo, insuspeito de governismo, admitiu
pela boca de Waack que o governo está "destruindo o que há de base
jurídica para o impeachment". Mas a questão não é essa: esse impeachment
não tem a ver com as pedaladas fiscais (e muito menos com os verdadeiros
defeitos desse governo, que provocaram sua perda de popularidade); não é isso
que o motiva, mas apenas uma luta pelo poder protagonizada por uma facção
política que despreza a democracia, liderada por um bandido com contas na
Suíça. Em entrevista nessa segunda-feira, Cunha disse que o Brasil passa por um
problema grave e relacionou isso com o fato de que há "crises internas nos
partidos". Essas crises internas (a luta descontrolada pelo poder que ele,
Temer e outros protagonizam) estão passando por cima das instituições, da
Constituição e das regras de jogo democráticas.
Será que, depois de chantagear o governo do PT para
evitar sua cassação no Conselho de Ética da Câmara, ele resolveu chantagear os
próprios parlamentares do PMDB que estão se dividindo quanto à ideia de
emplacar um impeachment a qualquer custo? (leia-se: um golpe branco,
pressionado pelo poder das grandes corporações e do grande capital).
O cenário político inspira estado de alerta para
movimentos sociais, ONGs, associações políticas, sindicais e para a população
em geral. Precisamos ficar atentos à manutenção inegociável das instituições
democráticas. Não se trata de defender o governo Dilma, que é indefensável por
muitos motivos. Trata-se de defender a democracia e de impedir que a quadrilha
que já tomou o parlamento, impondo uma agenda conservadora e fascista de
retrocesso civilizatório e perda de direitos, tome totalmente o poder
institucional e nos afunde num período sombrio e perigoso no qual todas as
liberdades e todas as conquistas sociais do Brasil pós-ditadura podem estar em
perigo.
Foto: Ed Ferreira / Estadão Conteúdo
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