domingo, 6 de março de 2016

A caminho de um novo golpe? Momento de relembrar o golpe militar de 1964 celebrado em editorial do jornal O Globo

Um domingo, dia 06 de março, de muitas perguntas e incertezas. Que rumos tomará o Brasil, a partir de agora? A tensão está nas ruas. Os conflitos entre apoiadores e opositores do governo devem se intensificar nos próximos dias. O Brasil pós-condução coercitiva do ex-presidente Lula está, portanto, mais dividido. Os que defendem o golpe e sonhavam com a condução de Lula pela PF, não imaginavam que estariam despertando a militância petista e de partidos aliados ao governo para o retorno às ruas, em solidariedade ao ex-presidente e à presidente Dilma. O tiro saiu pela culatra. Em vez de desmoralizar o ex-presidente, fez com ele ficasse mais fortalecido e encorajado a comandar o movimento contra o golpe.

O que preocupa é a volta dos militares às ruas, como em 1964, quando foi perpetrado o golpe militar, com a deposição de João Goulart, presidente legitimamente eleito. Grande parte da imprensa deu apoio ao golpe. O enredo parece estar se repetindo, com as notícias que dão conta do estado de alerta nas Forças Armadas para entrarem em ação a qualquer momento para conter a ação de movimentos que defendem o governo Dilma e o ex-presidente Lula. Mais uma vez, a Globo está por trás de toda essa movimentação contra a democracia e o Estado Democrático de Direito, com a força do juiz da Lava Jato.

O movimento golpista marcou manifestações em todo o Brasil para o próximo dia 13. Coincidentemente, a mesma data do tal ‘Comício das Reformas’, ocorrido no dia 13 de março de 1964. Juntamente com o levante dos marinheiros, no dia 25 de março, foi um dos eventos que antecederam o golpe, perpetrado na madrugada do dia 31 de março. Após a derrubada de Goulart, foi implantada a censura aos meios de comunicação e teve início a perseguição a lideranças políticas, sindicais e intelectuais. O filme parece estar se repetindo.

O momento é propício para relembrarmos o posicionamento histórico e irreparável do jornal O Globo, da família Marinho, durante o processo que removeu, à força, um governo democraticamente eleito e instaurou uma ditadura militar no Brasil. Na foto abaixo, a capa do jornal O Globo, celebrando o “ressurgimento da democracia”, um dia após o Golpe Militar.

Editorial de “O Globo” do dia 02 de abril de 1964

“Ressurge a Democracia”

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

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